Humanização

Mudanças nos processos hospitalares das maternidades diminuem ocorrências de cesáreas

Especialistas apresentam boas práticas ligadas à iniciativa privada e ao SUS em simpósio sobre parto humanizado

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |
Grupos de apoio trazem segurança para gestantes
Grupos de apoio trazem segurança para gestantes - EBC

Sem realizar grandes mudanças estruturais, a maternidade da Santa Casa de São Carlos, parte do Sistema Único de Saúde (SUS), conseguiu diminuir o número de cesáreas realizadas e aumentou os partos normais humanizados. O hospital tem realizado, desde abril de 2016, um trabalho de assistência às gestantes que contribuiu para aumentar o número de mães que preferem o parto normal.

Presente no V Simpósio Internacional de Assistência ao Parto que ocorre até dia 9 de setembro em São Paulo (SP), o médico e coordenador da maternidade da Santa Casa de São Carlos, Humberto Hirakawa explica o processo que melhorou não só os partos, mas a qualidade do serviço público oferecido.

"Basicamente o que a gente fez foi reorganizar o processo de trabalho. A gente tinha um parto médico centrado e a organização de trabalho era basicamente plantão. A mudança mais significativa foi isso: partir para um trabalho multiprofissional onde você tem médicos e enfermeiras obstetrícias cuidando das pacientes em trabalho de parto". 

Esse suporte às gestantes tem feito crescer o número de partos normais na maternidade. Em agosto de 2017, os partos normais eram metade dos realizados, já em fevereiro deste ano, foram 73% dos procedimentos realizados.

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Hirakawa ressaltou ainda que a mudança focou os processos e não a estrutura, que muitas vezes é usada como desculpa para gestores que não querem sair da zona de conforto. Os plantão seguia um modelo tradicional e passou a ser horizontalizado, assim, a equipe cria mais facilmente laços e segue como uma referência para os pacientes.

"A gente conseguiu reduzir de 65% para 30% a taxa de cesária, acompanhado de uma melhora no índice de satisfação as parturientes e melhora nos indicadores de mortalidade e morbidade perinatal e materna". Outro resultado positivo da mudança de processo que incluiu também uma política mais humanizada foi a queda de admissão de bebês na UTI neonatal. 

Com 55% dos nascimentos via cesariana no SUS e 85,5% na saúde privada, o Brasil é vice-campeão de cesáreas no mundo, atrás apenas da República Dominicana (56,4%). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que o máximo aconselhável seria de 15% dos nascimentos por via cirúrgica, já que o alto índice de cesáreas traz prejuízos para a saúde da mãe e do bebê. Segundo análise da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o ideal para o Brasil dentro da medicina privada seria uma taxa entre 25% e 30% de cesáreas. 

A obstetra Juliana Sandler buscou entender em seu estudo sobre assistência humanizada a realidade de algumas mães que fazem parte do grupo mais propenso a fazer uma cesariana desnecessária no setor privado. "Todas as pesquisas que mostram as taxas de cesarianas com relação ao nível socioeconômico mostram no Brasil que mulheres da classe econômica mais alta, cor branca, com alto índice de escolaridade são as que estão sendo mais direcionadas para a cesárea". 

Segundo a médica, 15% das gestantes de serviços públicos manifestam o desejo por cesárea no início da gravidez e  esse número não sobe ao longo da gestação. Já 36% das gestantes dos serviços particulares manifestam o desejo por cesárea no início da gestação, e no fim, o número sobe para 67%.

Com sua pesquisa, Sandler mostrou que ao buscar grupos de apoio e mais informações, essas mulheres revertem as estatísticas de cesárea. No grupo de cerca de 500 mulheres estudadas desse grupo, apenas 15% realizou cesárea. "O que mostra o meu resultado é que as mulheres precisam pesquisar e ter busca ativa para não cair na estatística da cesárea".

Parto seguro e humanizado

"Um parto com respeito" essa é a definição de "parto humanizado" para a obstetriz e idealizadora do Siaparto, Ana Cristina Duarte. Em consonância com o que apresentou Juliana Sandler, Ana Cristina acredita que o parto humanizado idealmente implica em uma mulher bem informada com direito a escolha.

Embora haja a ideia generalizada de que parto humanizado é um parto alternativo, isso não é verdade. Ela explicou que essa modalidade de parto é baseada em evidências e traz as melhores práticas e o melhor uso da tecnologia para se atingir um parto seguro.

"O parto seguro é um parto que a gente possa evitar o máximo possível intervenções desnecessárias porque cada intervenção adiciona risco, não existe intervenção sem risco". 

A segurança surge com um sistema obstétrico integrado, com um bom pré-natal, uma assistência onde quer que a gestante esteja. Ana destaca ainda a necessidade de profissionais que não sejam formados apenas para intervir, pois a maioria das mulheres não precisa de absolutamente nada para parir.

Edição: Tayguara Ribeiro