Minas Gerais

Rua

Café coado na hora e a céu aberto para incentivar socialização entre as pessoas

Conheça o Mesa de Thereza, projeto que existe há quase dez anos em BH e já coleciona muitas histórias de coletividade

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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“É sobre olhar no olho do outro, compartilhar o espaço público, comer junto. É um convite à rua”, diz Thereza
“É sobre olhar no olho do outro, compartilhar o espaço público, comer junto. É um convite à rua”, diz Thereza - Foto: Daniela Goulart

No meio da cidade, Thereza põe a mesa. Ela posiciona as xícaras e começa a preparação do café, que tem que ser fresquinho, coado na hora, como manda a boa mineiridade. Devagar, as pessoas começam a se aproximar. Uma leva bolo, outra biscoito – talvez um pão, quem sabe? De repente está todo mundo ali, contando da vida, compartilhando comida e o tempo presente.

Este é o projeto Mesa de Thereza, que existe há cerca de 10 anos e foi criado por Thereza Portes, artista plástica, pintora e professora da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Tudo começou na calçada do Instituto Undió, uma organização não governamental de Belo Horizonte coordenada por Thereza. Antigamente, o local não era uma ONG, mas a casa dos avós da pintora, onde ela nasceu e morou por anos. A partir das lembranças de amor e de cuidado que surgiram no processo de restauração do imóvel, a iniciativa desabrochou.

"Meu avô era médico e cuidava de todo mundo, as portas viviam abertas... E minha vó, ah, ela coava um café novinho para quem chegasse! A casa tinha esse cheiro de café, sabe? Cheguei ali, 30 anos depois, no mesmo lugar onde nasci e fui tentar me reaproximar das pessoas. Me vi colocando a mesa na rua, chamando os vizinhos e comecei a servir servi café coado no mancebo”, conta a artista.

Logo ela começou a receber doações de xícaras, comidas, e a Mesa de Thereza se expandiu. Agora, é possível encontrá-la de surpresa em qualquer lugar de BH, Minas Gerais e até em outros estados.

"As pessoas estão sempre apressadas, com alguma coisa na cabeça. O projeto é sobre olhar no olho do outro, compartilhar o espaço público, comer junto. É um convite à rua", acredita.

Thereza conheceu muitas histórias. A maioria das xícaras recebidas tem um significado especial. Foi aí que a artista decidiu acrescentar à mesa uma toalha que pode ser bordada pelos participantes ao mesmo tempo em que tomam café, com as memórias, sentimentos, sonhos e o que mais der na telha. 

A toalha tem registros dos moradores de ocupações urbanas, comunidades ciganas, quilombolas, estudantes, professores, trabalhadores, movimentos populares, entre vários outros grupos. Thereza lembra que teve até dia em que já estendeu o pano de um jeito improvisado em caçambas para poder tomar café com caminhoneiros.

Em setembro, Thereza e a toalha vão, ainda, ao Hospital das Clínicas, em BH, para que as mães que aguardam atendimento para os filhos possam bordar suas histórias. Claro, vai ter café na calçada no fim do dia. No dia 29 o encontro vai ser no passeio de sempre, em frente ao Undió (Rua Padre Belchior, 280).

Para manter o caráter espontâneo e popular do projeto, nem sempre há um dia certo para ele ocorrer. Para ficar por dentro das informações, acompanhe a página: www.facebook.com/institutoundio.

Edição: Joana Tavares