Documentário

Cinema gaúcho retrata os caminhos do golpe

Filmes juntam-se à onda de produções que percorrem os caminhos do golpe político-jurídico-midiático de 2016

Porto Alegre (RS) |
Já Vimos Esse Filme retrata a divisão do país simbolizada pelo muro colocado no gramado da Esplanada dos Ministérios
Já Vimos Esse Filme retrata a divisão do país simbolizada pelo muro colocado no gramado da Esplanada dos Ministérios - Divulgação

Concebidos a partir de Porto Alegre, capital com história na defesa da legalidade e da democracia, ambos chegam à tela do Cinebancários, em Porto Alegre, neste mês de agosto. GOLPE (70 minutos), de Guilherme Castro e Luiz Alberto Cassol, ganha exibição nos dias 14, 15 e 16 e Já Vimos Esse Filme (78 minutos), de Boca Migotto, tem lançamento no dia 24 no mesmo espaço e mais na Casa da Democracia, em Curitiba.

Continua após publicidade

Os documentários reúnem testemunhos de cientistas sociais, historiadores, jornalistas, artistas e ativistas de movimentos sociais. Analisam desde o sistema eleitoral, até a influência do judiciário, da mídia e das redes sociais na crise política.

GOLPE faz uma cronologia e reflexão sobre os fatos que culminaram na deposição de Dilma e na prisão de Lula.  “O documentário parte de um conceito narrativo de que vivemos em meio a uma sociedade midiática, onde o fluxo de imagens e informações é tão intenso, que dificulta uma interpretação clara, ainda mais nesse esquema das bolhas, que propiciam a desinformação”, pontua Castro. “Como cineasta - continua - me deparo constantemente com o seguinte impasse: que imagens produzir num ambiente que tem câmera por todos os lados?” Seu objetivo é apresentar uma narrativa consistente e que contribua para a discussão política.

País sem memória

Produzido por um coletivo interdisciplinar em defesa da soberania popular, o documentário Já Vimos Esse Filme retrata, também, a divisão do país simbolizada pelo muro colocado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia da votação na Câmara que consagrou o golpe. O diretor ouviu tanto manifestantes pró-impeachment, quanto da resistência ao golpe. Ele entende que os apoiadores da ruptura democrática não assistirão ao filme. “Hoje - diz Migotto - mesmo com todas as evidências de que houve um golpe, eles se agarram a fatos aleatórios, evitando uma análise conjuntural. Só para justificar que estavam certos”.

Já Vimos Esse Filme ainda estabelece um paralelo com o quadro político de 1954 e de 1964. Ou seja, com a tentativa de golpe contra Getúlio Vargas e, dez anos depois, quando as mesmas forças derrotadas conseguem derrubar João Goulart e implantar a ditadura militar.

Questionado se o Brasil está fadado a repetir a sua história, o diretor argumenta que a história é cíclica. “Ela tem nos mostrado que, sempre que avançamos um pouco, em seguida, acontece um retrocesso e, dessa forma, repetimos o curso da história”, sustenta. “E isso normalmente acontece com povos que não valorizam memória, educação e cultura”, acrescenta. Seu propósito é registrar para as gerações presentes e futuras as semelhanças entre os golpes políticos no Brasil e a fragilidade da formação democrática da sociedade.

Serviço

Já Vimos Esse Filme (78 minutos). Direção: Boca Migotto.  O lançamento do documentário acontecerá no dia 24 de agosto, às 21h, de forma simultânea no CineBancários, na Casa da Democracia, em Curitiba, no Youtube, no portal Brasil 247 e na Mídia Ninja. A data marca a morte de Getulio Vargas, em 1954.

Golpe (70 minutos). Direção: Guilherme Castro e Luiz Alberto Cassol - 14, 15 e 16 de agosto às 19h no CineBancários.

Nove títulos sobre o tema

Outros diretores também dirigiram seu olhar para o golpe à brasileira. A relação inclui, pelo menos, nove títulos, a saber: Filme Manifesto – O Golpe de Estado, de Paula Fabiana; Excelentíssimos, de Douglas Duarte; O Processo, de Maria Augusta Ramos; Brasil: O Grande Salto para Trás (Brésil: Le Grand Bond en Arrière), das diretoras Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux; Tchau, Querida, documentário produzido pelos Jornalistas Livres e dirigido por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla; O Muro, de Lula Buarque de Holanda; Esquerda em Transe, Renato Tapajós. E os inéditos Alvorada, de Anna Muylaert e Impeachment: Dois Pesos, Duas Medidas, de Petra Costa.

Edição: Marcelo Ferreira