Coluna

Bolsonaro e a PEC das domésticas: O Brasil servil de novo

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A PEC das domésticas regulamenta apenas um conjunto de direitos dos quais as domésticas ainda estavam de fora
A PEC das domésticas regulamenta apenas um conjunto de direitos dos quais as domésticas ainda estavam de fora - Fotos Públicas
Essa é mais uma faceta do golpe: mulheres voltam a se submeter a baixos salários

Na série de entrevistas realizadas pelo Jornal Nacional com os principais candidatos à Presidência da República, me chamou particularmente a atenção as declarações de Jair Bolsonaro do PSL quando questionado sobre ter sido o único Deputado Federal a votar contrário a PEC das domésticas em 2013.

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Sobre a resposta do candidato presidenciável há duas questões importantes que quero tratar aqui: a primeira é a ignorância e o completo desconhecimento de Bolsonaro sobre os efeitos da PEC das domésticas sob a categoria, e a segunda é a externalização de um projeto de Brasil em que as relações servis e pessoalizadas de trabalho seguem como u modelo a ser seguido, fazendo regredir nossos avanços sociais à décadas atrás.

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Bolsonaro afirmou ser contrário à equiparação dos direitos das trabalhadoras domésticas aos demais trabalhadores formais – sobre o que legisla a PEC – porque essa medida causaria desemprego. Esse foi exatamente o mesmo argumento utilizado pelos conservadores de plantão em 1972, quando passou a ser obrigatório o registro em carteira das empregadas domésticas. Segundo ele “Foi para proteger. (...) Muita gente teve de demitir porque não teria como pagar. Muitas mulheres perderam emprego pelo excesso desses direitos”. 

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Vamos analisar rapidamente essa relação. Em primeiro lugar, a PEC das domésticas regulamenta apenas um conjunto de direitos dos quais ainda estavam de fora as domésticas – particularmente o recolhimento do FGTS e INSS pelo empregador. Portanto, a PEC das domésticas só vale para o conjunto das trabalhadoras que já são registradas. Olhando essas alíquotas, que são de 8% cada uma delas para um salário mínimo, o acréscimo final – na simulação de um salário de 900 reais – é de um pouco mais de 100 reais.

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Ou seja, não me parece razoável creditar à PEC das domésticas o aumento do desemprego das empregadas domésticas, uma vez que 100 reais a mais não é – efetivamente – um alto custo para o empregador – por outro lado, é de grande diferença para a empregada, que poderá gozar a dignidade da aposentadoria e do Fundo de Garantia. Dessa forma, o argumento de que muitos empregadores demitiram porque não teriam como pagar não é nada razoável!

Em segundo lugar, os empregadores não demitiram! Basta olhar os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho para ver que entre 2015 e 2017 o emprego doméstico – ao lado do trabalho por conta própria – foram as únicas ocupações com saldo líquido positivo de emprego para as mulheres! Ou seja, o trabalho doméstico tem um comportamento anticíclico. Nos governos Lula e Dilma, quando o desemprego estava baixo e a economia crescendo, o empregado doméstico perdia participação no mercado de trabalho. Em períodos de crise econômica é apenas no trabalho doméstico que muitas mulheres desempregadas encontram possibilidade de reinserção laboral.

Essa é a reflexão quanto ao que chamei de ignorância e desconhecimento do candidato sobre o tema. No que tange ao seu projeto de país, a análise é simples. Bolsonaro comunga com aqueles que desejam a volta do Brasil servil.

Não regulamentar nem profissionalizar o trabalho das empregadas domésticas é a principal forma de manter esse trabalho na condição de serviçal, de agregado da família, relembrando a organização familiar do século XIX! Além disso, na medida em que persiste o desemprego e aumenta a oferta de mulheres se dispondo ao trabalho doméstico, menores se tornam seus salários. Pela Lei da oferta e da procura: quando mais oferta de mão de obra no mercado por menor preço é negociada a sua contratação.

Essa é mais uma faceta do golpe. Mulheres, especialmente as negras, retornam ao seu lugar de origem, submetidas a baixos salários, jornadas extenuantes e ausência de direitos trabalhistas. 

Com Bolsonaro e seu projeto neoliberal de flexibilização ao máximo dos direitos trabalhistas é a volta do Brasil servil de novo.

Edição: Daniela Stefano