Marchantes

Quilombolas marcham por Justiça e contra a mineração exploratória em Minas Gerais

Estudantes de Araçoais, norte do estado, denunciam a contaminação das água e prisão ilegal de líder quilombola

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
As estudantes Miriam Santos Souza, de 15 anos, e Diane dos Santos Dias, de 17 anos, moram no Quilombo do Bau, em Araçoais (MG)
As estudantes Miriam Santos Souza, de 15 anos, e Diane dos Santos Dias, de 17 anos, moram no Quilombo do Bau, em Araçoais (MG) - Foto: Juca Guimarães

A Marcha Lula Livre, que segue para Brasília, com o objetivo de garantir o registro da candidatura de Lula à eleição para a Presidência é uma inciativa de diversos movimentos sociais. Muitos dos marchantes também denunciam casos de prisões injustas, assim como a do ex-presidente.

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As estudantes Miriam Santos Souza, de 15 anos, e Diane dos Santos Dias, de 17 anos, moram no Quilombo do Bau, em Araçoais, no norte de Minas Gerais. O quilombo é centenário e existe uma luta de dez anos pela regulamentação das terras, que se dividem em área rural e urbana. "A certificação da terra a gente já tem. Agora só falta o documento oficial", esclarece Diane.

Na região rural, as águas do córrego que abastece o quilombo foram contaminadas pelos rejeitos de uma empresa de mineração de pedras semipreciosas e granito. "Tá tendo muitos problemas no fígado e em outras partes do corpo. Várias crianças estão com problema de saúde e tem que ir tratar na cidade", completa a jovem.

Os quilombolas tentaram impedir a contaminação das águas. "Tem um laudo que comprova que o córrego acabou por causa da mineração. A mineradora sabe disso. Ela já saiu de lá uma vez, quando a gente conseguiu tirar, mas agora voltou".

Além do problema com a água contaminada, os moradores do quilombo estão lutando contra a prisão injusta da principal liderança da comunidade, que foi incluído no programa de proteção às pessoas ameaçadas de morte. Antônio Baú, presidente da associação, foi preso por porte de arma e condenado a três anos e meio de prisão.

"Foi uma prisão injusta. Foi uma armação feita com a polícia e com os fazendeiros. Ele estava sendo ameaçado e como ele é protegido pelos Direitos Humanos, ele foi com uma arma [para se defender] e atravessou uma ponte para a cidade. E a polícia já estava lá esperando ele", explica a estudante.

Antônio Baú já vinha recebendo ameaças de morte há muito tempo e foi a primeira vez que tinha saído de casa com uma arma. "Foram mais de três ameaças. A principal dizia que tinha uma bala esperando o peito dele na hora que ele atravessasse. Disseram que iam entrar dentro do quilombo, colocar todos os quilombolas de cabeça abaixada e quem levantasse ia receber tiro. Ele seria o primeiro", relembra.

Antônio Baú estava na lista de proteção do governo há seis anos, mas isso não impediu que as ameaças contra a sua vida parasse. Além disso, os quilombolas suspeitam dos interesses da juíza que condenou o líder quilombola. "Teve um primeiro julgamento com sentença de três anos e seis meses e a gente está tentando recorrer. Foi uma juiza que tem ligação com os fazendeiros e foi a mesma que negou os pedidos de habeas Corpus", acredita Diane.

Desde a prisão, a comunidade  faz uma campanha pela libertação do líder quilombola. Foi feito um abaixo-assinado, que está percorrendo a Marcha Lula Livre, e uma mobilização no Facebook pela página Quilombo do Baú e a hashtag #LibertemAntonioBau.

Atividades musicais

Alguns dos membros do quilombo criaram um projeto cultural para ensinar música e história africana na cidade, com o objetivo de ajudar a combater o racismo na região. A estudante Miriam Santos, de 15 anos, que veio com a Diane para a Marcha, participa há um ano do projeto chamado "Grupo de Percussão Conexão África e Engenho", que há dez anos oferece aulas gratuitas.

"A gente tenta levar cultura para as crianças. Não tem idade. A gente ensina os toques e tenta tirar as crianças que ficam na rua. A gente faz por amor mesmo à cultura", revela Miriam.

Atualmente, o projeto atende a 20 alunos. "A gente toca alguns ritmos do candomblé e músicas de raízes africanas e batucada", diz. Mas, elas querem ampliar e estão em busca de incetivo ou parceria com o governo.

Edição: Cecília Figueiredo