Minas Gerais

Audiência pública

Camelôs de BH se dizem abandonados e oprimidos por política da prefeitura

Há um ano, PBH retirou ambulantes das ruas e os alocou em shoppings populares

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
A audiência pública aconteceu na quarta (29), na Câmara Municipal de Belo Horizonte
A audiência pública aconteceu na quarta (29), na Câmara Municipal de Belo Horizonte - Foto: Abraão Bruck/CMBH

Os vendedores ambulantes da capital mineira realizam mais uma ação para divulgar as dificuldades que vêm passando. Em julho de 2017, cerca de 1.200 trabalhadores foram expulsos das ruas do centro de Belo Horizonte, mediante a Operação Urbana Simplificada. Eles denunciam que, atualmente, as vendas são insignificantes e que são obrigados a pagar taxas mais altas que o prometido.

A audiência pública aconteceu na quarta (29), na Câmara Municipal, mediante requerimento das vereadoras Áurea Carolina (PSOL) e Cida Falabella (PSOL). O objetivo foi realizar o balanço de um ano do Plano de Ação do Hipercentro e da Operação Urbana Simplificada. Durante as falas, a insatisfação dos camelôs foi marcante.

A caixeira Vânia Lúcia dos Santos conta que, no final do dia, ela e colegas chegam a ir para casa com menos de R$ 20. O maior problema é a falta de público consumidor dentro dos shoppings populares em que os camelôs foram alocados. Na opinião de Vânia, a falta de emprego e renda está extrema. “Por que temos que mendigar às autoridades que me deixem trabalhar?”, questiona. “Eles [Estado] esperam a pessoa entrar em depressão, entrar na criminalidade, para depois abandonar ela na cadeia ou na fila do SUS”, completa.

Os ambulantes acusam ainda que a administração do Shopping Uai Venda Nova e do Shopping Uai Centro estão cobrando taxas extras do consumo de energia, por volta de R$ 30 por mês. Segundo a advogada popular Thaís Console, as taxas extras (condominiais) são abusivas, já que não constam no contrato. Boxes também estariam sendo fechados de forma compulsória.

Respostas

O representante da Mais Invest, uma das empresas proprietárias dos shoppings que receberam os camelôs, Bernard Martins, afiança que o estabelecimento não está sendo beneficiado pela política da PBH. Ele nega que o potencial construtivo adicional oferecido pela Prefeitura seja rentável, na comparação com os gastos com a alocação dos trabalhadores. A Mais Invest está presente em sete estados e envolvida em outras operações urbanas.

O subsecretário de fiscalização da PBH, José Mauro Gomes, anuncia que a prefeitura busca parceria com entidades e órgãos públicos para aumentar o fluxo de pessoas nos shoppings populares. O INSS, a Guarda Municipal e a Secretaria de Saúde estão sendo convidados a instalar unidades de serviços nos shoppings. O subsecretário anuncia também o lançamento de uma licitação de 156 vagas para ambulantes com deficiência, a acontecer nos próximos dois meses.

Diferentes dignidades

Em vários momentos, representantes de entidades comerciais e do poder público defenderam que os trabalhadores de rua têm agora mais dignidade, pois nos shoppings populares podem ter acesso a banheiro, à proteção de sol e chuva, à segurança. Porém, os ambulantes discordam. A camelô Quênia Ribeiro relata que foi expulsa de casa aos 17 anos por ser lésbica e encontrou no trabalho de rua uma forma de viver. “Sabe como que a rua não me daria dignidade? Se eu fosse moradora de rua e não tivesse possibilidade de trabalhar e ter os meus direitos”, protesta. A dignidade que Quênia busca, hoje, é a de sustentar sua família e não ter medo de que prendam sua mercadoria a qualquer momento. 

Feiras Livres

Os trabalhadores de rua voltaram a defender a proposta feita desde o início da Operação Urbana: as feiras livres. Através o manifesto “A Rua Vive” eles reivindicam a instalação de feiras livres e corredores populares, tanto no centro quanto em outras regionais, praças e quarteirões fechados. Defendem também o licenciamento dos pontos para camelôs-fruteiros, para camelôs com deficiência, pipoqueiros, caixeiros e vendedores de água.

Edição: Joana Tavares