INTOLERÂNCIA

Pastor é expulso da igreja Renascer por não apoiar Bolsonaro

Danilo Bernassi foi censurado por falar sobre outros candidatos em suas redes sociais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
De acordo com a Lei Eleitoral 9504/97, a propaganda eleitoral no interior de igrejas é expressamente proibida
De acordo com a Lei Eleitoral 9504/97, a propaganda eleitoral no interior de igrejas é expressamente proibida - Foto: Divulgação/Facebook

Por não se posicionar a favor de Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL, o pastor Danilo Bernassi, conhecido como Danilinho, foi expulso da Igreja Renascer em Cristo. Áudios divulgados nesta sexta-feira (5) pela revista Vice mostram Bernassi em discussão com um bispo identificado como Phillip Guimarães, que chamou sua atenção por ter compartilhado imagens de outros candidatos em suas redes sociais.

Ao longo de quase trinta minutos, Danilinho defendeu de forma contundente que seu compromisso enquanto pastor seria com a religião e não com política, e, assim como ele, outras pessoas da igreja estariam cansadas de discursos políticos. “Eu tenho a minha opinião e você tem a sua, eu não vou votar em Bolsonaro, vai com Jesus de Nazaré no seu voto”, disse o pastor. “Isso eu não vou aceitar”, respondeu Philip. 

No segundo áudio divulgado pelo veículo, o bispo questiona se Danilo iria manter seu “comportamento arredio e defensivo” e afirmou: “Está decidido, você está desligado da Igreja Renascer”.

Por serem consideradas bens de uso comum, a propaganda eleitoral no interior de igrejas é expressamente proibida, de acordo com a Lei Eleitoral 9504/97. Em entrevista ao Brasil de Fato, Bernassi comenta o episódio.

“O que eu falo referente a política e religião é que não tem que se misturar. Cada um escolhe o que quer. Eu aceitei a Jesus Cristo não para brigar por ideais políticos e nem por nenhuma imagem política, nada. Não vou me compactuar com isso. Apoia quem quiser, mas não fale sobre. Se vai votar, coloque na rede social e na igreja não toque no assunto. Igreja é igreja, política é política”, diz o pastor.

Segundo ele, os líderes evangélicos do Brasil deveriam repensar essa postura dentro da igreja. “O fato de não concordar, por exemplo, com o Bolsonaro, é ter minhas opiniões. Não tem nada a ver com igreja. A opinião política não tem nada a ver com isso, mas infelizmente, as pessoas querem trazer isso e aí usam até a Bíblia”, ressalta Danilinho. “Só que Cristo nunca fez isso, ele morreu pelo mundo inteiro. Morreu até por esses políticos corruptos. Todo mundo tem seu direito de escolha. Eu quero levar Cristo, não quero brigar por política".  

Sem deixar de lado a separação entre posicionamento político e o que é dito na igreja, o religioso afirma que não concorda com as opiniões do candidato do PSL. “Eu não sou a favor de torturador, de porte de arma, não sou a favor de nada disso, porque eu sou crente. Minha arma é a Bíblia" 

Crítica

Danilinho não é o único que se posiciona contra Bolsonaro. Mais de 2.300 religiosos, pastores e teólogos evangélicos assinaram a “Carta Pastoral à Nação Brasileira”. O documento foi articulado em repúdio à tentativa do candidato em “manipular o nome de Deus” em sua campanha.

“Nosso repúdio a toda e qualquer forma de instrumentalização da religião e dos espaços sagrados para promoção de candidatos e partidarismos. Cremos num Deus grande o suficiente para não se deixar usar por formas anticristãs de pensamento e de ação”, diz a carta. “Nossa indignação contra toda pretensão de haver um governo exercido em nome de Deus, bem como contra toda aspiração autoritária e antidemocrática", complementa o texto. 

“Na democracia se convive com o diferente. Bolsonaro tem representado, catalisado [eleitores], pela mentira, pela perversão, porque a base de todo debate é uma moral extremamente falsa em relação a conduta inclusive da fé e da sociedade”, opina o reverendo e pastor presbiteriano Luis Sabanay. 

O religioso endossa que as posições de Bolsonaro são absolutamente incompatíveis com o cristianismo. “Não existe um pensamento único do ponto de vista da religião. Nós temos que conviver, isso é a democracia na sua essência. Mas também é do princípio da fé a tolerância, o respeito, o reconhecimento de quem não faz parte daquilo que você acredita e uma convivência pacífica. A intolerância tem gerado uma divisão na sociedade que teremos muito trabalho para recuperar o senso comum de que precisamos viver em paz”. 

Sabanay também reforça a defesa da laicidade do Estado e explica que há outros interesses que levam a uma aproximação entre a instituição e as igrejas. 

“O que a religião busca no Estado? Quando se vota no Bolsonaro, busca-se as benesses do Estado. Busca a concessão de benefícios na área de comunicação, principalmente em rádio e televisão, busca o apoio econômico para atividades e manutenção da vida religiosa, quando deveria ser o contrário, a religião tem que ter auto-sustento no seu desempenho de tarefa, na sua expressão de fé. Busca-se influenciar uma tendência preconceituosa, moralista e intransigente em relação à convivência social”, alerta o pastor.

Grupos de judeus e muçulmanos também assinaram nota em oposição a Bolsonaro. 

A Igreja Renascer enviou uma nota de esclarecimento à reportagem, em que nega as acusações. Confira na íntegra:

"A Igreja Renascer em Cristo esclarece que, em nenhum momento, obrigou ou coagiu seus membros ou oficiais a votar em qualquer candidato. Também nega que tenha expulsado o Pastor Danilo Bernassi. Nenhum Bispo ou pastor tem autoridade para expulsar pessoas da Igreja, esta não é uma pratica adotada pela liderança. O Apóstolo Estevam Hernandes declarou seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, mas respeita a decisão individual de voto de todos os integrantes da Igreja".

Edição: Diego Sartorato