Paraná

Eleições 2018

Entrevista com Mirian Gonçalves: “Minha responsabilidade é com o povo”

Candidata pelo PT fala, nesta entrevista, sobre suas prioridades para o Senado

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Mulheres, classe trabalhadora e defesa das minorias estão na agenda da candidata ao senado
Mulheres, classe trabalhadora e defesa das minorias estão na agenda da candidata ao senado - Gibran Mendes

Mirian Gonçalves foi vice-prefeita de Curitiba. Agora, ela é candidata a senadora pelo Partido dos Trabalhadores do Paraná. Advogada trabalhista atuando há pelo menos 30 anos, Mirian estabeleceu como prioridade uma agenda em defesa das mulheres, das trabalhadoras e os trabalhadores e o combate a reforma trabalhista e formas de discriminação de gênero, raça e condição social.

Qual é a importância desse movimento “Ele, não”?

Mirian Gonçalves: Ele tem uma importância nacional e internacional, pois acontece em outros países.  Ele representa muito mais do que uma mobilização contra um determinado candidato. Isso representa mais a união das mulheres para demonstrar o que elas querem e o que elas não querem. Isso pode ser visto na Argentina com as manifestações pela legalização do aborto que, no fim, foi barrada pelo governo. Eu entendo que, no Brasil, estão provocando as mulheres e que isso vai se reverter nas urnas.

Como senadora, a sua prioridade é a legalização do aborto ou a redução da mortalidade infantil e materna?

Mirian: As duas coisas caminham juntas. A maternidade é muita séria e não pode ser resultado de um acaso, de um descuido. Ela precisa ser desejada. E aí as decorrências das condições de vida, de moradia, de salário digno e de cuidado das crianças, de saúde, que vão muito além do debate atual. A mulher precisa se sentir confortável em optar por ser mãe. Ao governo compete criar condições para isso.

Um dos argumentos de Bolsonaro é que a diferença salarial entre homens e mulheres é definida pela competência e que não é papel do Estado intervir.

Mirian: Sou firmemente contrária a isso. O Estado existe justamente para regular o que consideremos um direito. Já existe uma lei que determina a igualdade de salários entre mulheres e homens e mesmo aqueles que desempenham a mesma atividade. Ainda assim, não é cumprido. Por isso, tem que regular. Como advogada trabalhista, eu vejo desculpas como ‘a mulher não produz tanto porque tem que buscar o filho na escola, ela não foca no trabalho, não está o tempo todo disponível e o homem já pode’. A situação piora em relação a mulher negra.

Defender as pautas das mulheres significa esquecer os direitos dos homens?

Mirian: A minha campanha é voltada às mulheres e também aos trabalhadores e trabalhadoras. A solidariedade é fundamental nisso. Afinal, ela não significa dar aquilo que te sobra, mas aquilo que você acredita que o outro tenha. Então, quando eu defendo as mulheres, estou pedindo o apoio dos homens que acreditam que as mulheres têm direito à igualdade. Quem não acredita nisso, naturalmente não votam em mim. O mesmo acontece com aqueles que não acreditam nos trabalhadores e trabalhadoras, que apoiam a reforma trabalhista, por exemplo.

No governo Temer, houve um recuo em políticas para mulheres. Com Bolsonaro, essa ameaça pode aumentar?

Mirian: Essa ameaça já é vista mundialmente. Ele vai na contramão dos direitos humanos. É homofóbico, misógino, racista, prega a violência. Há poucos dias, as pessoas se envergonhariam em levantar essas bandeiras atrasadas que me lembra a Ku Klux Kan, que matava negros e homossexuais apenas por serem diferentes.

O Brasil ocupa a quinta posição mundial em taxa de feminicídio. Como combater essa realidade?

Mirian: Existem várias formas de fazer esse combate. Uma delas são as Casas de Proteção implementadas nos governos de Lula e Dilma. A mulher precisa ter segurança para fazer a denúncia. Pois só o fato de denunciar pode aumentar seu risco. Por isso, a mulher precisa ser protegida pelo Estado. Eu ainda defendo que a justiça, que tem orçamento próprio, tem que encarar com mais seriedade esse problema. Vou apresentar uma emenda constitucional para que parte da verba do judiciário seja utilizada em políticas que defendam as mulheres. O dinheiro deve se destinar para contratação oficiais de justiça, varas e servidores públicos que se dediquem ao combate ao feminicídio e promovam a proteção da mulher. A Casa da Mulher deve voltar a ser prioridade. No Paraná, a proposta era ter em Curitiba, Paranaguá e Foz do Iguaçu. Apenas a da capital foi implementada e está abandonada, pois faltam recursos. Eu entendo que é necessário a criação de até oito casas. Ainda defendo a educação como elemento de combate. Afinal, quando a sociedade não permite o debate sobre a sexualidade, sobre igualdade nas escolas, isso acrescenta a possibilidade do crime contra a mulher.

A senhora foi vice-prefeita de Curitiba e quando assumiu, assinou decreto regularizando moradias. Essa será sua conduta no senado?

Mirian: É fundamental que a gente promova a regularização de áreas ocupadas porque é o que define a constituição e confere cidadania as pessoas. Afinal, a regularização significa que o Estado se obriga a asfaltar ruas, levar postos de saúde, creches, é garantir que as pessoas tenham dignidade. Onde o Estado entra, não entra a criminalidade. O mesmo acontece ao contrário.

A agenda nacional da direita, desde Temer, passando pelo prefeito de Curitiba Rafael Greca, tenta culpabilizar o serviço público pela crise financeira. Qual é a sua avaliação?

Mirian: Eu me orgulho ser coerente em minha história. Como vice-prefeita, sabia que os servidores municipais podiam receber aumento salarial (em 2016). Por que levar uma categoria à greve para dar um reajuste depois? Aí, na sequência, desconta os dias parados? Isso não é justo. É uma barbaridade! Por isso fiz um decreto abonando as faltas que depois foi assinado por Gustavo Fruet. Por outro lado, é um absurdo colocar na conta do serviço os problemas do estado enquanto tem juízes, por exemplo, ganhando auxílio-moradia maiores do que servidores de carreira. Eu quero enfrentar essa situação.

Indo para o senado, quais são as prioridades do seu mandato?

Mirian: Eu me candidatei por pautas que acredito. Em primeiro lugar, quero abordar a reforma trabalhista. Ora, se está piorando as condições de vida dos brasileiros. Houve uma cooptação ideológica dos trabalhadores afirmando que essa reforma ia gerar novos empregos. Agora, algumas categorias percebem que sofreram um golpe. E isso tende a piorar se a gente não revogar a reforma trabalhista. Afinal, não existe um item que beneficiou os trabalhadores. Outra prioridade minha é anistia aos presos políticos. O Brasil tem um preso que é Lula. E quem votar em mim sabe que vou atuar para denunciar a perseguição. Por fim, a minha pauta principal é o combate à violência contra a mulher. Isso significa o feminicídio, a violência física e moral, a que ocorre no ambiente de trabalho, a desigualdade. Vou defender a paridade no Congresso Nacional e passar meus oito anos defendendo as mulheres.

Uma vez eleita, qual será sua relação com o governo do estado?

Mirian: O governo de Beto Richa (PSDB) não apresentava projetos. E aí achava mais fácil culpar os senadores. Eu acho que um político, antes de tudo, tem que ter responsabilidade com o povo. Vou atuar assim, buscando benefícios para o Paraná. Agi assim quando fui secretária do trabalho de Curitiba. A minha equipe estudava projetos possíveis dentro do Ministério do Trabalho e apresentava, beneficiando os curitibanos. É assim que vou agir no senado.


 

Edição: Laís Melo