Democracia

"Bolsonaro vai contra tudo o que somos", afirma conselheiro da Gaviões da Fiel

Torcida do Timão, que já teve Lula como samba-enredo, está "na luta contra um ditador"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Pulguinha, membro do conselho deliberativo da Gaviões da Fiel, falou sobre os riscos de um governo conservador para as torcidas
Pulguinha, membro do conselho deliberativo da Gaviões da Fiel, falou sobre os riscos de um governo conservador para as torcidas - Foto: Reprodução Youtube

A rejeição dos movimentos populares à candidatura de extrema-direita do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) tem crescido na reta final do primeiro turno da disputa eleitoral. E as torcidas organizadas de futebol estão engrossando a frente de luta contra a ameaça autoritária representada pelo candidato.

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A mobilização começou após o pronunciamento do presidente da Gaviões da Fiel, Rodrigo Gonzales Tapia, o Digão, quando, nesta quarta-feira (18), criticou os sócios que estão apoiando o Bolsonaro. "Vocês que apoiam um cara que vai contra todas as nossas ideias e joga no lixo o nosso passado de muitas lutas, por favor, se forem seguir apoiando esse cara, repense sobre sua caminhada dentro da Torcida", disparou.

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Nesta quinta-feira (20), o Conselho Deliberativo da torcida divulgou posicionamento oficial da Gaviões contra Bolsonaro (leia na íntegra). Em 2012, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), notório torcedor do Corinthians, foi o tema do samba-enredo da Gaviões. O desfile exaltou a figura do trabalhador que chegou à Presidência da República, representando a luta pela Democracia e pela Liberdade que está no DNA da torcida, fundada em 1969 em um cenário de resistência à ditadura militar e a ditadura dentro do Corinthians.

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Outras torcidas organizadas seguiram o chamado e se pronunciaram contra o candidato, como a Torcida Jovem, do Santos, que declarou em nota que "não vota em opressor."

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Pulguinha, membro do Conselho Deliberativo da torcida Gaviões da Fiel, concedeu entrevista ao Brasil de Fato e apresentou quais riscos à democracia e à liberdade presentes nas propostas de Bolsonaro fizeram a torcida se posicionar oficialmente.

"Apoiar o Bolsonaro é ir contra toda a história da Gaviões. É ir contra o que nós somos". Confira!

Brasil de Fato -- Por que a torcida se posicionou?

Pulguinha -- Os Gaviões têm uma linha de fundação. Tem uma linha ideológica com valores e conceitos trazidos desta fundação. E a democracia é uma questão que a gente preza muito. A gente não interfere em quem o nosso sócio vota, a gente não interfere em processo eleitoral, mas mediante o projeto deste candidato, a gente se preocupa sim. Na verdade, ele põe em risco a democracia do país.

Quais os riscos que o candidato de extrema-direita representa?

O partido deles aí tem um projeto de lei que restringe as torcidas organizadas. É contra todos os nossos conceitos, valores e forma de organização.

Foi uma surpresa ter torcedores da Gaviões apoiando o Bolsonaro?

É preocupante ver jovens da nossa torcida exaltando um ditador, um fascista assumido. A gente precisa ter muita paciência, muita calma e muita serenidade para estar conversando com o sócio no dia-a-dia.

A atual diretoria assumiu agora em 2018. Essa linha de debater questões política e sociais é uma marca da nova gestão?

A outra diretoria tinha a mesma linha, tanto que o Digão era vice-presidente e foi uma gestão que teve muito combate. Teve a questão da merenda [envolvimento dos governos do PSDB em São Paulo no caso de corrupção], da denúncia contra a Globo, da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] da PM [Polícia Militar].

Como foi a escolha do Lula como tema de samba-enredo, sendo ele um símbolo do pensamento progressista que é o oposto do conservadorismo de extrema-direita?

Tinha a proposta de muitos personagens na época, a diretoria que era a gente na época, optou pelo Lula porque enxergamos que o conteúdo de história dele é uma história bonita. Um operário que chega na Presidência da República.

Foi um posicionamento político?

Nem foi um tema escolhido por consciência política, essa  é a realidade, mas fortaleceu também muitos debates sobre a questão do trabalhador, internamente, mas foi uma coisa muito simbólica pela história dele.

Mas acaba virando um contraponto com a posição sobre o Bolsonaro?

É um contraponto sim. Uma hora a gente exalta um trabalhador e outra luta contra um ditador.

Edição: Diego Sartorato