Eleições 2018

Bolsonaro não comparece e vira alvo dos sete candidatos no último debate presidencial

Haddad, Ciro e Boulos criticaram as reformas do governo Michel Temer e alertaram para os riscos à democracia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Debate começou às 22 horas e foi mediado pelo jornalista William Bonner
Debate começou às 22 horas e foi mediado pelo jornalista William Bonner - Reprodução / Youtube

O último debate entre os candidatos à Presidência da República foi marcado por críticas à ausência do líder das pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL). O representante da extrema direita não compareceu ao evento na noite desta quinta-feira (4), nos estúdios da Rede Globo, e alegou que estava impossibilitado de participar por recomendação médica. No mesmo horário, participou de uma entrevista, gravada durante o dia, na Rede Record. Edir Macedo, dono da Record e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, expressou apoio a Bolsonaro no último sábado (29).

Sete candidatos participaram do debate: Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).

O debate durou cerca de três horas e foi dividido em quatro blocos, com perguntas entre os candidatos e mediação do jornalista William Bonner.

Reforma trabalhista

A primeira pergunta foi feita por Ciro Gomes. O candidato do PDT questionou Marina Silva sobre as condições de governabilidade em um cenário de polarização da sociedade brasileira. Marina afirmou que é necessário trabalhar para superar a suposta polarização e disse que o voto é a oportunidade de melhorar áreas como saúde e educação

Geraldo Alckmin acusou o partido de Haddad de causar um “desastre econômico” no Brasil e questionou se o petista insistiria na forma de governo dos ex-presidentes Lula e Dilma. “Vamos recuperar as finanças públicas, mas não como vocês querem, cortando direitos. Vocês estão cortando direitos sociais e dos trabalhadores, apoiando o governo de Michel Temer”, respondeu o ex-ministro da Educação.

Em seguida, Boulos lembrou que Alckmin, assim como Temer e Bolsonaro, apoiaram a reforma trabalhista. “Quero saber por que vocês sempre cortam os direitos dos trabalhadores e nunca os privilégios da sua turma”, questionou. “A reforma trabalhista foi necessária porque havia 17 mil candidatos ‘mamando’ no imposto sindical”, rebateu o tucano.

Ainda no primeiro bloco, Haddad afirmou para Boulos que três candidatos da disputa presidencial apoiaram o governo de Michel Temer -- em referência a Meirelles, Alckmin e Bolsonaro. O candidato do PSOL lembrou a trajetória da família na luta contra a ditadura militar. “Se hoje discutimos o futuro do Brasil, se você pode votar no domingo, é porque teve gente que deu a vida por isso”, declarou.

Petrobrás

No segundo bloco, os candidatos fizeram perguntas uns aos outros com base em temas sorteados. A primeira pergunta foi feita por Boulos, a Alckmin, sobre o custo Brasil. “No seu governo, em São Paulo, foram R$ 15 bilhões em desonerações fiscais para os grandes empresários”, afirmou o socialista, questionando se seria esta a política adotada por ele, caso eleito presidente. “É preciso uma reforma no Estado, que eu vou fazer, como fiz em São Paulo. A crise pegou no Brasil inteiro, mas São Paulo teve superávit” argumentou o ex-governador.

Sobre o tema legislação trabalhista, Marina Silva afirmou que Meirelles, junto ao governo Michel Temer, propôs a reforma trabalhista “que prejudicou o direito dos trabalhadores”. A candidata da Rede questionou: “Você vai corrigir esses erros?”. O candidato do MDB reconheceu a necessidade de correções, mas afirmou que a reforma era necessária, alegando que a legislação trabalhista estava “criando problema para os trabalhadores e para os empresários”.

Álvaro Dias aproveitou o tema gastos públicos para acusar o candidato petista de corrupção, referindo-se às denúncias no âmbito da estatal Petrobras. Como resposta, Haddad prometeu recuperar o petróleo que o governo Temer entregou ao mercado estrangeiro.

Já o candidato Ciro Gomes lembrou que o Brasil tem 720 mil pessoas presas, muitos dos quais abordados com pequenas quantidades de drogas, e então perguntou a opinião de Boulos sobre o tema. “A população carcerária no Brasil dobrou nos últimos dez anos. Alguém está se sentindo mais seguro com isso?”, questionou o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Ele também criticou Jair Bolsonaro por defender a prisão e a liberação do porte de armas. Na tréplica, o candidato do PDT disse que as ações da Taurus, fabricante de armas, aumentaram 180% desde que Bolsonaro subiu nas pesquisas de intenção de votos. “Tem muitas pessoas associadas ao Bolsonaro que estão lucrando”, disse.

Prisão política de Lula

No início do terceiro bloco, Marina Silva afirmou que Jair Bolsonaro “amarelou” por não comparecer ao debate e questionou Haddad sobre a suposta radicalização das eleições. O petista lembrou que este é um pleito em condições incomuns e falou da prisão política de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que liderava as pesquisas antes de ser impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de concorrer. "Lula deixou o governo com 86% de aprovação, porque ele governou para todos os brasileiros. Lula tratou todo o povo brasileiro da mesma maneira. Ele governou olhando os mais pobres", enalteceu.

Guilherme Boulos lembrou das duas denúncias contra Michel Temer por corrupção e disse a Meirelles que ele integra o partido do presidente golpista e fez parte de seu governo. “Eu faço parte da minha história, que é de muito trabalho duro, e não tenho nenhuma denúncia por corrupção”, respondeu o banqueiro.

“Gostaria de fazer essa pergunta para o Bolsonaro”, disse Ciro Gomes, se dirigindo a Meirelles e lembrando novamente a ausência do militar reformado. “Ele [Bolsonaro] já recebeu alta e deu uma longa entrevista, mas fugiu daqui. Você acha correto um homem que quer ser presidente do Brasil não se submeter ao debate?”, questionou. “Não, ele está fugindo de um compromisso com a população”, opinou o candidato do MDB.

Reforma da previdência

O primeiro tema do quarto bloco foi previdência. Fernando Haddad questionou se Ciro Gomes concorda com a atual proposta de reforma da previdência. “A proposta do Temer é injusta. O trabalhador rural não pode ter a mesma idade mínima de um trabalhador de escritório da avenida Paulista para se aposentar”, respondeu.

Ciro Gomes então, questionou Meirelles sobre o tema da segurança pública, trazendo dados de homicídios de jovens negros da periferia e perguntando qual a proposta do candidato para enfrentar o problema. O candidato do MDB defendeu um sistema de informação unificado entre as polícias e a contratação de novos policiais, além da compra de armamento. Ciro rebateu, lembrando da Emenda Constitucional 95 aprovada no governo Temer, que proibiu os investimentos públicos nos próximos 20 anos e afirmou que o primeiro passo para melhorar a segurança é a revogação da emenda.

Em seguida, Meirelles perguntou a Alckmin o que ele propõe para reforçar políticas sociais. “Só tem um caminho: a retomada da economia”, disse o tucano. Em seguida, Boulos questionou: “Saneamento básico é um negócio ou um direito?”. Alckmin afirmou ser necessário mais investimentos para o setor, inclusive por parte da iniciativa privada. 

Marina Silva perguntou quais são propostas de Boulos para “o uso correto dos impostos”. O candidato do PSOL defendeu aumentar os impostos para os mais ricos e lembrou que Paulo Guedes, o "guru econômico" de Bolsonaro, propõe fixar em 20% a alíquota do imposto de renda. “Você, que ganha R$ 2 mil e hoje é isento de pagar imposto de renda, teria que pagar R$ 400 de imposto”, explicou.

Sobre o tema “corrupção”, Álvaro Dias escolheu perguntar a Haddad como irá agir em relação à operação Lava Jato. “O governo tem que fortalecer os órgãos de combate à corrupção. A Polícia Federal nunca recebeu tanto apoio quanto nos nossos governos”, respondeu. O petista defendeu que a corrupção seja investigada, mas criticou a partidarização e a seletividade da operação.

Este foi o último debate dos presidenciáveis antes das eleições de 7 de outubro.

Edição: Daniel Giovanaz