Coluna

Uma maioria de mulheres: a importância dos 16% de votos indecisos, brancos e nulos

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21% das mulheres entrevistadas em pesquisa do BTG/Pactual não votarão, contra 10% dos homens
21% das mulheres entrevistadas em pesquisa do BTG/Pactual não votarão, contra 10% dos homens - Pedro Ribeiro Nogueira
Após conhecer as ideias de Bolsonaro, muitas mulheres voltaram atrás

A análise comparativa do perfil dos 16% de entrevistados que votam em branco, em ninguém ou indecisos nas pesquisas de intenção de votos, a primeira de 10 e a segunda, de 17 de setembro, realizadas pela BTG/Pactual, mostram que:

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- Os 2% dos votos em branco ou nulos são maioria na região sul, tornaram-se mais femininos, saíram da faixa etária até 40 anos, na primeira pesquisa, para se concentrar em de 25 a 40 anos na segunda pesquisa, e a faixa de renda foi reduzida de até 2 salários-mínimos (SM) para até 1 SM;

- Os 9% dos votos em ninguém são compostos, em sua maioria, por mulheres. Saíram da faixa etária acima de 60 anos em 10 de setembro, e se concentraram entre 41 a 59 anos, em 17 de setembro. Atualmente, estão na faixa de renda de até 2 SM, e tem números expressivos entre a população não economicamente ativa;

- Entre os 5% das pessoas que ainda não sabem em quem votar a maioria são mulheres; saíram da faixa etária de 16 a 24 anos na primeira pesquisa para a faixa etária de acima de 41 anos na segunda, têm até a 4ª série e renda de até 2 SM; Além disso, não estão mais concentradas na região norte e centro-oeste e agora se agrupam no nordeste e sudeste, e também não são economicamente ativas;

- Destaca-se o fato de que estão nesse grupo 21% do total das mulheres entrevistadas, assim distribuídas: 3% votarão em branco, 11% não votarão em ninguém e 7% ainda não sabem em quem votar. Já entre os homens, somente 10% do total de entrevistados está nesse grupo. Isso chama a atenção: por que as mulheres estão mais indecisas ou voltadas a anularem seus votos?

Para responder a essa pergunta, uma reportagem da Bol procurou essas mulheres para saber o que pensam e trouxe como indicativo um “descrédito em relação à política causada pelos escândalos recentes de corrupção”.

A narrativa propositalmente construída da corrupção como pauta central no Brasil traz riscos à democracia e isso pode ser creditado a diversos atores, passando essencialmente pela mídia, pelos políticos e pelo Judiciário.

Os riscos à democracia são o próprio descrédito da população, com afastamento de mecanismos importantes como o processo eleitoral, o enfraquecimento das instituições e ainda o da eleição de um representante de ideias não democráticas, que atenta contra direitos e grupos específicos.

A reportagem mostra ainda que foi exatamente isso que perceberam algumas das mulheres que estão indecisas. Elas iriam votar em Bolsonaro, mas decidiram por "#eleNão" após conhecerem seus posicionamentos.

Integrante de uma extrema-direita, por muitos caracterizada como fascismo, ele ataca, entre outros, os direitos das mulheres ao dizer que devem mesmo ganhar menos porque engravidam; que as mulheres nascem quando o homem fraqueja no sexo; ataca indígenas e quilombolas ao negar-lhes o direito à terra e dizer que não servem para nada; defende a tortura, a ditadura e o assassinato por motivos ideológicos.

É preciso que seja explicitado que essa eleição não tem a ver com esquerda versus direita, nem tem a corrupção como centralidade. Essas duas pautas estão sendo usadas com cortina de fumaça para a verdadeira questão: o momento é da social democracia versus o fascismo neoliberal. Este último, associa um modelo político ao econômico que reduz tanto os direitos civis e políticos quanto os sociais, por meio do corte de orçamento para políticas públicas.

A redução dos direitos afeta particularmente as mulheres por serem as maiores usuárias dos serviços públicos. É por isso que o posicionamento dessas mulheres que hoje estão indecisas ou que não pretendem votar em ninguém se torna tão significativo. São justamente elas que seriam as mais afetadas caso os cortes orçamentários continuem, mas também são elas que podem impedir uma fatídica eleição de Bolsonaro.

É preciso relembrar que faz apenas 85 anos as mulheres conquistaram o direito a voto no Brasil. É assustador pensar quão recente é esse direito, porque isso nos mostra que ele não está tão consolidado. É preciso seguir avançando - e alerta para não regredir. Infelizmente, essa eleição trata de não permitir retrocessos à democracia e à realização dos direitos.

Um redirecionamento do descrédito com as instituições e com a política é necessária para uma vitoriosa resistência das mulheres em defesa da democracia. Votar - esse é o caminho do compromisso com as recentes vitórias vindas de anos de muita luta de várias mulheres. E pelas mulheres que ainda virão.


 

Edição: Daniela Stéfano e Pedro Ribeiro Nogueira