Suplência

Os vices de 2018: quem vai tirar Michel Temer do Jaburu?    

Conheça as candidatas e candidatos a vice-presidente da República nas eleições deste ano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Candidatos a vice-presidente ganham destaque nas eleições de 2018
Candidatos a vice-presidente ganham destaque nas eleições de 2018 - Wilcker Morais

Em pouco mais de 30 anos desde a redemocratização do Brasil, três vice-presidentes assumiram a chefia do governo. O primeiro deles, José Sarney (MDB), foi elevado ao cargo de Presidente da República após a morte de Tancredo Neves, em 1985. Nas eleições seguintes, o Brasil elegeria Fernando Collor de Mello, que não terminou o mandato, devido a um processo de impeachment em 1992, quando então Itamar Franco (MDB), vice de Collor, assumiu o cargo máximo. Por último, o golpe de estado de 2016 levou ao poder Michel Temer (MDB), então vice da presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff. 

Por esses vai-e-vens da história recente do Brasil, os candidatos e candidatas a vice ganharam lugar de destaque nas eleições presidenciais de 2018, segundo análise do cientista político Pedro Fassoni.

“Todos nós sabemos que, diferente da ascensão do Sarney e do Itamar Franco, o Michel Temer chegou ao poder porque traiu o partido ao qual ele tinha se aliado. Então ele conspirou abertamente para derrubar a presidente Dilma e assumir o governo, com todo o apoio do setor majoritário, conservador, do PMDB. Então talvez por isso, por essa experiência ter sido traumática, se tenta agora fazer alianças com pessoas mais próximas no espectro político, até mesmo porque a polarização agora é muito grande. Não só em relação ao impeachment, mas em relação à reforma trabalhista, da previdência, do pré-sal, a ‘PEC da morte’, tudo isso faz com que as diferenças sejam muito mais acentuadas nesse momento”. 

Outro fator que chama a atenção nas composições de chapa é a opção por vices mulheres, ora elemento de afirmação, ora estratégia para capturar aquele que é conhecido como o voto mais cuidadoso das eleições brasileiras: o voto feminino. 

“São várias candidaturas, então não dá pra fazer uma explicação que caiba em todas as situações. É importante entender a especificidade. Por exemplo, o PSDB, impossibilitado de fazer uma aliança com o PMDB, que decidiu lançar candidatura própria, buscou outro partido, e o nome mais forte desse partido, que não está tão envolvida com corrupção, foi a Ana Amélia. Então, claro, é preciso fazer uma análise mais detalhada de cada situação específica. Em linhas gerais, o movimento feminista vem ganhando cada vez mais força, suas pautas estão cada vez mais pressionando os candidatos a se posicionarem, embora na verdade, é preciso levar em consideração que uma candidatura feminina não é necessariamente uma candidatura feminista. É o caso, por exemplo, de Ana Amélia, que está muito distante dessas mulheres que saem às ruas pedindo a legalização do aborto, a destruição do patriarcado, a criminalização do feminicídio. Ela tem um perfil de uma pessoa conservadora, identificada com a família tradicional”. 

Perfis

Com apenas 37 anos, Manuela D’Ávila (PCdoB) é a candidata a vice-presidente de Fernando Haddad (PT). Iniciou sua carreira no movimento estudantil, enquanto estudava jornalismo. Em 2005, foi a vereadora mais jovem a ser eleita em Porto Alegre (RS). Dois anos mais tarde, seria a deputada federal mais bem votada do estado do Rio Grande do Sul, desempenhando o cargo até 2014, quando se candidatou e venceu as eleições para deputada estadual. Além da pauta da juventude, Manuela tem um extenso histórico em defesa dos direitos das mulheres, negros, indígenas e comunidades LGBTI+. 

Ao lado de Ciro Gomes, a senadora pelo estado do Tocantins, Kátia Abreu (PDT), figura como vice. Nascida em Goiânia, ela é empresária e pecuarista e foi ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante os dois anos do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, tendo deixado o cargo após o golpe de estado em 2016. Presidiu a bancada ruralista do Congresso. Devido à forte crítica aos movimentos ambientalistas e por sua defesa do uso de agrotóxicos na agricultura, ganhou das mãos de Sônia Gujajara, candidata à vice pelo PSOL, o troféu “Motosserra de Ouro”. Em 2017, após fazer críticas ao governo de Michel Temer, foi expulsa do MDB. 

Sônia Guajajara (44 anos), compõe a chapa do PSOL à Presidência da República junto a Guilherme Boulos. A líder indígena nasceu na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão e é formada em Letras e Enfermagem. Foi membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Mãe de três filhos, Sônia é uma histórica defensora dos direitos dos povos tradicionais. 

O vice na chapa de Marina Silva (Rede) é o médico e ex-candidato à presidência, Eduardo Jorge (PV). Baiano de 68 anos, foi deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores em várias legislaturas, tendo sido coautor do texto constitucional que versa sobre o Sistema de Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social). Em 2014, foi candidato à presidência pelo Partido Verde. No segundo turno, apoiou o candidato do PSDB, Aécio Neves. 

Aos 65 anos de idade, o General Hamilton Mourão (PRTB), natural de Porto Alegre (RS) é o candidato a vice na chapa presidencial junto a Jair Bolsonaro (PSL). Durante a carreira militar, foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Deixou o serviço militar em 2018, indo para a reserva. Já durante a campanha eleitoral, causou polêmica ao dizer que, “em caso de anarquia, poderia haver um autogolpe do presidente com apoio das Forças Armadas” e exaltou a figura de Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-torturador do regime militar. Mourão provocou ainda um forte movimento de repúdio nas redes sociais, principalmente de mulheres, ao declarar que casa “só com mãe e avó é fábrica de desajustados”. 

A senadora gaúcha pelo Partido Progressista, Ana Amélia (73 anos), integra a chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República. Antes de 2010, quando foi eleita pela primeira vez a um cargo eletivo, nesse caso ao Senado, trabalhou como jornalista do Grupo RBS, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Disputou o governo do estado em 2014, mas foi derrotada. Foi uma das mais ferrenhas defensoras do golpe de estado em 2016. Causou polêmica ao incentivar a violência praticada por cidadãos de sua região contra a caravana realizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2018. “Atirar ovo, levantar o relho, mostrar onde estão os gaúchos”, disse na ocasião. Ela também virou tema de memes nas redes sociais, ao confundir a emissora de TV do Catar, Al Jazeera, com o grupo terrorista Al Qaeda
 

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira