Veneno

"Limite de glifosato na Europa é 5 mil vezes menor que no Brasil", diz especialista

Durante palestra em Belém, Leonardo Melgarejo explicou os danos causados pelo alto consumo de agrotóxico no país

Belém (PA) |
Política Nacional de Redução de Agrotóxicos é uma tentativa de reduzir o uso de veneno nas lavouras brasileiras
Política Nacional de Redução de Agrotóxicos é uma tentativa de reduzir o uso de veneno nas lavouras brasileiras - MTS / Reprodução

Cidadãos brasileiros consomem cinco mil vezes mais veneno glifosato que moradores de países da Europa. A informação foi apresentada pelo engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo nesta quinta-feira (13) em Belém, capital paraense, durante palestra no auditório do Centro Social João Paulo II. O especialista alerta que só há possibilidade de mudança nesse cenário se a legislação incluir regras mais rigorosas sobre a utilização de agrotóxicos nas lavouras.

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“Na Europa, o limite máximo de resíduo de glifosato é 5 mil vezes menor que o limite de glifosato permitido no Brasil. Isso significa que nós podemos tomar uma água considerada potável que tem 5 mil vezes mais de um veneno que causa câncer, porque a nossa legislação aqui considera razoável”, denuncia.  

Vice-presidente da regional Sul da Associação Brasileira de Agroecologia, Melgarejo ressalta que os índices podem ser agravados em caso de aprovação do Projeto de Lei (PL) 6.299/2002, conhecido como PL do Veneno, cuja proposta está pronta para ser votada no plenário da Câmara dos Deputados.

Como contraponto aos esforços da bancada ruralista, existe um Projeto de Lei de iniciativa popular baseado na Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA), que propõe ações para a redução progressiva do uso de agrotóxicos.

No último dia 5, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a liberação para uso comercial de duas novas variedades de milho transgênicas com resistência ao glufosinato de amônio, glifosato, 2,4-D e isoxaflutole. “Ele permite o uso simultâneo de quatro tipos de veneno diferentes, e é claro que os agricultores que tem grandes extensões de áreas não vão passar quatro vezes com o trator para aplicar um de cada vez, porque isso vai compactar solo, vai gastar combustível, vai dar trabalho, vai custar tempo. Eles vão obter com essa mistura algo muito pior, porque agora serão quatro venenos juntos”, compara o agrônomo.

Apesar dos dados alarmantes, Melgarejo entende que a agroecologia tem se fortalecido em diversos territórios, e que a Amazônia é um dos últimos refúgios de preservação da vida.

O produtor rural André Rocha, de 39 anos, integra o setor de produção, cooperação e meio ambiente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Pará. Durante a palestra sobre os índices de consumo de veneno, o movimento anunciou a adesão do Pará à campanha nacional contra os agrotóxicos.

“Esse anúncio está ligado com a questão da agroecologia. Ela é o resgate do saber dos camponeses e camponesas, de cuidar no sentido mesmo da palavra agricultura, ou seja, de cultivar terra”, explica o agricultor.

Rocha enfatizou que o movimento tem construído e incentivado projetos com sistemas agroflorestais com base na agroecologia na região da Amazônia, além de promover espaços de debate e formação na região da Amazônia. A palestra desta quinta-feira (13) foi realizada pelo Comitê Estadual de Combate aos Agrotóxicos e pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida.

Atualização da matéria para correção da idade do entrevistado André Rocha

Edição: Daniel Giovanaz