Saúde

Com o fim da greve de fome, militantes seguirão leve dieta de reintrodução alimentar

Os sete grevistas realizaram primeira refeição logo após o encerramento de ato de solidariedade, neste sábado (24)

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Numa mesa com frutas e água, militantes compartilharam a primeira refeição acompanhados pelos profissionais de saúde
Numa mesa com frutas e água, militantes compartilharam a primeira refeição acompanhados pelos profissionais de saúde - Lu Sudré

Após 26 dias em greve de fome, os sete militantes de movimentos populares anunciaram o encerramento do jejum neste sábado (25), durante um grande ato político em solidariedade ao protesto, no Centro Cultural de Brasília (CCB), local onde os grevistas ficaram alocados durante todo o período da abstenção alimentar. 

No ato, que iniciou por volta das 11h, os grevistas apresentaram um manifesto oficializando o fim do jejum alimentar. No documento, eles afirmam que a greve cumpriu o objetivo e contribuiu com a luta pelo enfrentamento aos retrocessos sociais que vem acontecendo no país. 

“Nos sentimos vitoriosos, pois assim se sentem os povos que lutam, e tivemos acúmulos importantes para o conjunto da luta popular”, diz um dos trechos.

Mesmo com o fim do protesto, em decorrência da grande debilidade física que os ativistas se encontram pela abstenção alimentar, os os sete militantes garantiram que a mobilização seguirá nas ruas para que o Supremo Tribunal Federal (STF) coloque em pauta a votação das ações declaratórias de Constitucionalidade (ADCs). A análise desse instrumento jurídico e sua aprovação poderia libertar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva e outros milhares de brasileiros, presos sem direito à ampla defesa, contrariando o que determina a Constituição. 

Desjejum

Ao fim da manifestação, os grevistas protagonizaram um emocionante momento ao compartilhar o pão entregue por uma criança. Este foi o primeiro alimento que ingeriram nos últimos 26 dias. Ao saírem do auditório do CCB, os sete militantes encontraram uma mesa com frutas e água, onde puderam fazer a primeira refeição, acompanhados pelos profissionais de saúde.

O próximo passo dos grevistas é fazer uma cuidadosa reintrodução alimentar. Em entrevista ao Brasil de Fato, Ronald Wolf, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP) que acompanhou os militantes desde o início, relatou como esse processo deverá acontecer.

“Vamos fornecer alimentos leves para que eles façam a ingestão em pequenas quantidades, várias vezes ao dia. Ao longo de uma semana, eles farão um escalonamento crescente da diversidade da alimentação, até chegar ao considerado normal”, explica Wolf.

Segundo o médico, o último grupo da fase de reintrodução alimentar será o das proteínas animais, "que agora, neste momento, estão contra-indicados".

Wolf explicou que a falta de energia dos militantes da greve de fome, o estado de inatividade do tubo digestivo, não permite a ingestão de proteínas. "Caso ingerissem proteínas poderiam ter um alto risco de complicações, como diarreia, dores e outros prejuízos ao estômago”, detalha.

A partir da experiência de outras greves de fomes e dos acompanhamentos médicos constantes, foi produzida uma cartilha de orientação para a reintrodução alimentar, entregue aos grevistas e suas respectivas famílias.

Os sete militantes farão exames de controle e, assim que retornarem aos seus estados, manterão por um período avaliações de saúde regulares. 

Apesar do acompanhamento, Wolf está confiante que nenhum dos grevistas apresente problema de saúde.

“A inatividade do tubo digestivo durou 26 dias, mas é um tubo que não nasceu agora. Já tinha uma ingesta alimentar diversificada. O organismo deles tem a memória da alimentação, além da necessidade. Claro que todas as células do corpo e todo o organismo foram afetados [durante a greve de fome], a reintrodução da dieta deve ser de forma lenta agora, mas é algo mais simples”, esclarece o médico.

Além da saúde física, ao longo da greve também houve uma forte preocupação com a saúde mental dos grevistas, que também seguirão acompanhados por psicólogos.

“A recepção na cidade deles será o principal ingrediente que dará essa nutrição emocional. A afetividade, a questão da emoção. Nós [médicos] e os psicólogos e psicólogas, que aqui estivemos todo esse tempo, conversamos sobre isso. Entendemos que esse afago, essa recepção, que essa onda de energia positiva para eles é mais importante do que nós, profissionais da saúde”, destaca Wolff. 

De acordo com a organização da greve, o saldo do movimento é vitorioso por ter conseguido colocar pressão política sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Judiciário como um todo, fazer o debate com a sociedade sobre as consequências do golpe e animar a luta em defesa da democracia. 
 

Edição: Cecília Figueiredo