Defesa do SUS

Cebes lança radionovela para furar a bolha da comunicação

Em linguagem popular, série coloca trabalhadores e população como protagonistas dos desafios e conquistas na saúde

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SUSete é a protagonista do projeto ComunicaSUS, para instrumentalizar a sociedade na luta em defesa da saúde pública
SUSete é a protagonista do projeto ComunicaSUS, para instrumentalizar a sociedade na luta em defesa da saúde pública - Arquivo Saúde Popular

SUSete é a protagonista da radionovela do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), no projeto ComunicaSUS. A série, em dez capítulos com duração de 2 a 3 minutos cada, é realizada em parceria com a ONG alemã Médico Internacional e produção da ONG em comunicação popular Criar Brasil. O projeto radiofônico do ComunicaSUS tem por objetivo instrumentalizar a sociedade, na luta pelos seus direitos, e os trabalhadores da saúde, na valorização do seu trabalho.

Com diálogos populares, a radionovela traz SUSete como personagem principal. Ela é uma jovem agente comunitária de saúde, que compartilha questionamentos sobre os desafios do dia a dia com suas colegas Ângela, Norma e outros personagens. Determinantes sociais de saúde e perda de direitos são as temáticas dos três capítulos já disponíveis.

Ana Tereza Pereira Camargo, da direção do Cebes e coordenadora do projeto, conta que a elaboração da série começou em março. Inicialmente seriam três spots sobre o SUS, para veicular em salas de espera dos serviços de saúde no Rio de Janeiro. “Reunimos os agentes comunitários, a Federação dos Agentes Comunitários, aí eles olharam e disseram: isso não vai dar certo. Não tem mais sala de espera. Tá completamente errado”.

O Cebes reorganizou o plano, buscou outras entidades “que lidam com comunicação popular” para ouvir mais gente. "Foi o Criar Brasil que falou que fazia radionovelas. Resolvemos então criar dez capítulos sobre o SUS, a perda de direitos, a crise, as reformas, tendo como alvos o agente comunitário e a população”.

Democratizar a informação
Os diálogos feitos por profissionais de rádio são baseados em entrevistas com 50 agentes comunitários de saúde do Rio de Janeiro e Recife. “Começamos esse trabalho em março, já produzimos três [capítulos]. Vamos ter mais dois semana que vem, sobre violência e violência contra a mulher. São os assuntos que estão aí na ordem do dia”.

Animada, Tereza diz que pretende ver o projeto espalhado pelo Brasil por meio das rádios comunitárias e outros canais de difusão para auxiliar na decisão sobre as eleições. “[Queremos] Chegar na população, ver o que vai pensar, o que vai fazer. Temos uma opção aí domingo [eleição] entre a civilização e a barbárie”.

A iniciativa do projeto do ComunicaSUS cumpre uma das diretrizes da Carta de Brasília, aprovada em julho de 2011, no 27º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde do Brasil (Conasems), representando os 5.565 municípios brasileiros. “Ampliar a democratização da comunicação e informação no SUS, participando do processo de valorização social e política do sistema com sua inclusão na agenda de desenvolvimento econômico e social do Brasil”, diz o texto do documento.

Batalha estratégica
A presidente do Cebes, Lúcia R. Florentino Souto, mestre em Saúde Coletiva e professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), acredita que a questão da democratização da comunicação é uma batalha estratégica. “Nesses 30 anos do SUS [sob ataques], uma das coisas que a gente está analisando é a necessidade de furar a bolha, que precisamos ter uma comunicação popular. O SUS é uma [política] que todos reconhecem que tem presença em todo o país, reconhecido no Brasil até por seus adversários como algo bastante efetivo. Talvez uma das políticas públicas mais consistentes. Então, a gente precisa ter uma comunicação mais popular, que possa colocar no dia a dia das pessoas essa importância da defesa do Sistema Único de Saúde”.

A radionovela em dez capítulos é o ponta-pé inicial do projeto, que deve ser ampliado para as comunidades, "pela viabilidade e alcance na população", antecipa Souto.“Fazer uma formação [nas comunidades locais], para que os moradores de cada território possam se apropriar das ferramentas de democratização dessa informação e dessa comunicação popular”.

Sem prazo definido ainda, a dirigente contou que o próximo passo para aprofundar a estratégia de comunicação popular deverá ser a instrumentalização da população. “Municiar as pessoas de ferramentas simples, mas que dão a elas autonomia, autonomia até para fazer suas entrevistas no território, para poder falar do seu bairro, de sua região. Dar realmente ferramentas. As pessoas só precisam de ferramentas”, justifica.

Ouça os três primeiros capítulos da radionovela:

Capítulo 1 - Perda de Direitos
As agentes de saúde falam sobre as dificuldades no trabalho e a importância do voto nas eleições, em eleger representantes comprometidos com o Sistema Único de Saúde.

 

Capítulo 2 - Perda de Direitos II
As agentes de saúde discutem sobre suas aflições e consequências no trabalho delas após a aprovação do Teto de Gastos (Emenda Constitucional 95), que congela recursos destinados à saúde para os próximos 20 anos.

 

Capítulo 3 - Determinantes sociais da saúde
Discussão entre as agentes sobre as condições de saúde da população. Angela visita o senhor Valdez que está com Tuberculose e não pode parar o tratamento.

Edição: Daniela Stefano