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Rui Leite | "MST me levou a me encontrar como sujeito político e como LGBT”

Rui Leite participa de sua segunda marcha com o MST, que o ajudou a parar de reprimir sua homossexualidade

Brasil de Fato | Distrito Federal |
Rui é pedagogo e atua como professor da Educação Infantil na escola rural Paulo Freire, no assentamento Palmares, próximo Juazeiro (BA)
Rui é pedagogo e atua como professor da Educação Infantil na escola rural Paulo Freire, no assentamento Palmares, próximo Juazeiro (BA) - Julia Dolce

Rui Leite, de 30 anos, é brigão. Militante da juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sua atuação se equilibra entre a disciplina e a rebeldia, contribuindo com a construção da reforma agrária popular sem abrir mão de bater de frente com os dirigentes quando sente que sua participação e de seus colegas poderia ser mais efetiva. Mas não foi sempre assim. Antes de envolver-se com a luta popular, Rui se descrevia como acanhado e retraído.

“O MST, além da luta pela terra, por água, enfim, tem outras lutas pela vida digna. Inclui a igualdade, inclusive de gênero, e eu me vi nessa luta. Era o que faltava. Eu me reconhecer e me inserir no processo de luta”, conta. “Quando eu entrei no movimento eu ainda… assim, eu me reconhecia como sujeito LGBT, mas eu era, assim, na minha. Mas as linhas políticas que o MST já discutia, mesmo sem um coletivo formalmente formado, me levou a eu me assumir. Houve a necessidade disso, de me afirmar como sujeito político, inclusive para que eu me defenda de algumas coisas. Me tornei mais confiante, passei a afirmar minhas opiniões e posições”, completa.

Hoje, ele é pedagogo e atua como professor da Educação Infantil na escola rural Paulo Freire, no assentamento Palmares, próximo a sua cidade, Juazeiro, onde ajuda outros jovens a se encontrarem, seja qual forem suas identidades, sonhos e expectativas –“todas as pessoas devem ser sujeitos políticos”, frisa.

Na Marcha Lula Livre, que há dois dias percorre rodovias do estado de Goiás e do Distrito Federal com rumo a Brasília para defender o direito de Luiz Inácio Lula da Silva se candidatar a presidente, organiza um tipo de “acampamento paralelo” com a juventude, que marcha reunida e monta suas barracas em conjunto, independente da organização por estados, como é o normal entre os demais marchantes.

“Nós estamos compartilhando nossas vivências, discutindo questões políticas específicas da juventude, como, por exemplo, mais espaço de participação política. Por exemplo, todos que estão aqui foram eleitos pelos seus próprios coletivos, não foram indicados por dirigentes que não integram a juventude. Isso foi uma conquista nossa, que cobramos isso”, diz. “Mas claro que aqui é Bahia!”, ressalta.

É a segunda vez que ele marcha com o MST. A primeira, em 2015, foi uma marcha de Feira de Santana a Salvador, com o lema “Mulheres contra o machismo! Mulheres contra o capital!”, o ato político protestou contra a violência doméstica e o modelo do agronegócio, cuja característica predatória desmonta comunidades e também as relações entre as pessoas no campo. Trata-se de uma campanha permanente, sem horizonte próximo de vitória definitiva, mas Rui acredita que a luta vale por si mesma. O mesmo vale para a Marcha Lula Livre, que chega a Brasília em 15 de agosto.

“Todo marchante espera a vitória, espera Lula livre. Todos estão almejando chegar lá, se reunir com os demais e concretizar a candidatura de Lula e o seu direito de estar livre para fazer campanha. E, de qualquer forma, como toda luta, a marcha tem seu êxito próprio, mesmo que não conquistemos 100%, a luta vale a pena”, pondera.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira