Coluna

No Rio, escola católica censura livro sobre a Ditadura

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Livro Meninos Sem Pátria foi censurado no Colégio Santo Agostinho
Livro Meninos Sem Pátria foi censurado no Colégio Santo Agostinho - Foto: reprodução
Realmente é lamentável o que aconteceu e dá bem a ideia do clima atual no Brasil

Um dos maiores absurdos dos últimos tempos no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, quando pais de alunos do Colégio Santo Agostinho, no bairro do Leblon, decidiram censurar um livro e impedir que os filhos seguissem tendo acesso ao Meninos Sem Pária de autoria de Luiz Puntel com a alegação de que se trata de uma literatura comunista.

Os pais simplesmente ignoram a história brasileira e o que representou a vida de exilados e seus filhos na época da ditadura empresarial militar. O autor se baseou na história do jornalista José Maria Rabelo e sua família, que teve de deixar o país após a deflagração do golpe empresarial militar de abril de 1964, porque o seu jornal, Binômio, publicava informações que desagradavam os golpistas de então.

O Binômio na verdade pode ser catalogado como antecessor dos atuais blogs encontrados na internet. Os pais possivelmente não leram a publicação de Puntel que conta a história de adolescentes brasileiros que viviam longe de sua pátria e só retornaram com a decretação da anistia.

O livro, inclusive, conta a história dos jovens e seu amor pela pátria que estavam afastados e foram obrigados, em companhia dos pais, a deixá-la, inicialmente em direção à Bolívia, depois para o Chile e em seguida para a França, onde se estabeleceram e depois retornaram à pátria amada.

Aí, então, os filhos de Rabelo se uniram com outros brasileiros na mesma situação com o claro objetivo de 'cultuar' o país que estavam afastados. Chegaram até a ser mencionados no jornal Le Monde, que os pais censores em sua ignorância devem considerar comunista.

É esse o tema do livro que os pais iletrados decidiram que o colégio tirasse de circulação e que vem sendo adotado, sem problemas, em diversos colégios, até mesmo na época dos estertores da ditadura nos anos 80.

A direção do Colégio Santo Agostinho aceitou, sem pestanejar, o pedido absurdo dos pais e simplesmente não deu nenhuma satisfação, inclusive aos pais que acharam também absurda a decisão. Provavelmente o colégio temia perder os alunos, ou seja, uma mensalidade paga pelos pais censores.

Realmente é lamentável o que aconteceu e dá bem a ideia do clima atual no Brasil em que o mercado e uma parte da mídia comercial dá apoio ao fascismo representado pela candidatura de Jair Bolsonaro.

Uma reportagem investigativa poderia levar a opinião pública a confirmar se os pais censores são adeptos de Bolsonaro consequentemente  do fascismo. O que não seria nenhuma surpresa. Jovens como os filhos de exilados terem amor à pátria que estavam afastados deve merecer, isso sim, o conhecimento dos brasileiros e brasileiras. Deve servir também de alerta o que representa para o país uma eventual ascensão do fascismo.

Os pais censores deveriam conhecer a história, como, por exemplo, a ascensão de Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália.

E que o Brasil não padeça do mesmo pesadelo histórico.

*Esta foi a última coluna escrita por Mário Augusto Jakobskind. O jornalista, que integrava há 15 anos o conselho político e editorial do jornal Brasil de Fato, faleceu na manhã desta quinta-feira (4), no Rio de Janeiro.

Edição: Jaqueline Deister