Política

Crise interna do PSDB aumenta após derrota nas urnas

Partido perde espaço no Congresso e tem pior desempenho em eleições presidenciais de sua história

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Partido está dividido entre fundadores da sigla e novas lideranças, de perfil populista
Partido está dividido entre fundadores da sigla e novas lideranças, de perfil populista - Foto: Reprodução

O fracasso do PSDB nas urnas, que elegeu 25 deputados a menos do que em 2014 e não chegou a 5% dos votos na disputa presidencial, acirrou a crise do partido. Na última terça-feira (9), os tucanos se reuniram em Brasília para um debate tenso no qual decidiram não apoiar Jair Bolsonaro (PSL) nem Fernando Haddad (PT) no segundo turno e liberaram diretórios estaduais e filiados para escolher quem apoiarão.

Durante a reunião, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, o racha se tornou evidente quando o presidente do partido, Geraldo Alckmin, chamou o candidato do partido ao governo de São Paulo, João Doria, de “traidor”.

Doria lidera uma ala chamada de “cabeças-pretas”, representando os mais jovens do PSDB, e tenta tirar Alckmin do comando nacional do partido. Ainda no primeiro turno, o ex-prefeito já vinha se afastando de Alckmin e vinha se aproximando de Jair Bolsonaro (PSL). 

Na noite do último domingo (7), com Alckmin recebendo apenas 4,76% dos votos válidos, Doria anunciou apoio a Bolsonaro. Entretanto, outras lideranças tucanas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador José Serra, manifestaram, ainda antes da decisão do partido, não apoiar nenhum dos dois candidatos.

Partido desfigurado

A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), avalia que a disputa aponta uma diferença entre fundadores e políticos antigos do PSDB que tendem a ter uma postura mais moderada em comparação ao grupo mais jovem que adota discursos da extrema direita. 

“O Dória faz esse movimento de aproximação ao Bolsonaro justamente para conseguir o apoio do eleitorado mais conservador, mais à direita, para ajudar a se distanciar do [Paulo] Skaf, que ameaçava ultrapassá-lo no primeiro turno [para o governo de São Paulo]. Com isso, as lideranças tradicionais do partido, que desde o início estavam mais vinculadas à social-democracia, não se sentem mais representadas neste partido. Há um grande distanciamento dessas lideranças em relação à questão programática do partido”, afirma Braga.

Ela aponta uma tendência de expulsão de um dos dois grupos da sigla. Se Doria vencer a disputa com Márcio França (PSB) e se tornar governador de São Paulo, Braga avalia que seu fortalecimento pode levar a criação de um novo partido por parte da antiga ala do PSDB. Caso não seja eleito, Doria pode ser expulso ou optar por migrar de partido.

PSL capitaliza antipetismo e PSDB cai nas urnas

Desde 1994, o PSDB disputava diretamente a presidência com o PT. Em 2014, Aécio Neves enfrentou Dilma Rousseff. Ele, ao lado de figuras tucanas como Aloysio Nunes, Antônio Anastasia, José Serra e o próprio Alckmin marcaram presença em manifestações pró-golpe entre 2015 e 2016 e incentivaram o discurso contra os governos petistas.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o fundador do PSDB Bresser-Pereira criticou a postura do partido no processo de golpe. "Foi uma manobra de um grupo de oportunistas do PMDB, na qual o PSDB embarcou docemente, demonstrando que é um partido liberal, o verdadeiro sucessor da UDN no Brasil, e que portanto é um partido golpista como era a UDN. Que o PMDB seja golpista… O PMDB não é nada, não é um partido. É um conjunto de pessoas, algumas até muito boas, e outras péssimas. Já o PSDB é um partido, como o PT, mas é um partido da direita e da direita absolutamente antinacional e dependente. Isso ficou demonstrado quando eles se associaram ao golpe, que não os adiantou em nada", disse.

A professora da UFSCar avalia que o partido de Bolsonaro conseguiu capitalizar de forma muito mais forte o antipetismo. Enquanto o PSDB elegeu 29 deputados (25 a menos do que em 2014), o PSL saltou de um para 52 deputados eleitos este ano. No senado, os tucanos elegeram quatro representantes, mesmo número do partido de Bolsonaro que antes não contava com nenhum representante na casa.

Maria do Socorro Sousa Braga destaca três principais motivos para o desempenho negativo do PSDB: as brigas internas (que demonstram fraqueza para o eleitorado), o envolvimento de quadros do partido na operação lava jato (como o caso do governador Beto Richa) e uma resposta mais radical de Jair Bolsonaro ao tema da segurança pública, tema de grande apelo entre os eleitores.

Expulsão de Alberto Goldmann e Saulo de Castro

Outro fato recente que acirrou a crise interna no PSDB foi a expulsão de Alberto Goldmann, ex-governador de São Paulo, de Saulo de Castro, secretário estadual de Governo, e outros 15 filiados ao PSDB na última segunda-feira (8). A decisão foi do diretório municipal do PSDB, comandado pelo aliado de Doria, João Jorge, alegando apoio a adversários de Doria na disputa pelo governo.

O senador José Serra afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que a expulsão segue “o padrão Doria de truculência”. Em entrevista à Rádio Eldorado, Goldman afirmou que não vai apoiar Dória em nenhuma hipótese. "Construí esse partido e vou continuar lutando internamente pelas minhas ideias", disse.

Edição: Diego Sartorato