TOTALITARISMO

Bolsonaro é fascista? Listamos 13 frases do candidato para reflexão

Entenda como o discurso do candidato do PSL se assemelha muitas vezes à ideologia fascista

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
As ideias de Bolsonaro comparadas ao que defendiam Hitler e Mussolini nos anos 30 e 40
As ideias de Bolsonaro comparadas ao que defendiam Hitler e Mussolini nos anos 30 e 40 - Montagem

O candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) tem sido caracterizado como “representante do fascismo” por pesquisadores do tema dentro e fora do país. Hoje, o advogado estadunidense Mike Godwin, criador da Lei de Godwin, que critica a banalização das comparações com o nazismo, autorizou pelo Twitter comparações entre Bolsonaro com Hitler.

Para a antropóloga Adriana Dias, que pesquisa sobre neonazismo há 15 anos, o discurso de Bolsonaro é similar ao que Hitler pregava em sua campanha, na Alemanha de 1932.

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“A construção do partido nazista foi uma construção voltada para a ideia anticorrupção de Estado, muito militarista, fundamentalmente pautada na ideia de que havia uma Alemanha que estava acabando economicamente”, explica Dias.

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A antropóloga entende que Bolsonaro é só mais uma manifestação da extrema direita que tem crescido no mundo todo. Para ela, esse avanço de figuras políticas fascistas é impulsionado por dois fatores fundamentais: uma forte ideia de meritocracia, ou seja, “que as pessoas nascem nos mesmos lugares e têm as mesmas oportunidades”; e a criação de um inimigo responsável por todos os problemas do país, o que Dias chama de “outro conveniente”.

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Esse ódio ao outro, segundo Dias, faz com que se crie uma falsa ideia de “maioria nacional única”, que é personificada no homem, branco, heterossexual, de classe média urbana. “Toda vez que a extrema direita ascende há uma ascensão da masculinidade, um culto à masculinidade, uma negação do feminino, uma ascensão da cultura do estupro, uma aversão a gays, a minorias”, explica.

Para a antropóloga, o discurso de Bolsonaro não dá voz apenas à insatisfação política da população, mas também aos ódios internalizados. “Há um ódio de classe muito grande no Brasil, um ódio de gênero também, eu vejo muita gente com ódio dos LGBTs. Eu acho que ele [Bolsonaro] consegue congregar vários ódios”, afirma.

Dias pondera, no entanto, que acredita que “metade dos eleitores do Bolsonaro não tem ideia do que seja o fascismo e outros 25% estão sendo induzidos” a votar no candidato do PSL, impulsionados, principalmente, pelas notícias falsas disseminadas nas redes sociais. “Os nazistas também fizeram isso, eles espalharam muitas mentiras sobre os judeus, os comunistas”, diz a antropóloga.

A partir da análise de Adriana Dias, o Brasil de Fato selecionou frases de autoria de Bolsonaro que reforçam o sinal de alerta para a ascensão do fascismo nas eleições 2018.

1. Nacionalismo forte

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

O slogan patriota da campanha de Bolsonaro (que é também o nome de sua coligação) tem inspiração em uma frase bastante conhecida entre os nazistas. Na Alemanha de Adolf Hitler, um dos lemas mais repetidos era “Deutschland über alles”, que significa, em português: “Alemanha acima de tudo”.

2. Desrespeito pelos direitos humanos

"Conosco não haverá essa politicagem de direitos humanos. Essa bandidada vai morrer porque não enviaremos recursos da União para eles".

Em 23 de agosto, durante ato de campanha na cidade de Araçatuba, no interior paulista, Bolsonaro discursou em cima de um carro de som, condenando organizações que defendem direitos humanos. Segundo o candidato, esses movimentos prestam um “desserviço para o Brasil” e, por isso, não merecem repasse de dinheiro do governo.

3. Identificação de inimigos como causa unificadora

“Vamos unir o Brasil pela vontade de nos afastarmos de vez do socialismo, do comunismo, nos vermos livres desse fantasma do que acontece na Venezuela”.

Em uma transmissão ao vivo em sua página no Facebook, no dia 6 de outubro, véspera do primeiro turno das eleições, Bolsonaro afirma que os partidos da esquerda brasileira, como PT, PCdoB e PSOL encarnam o “socialismo e o comunismo” que não deram certo em outros países latino-americanos.

A frequente identificação de inimigos ("esquerdistas, petistas e bandidos") como merecedores de punição e extermínio também compõe com essa ideia. Prometendo "defender o país do comunismo e curar lulistas com trabalho", Bolsonaro traz à memória a triste lembrança do lema do campo de concentração mais letal do nazismo, Aushcwitz, que trazia em seu portão de entrada os dizeres: Arbeit macht frei [O trabalho liberta]

4. Supremacia do militarismo

"Caso eu fosse presidente da República, eu convidaria para o MEC (Ministério da Educação) um general que tivesse comandado um colégio militar pelo Brasil".

Em entrevista à jornalista Mariana Godoy, em julho, Bolsonaro defendeu a militarização do ensino, citando exemplo de colégios militares, onde as crianças são “revistadas periodicamente, cantam o hino nacional e têm aula de educação moral e cívica”. O candidato também defendeu os governos militares da ditadura, dizendo que “aquela foi uma época maravilhosa”.

5. Alto nível de sexismo

"Jamais iria estuprar você, porque você não merece".

A frase foi dita por Bolsonaro em 2003, direcionada à deputada federal Maria do Rosário (PT), nos corredores da Câmara dos Deputados. O candidato ainda empurrou a deputada, ameaçando dar uma “bofetada” nela e chamando-a de “vagabunda”. Em 2014, Bolsonaro repetiu a ofensa à deputada, dessa vez, em discurso no plenário da Câmara do Deputados. Pela ofensa, o candidato foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal a pagar indenização de R$ 10 mil à Maria do Rosário.

6. Controle dos meios de comunicação

"A imprensa tenta a todo custo comprar a corda que irá enforcá-la"

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A frase foi escrita por Bolsonaro no Twitter, em abril de 2016. No Programa Mariana Godoy Entrevista, em outubro de 2017, Bolsonaro afirmou que a frase se relaciona “ao trabalho da imprensa como um todo” e que é contrário ao controle da mídia.

O candidato costuma deslegitimar o trabalho da imprensa e sua campanha é baseada na disseminação de notícias falsas. No último dia 10, em reunião com correligionários, Bolsonaro afirmou que é preciso “tomar cuidado com a mídia”, porque a intenção da imprensa é “atacar” e “desgastar” sua campanha.

7. Obsessão com a ideia de segurança nacional

"Nós não podemos escancarar as portas do Brasil para tudo quanto é tipo de gente. Isso vai virar a casa da mãe Joana".

Em dezembro de 2016, Bolsonaro criticou o projeto do Estatuto da Migração, que regulamenta a entrada e permanência de migrantes e visitantes no Brasil. Para Bolsonaro, os imigrantes são uma ameaça à segurança nacional, porque “o comportamento e a cultura deles é completamente diferente da nossa”.

Mais tarde, em fevereiro de 2018, em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro defendeu que policiais militares tenham uma “retaguarda jurídica” para que não sejam condenados por homicídios. Ele toma como exemplo uma frase de Donald Trump, que dizia que os policiais norte-americanos são mais fortes que a “bandidagem” da fronteira com o México.

8. Religião e governos interligados

Nós somos um país cristão! Deus acima de tudo. Essa historinha de Estado Laico, não! É Estado cristão! E as minorias que se curvem!”

Em discurso em cima de uma carro de som em Campina Grande, na Paraíba, em fevereiro de 2017, Bolsonaro afirmou que aqueles que acreditam em Deus são a minoria da população e, por isso, devem “se curvar” ao Estado cristão. Meses depois, em entrevista ao jornalista Ronaldo Gomlevsky, Bolsonaro reafirmou essa opinião, dizendo que o objetivo de um Estado laico é “tirar a cultura judaico-cristã das escolas” e doutrinar crianças.

9. Poder corporativo protegido

"Hoje em dia é muito difícil ser patrão no nosso país".

Em entrevista no Programa do João Kleber, em agosto de 2016, Bolsonaro criticou os direitos trabalhistas, que, segundo o candidato, dificultam a contratação de empregados nas empresas. Bolsonaro falou ainda que o sistema trabalhista brasileiro “é paternalista demais”.

Empresários de grandes redes lojistas já declararam apoio a Bolsonaro, entre eles o dono da Havan, Luciano Hang, e o dono da Centauro, Sebastião Bomfim Filho.

10. Direitos trabalhistas atacados

"Um dia o trabalhador vai ter que decidir: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego".

Em entrevista ao Jornal Nacional, em agosto, Bolsonaro afirmou que dá voz à reivindicação de empregadores e empresários brasileiros, que entendem os direitos trabalhistas como obstáculos para o crescimento das empresas.

Na Câmara, Bolsonaro votou contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que regulamenta o trabalho doméstico e a favor da Reforma Trabalhista, que altera jornada de trabalho, plano de cargos e salários, remuneração (entre outros itens). Além disso, o candidato propõe a criação de uma “nova carteira de trabalho verde e amarela”, em que o contrato individual entre patrão e empregado tem mais valor do que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

11. Desdém por intelectuais e as artes

"Já está feito, já pegou fogo. Quer que eu faça o que?"

Essa foi a frase de Bolsonaro, em coletiva de imprensa, após o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em setembro. Bolsonaro também criticou a verba governamental destinada à cultura, dizendo que “não falta dinheiro para quermesse e negócio de homem nu” [em alusão à performance de Wagner Schwartz, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), apresentada em setembro de 2017]. Em outras entrevistas, Bolsonaro já defendeu o rebaixamento do Ministério da Cultura à secretaria subordinada ao Ministério da Educação.

12. Obsessão por crime e punição

“A violência só cresce no Brasil porque há uma política equivocada de direitos humanos”.

Em debate na Band, no dia 9 de agosto, Bolsonaro creditou a violência no país à “política de direitos humanos”, que, segundo o candidato, “desarmou o cidadão de bem”, enquanto “o bandido continua muito bem armado”. Bolsonaro defende o armamento da população e um sistema carcerário mais punitivista.

Em seu plano de governo, Bolsonaro liga a criminalidade a um viés ideológico, afirmando que “coincidentemente, onde participantes do Foro de SP governam, sobe a criminalidade”. Entre as propostas para acabar com a criminalidade, estão o “desarmamento para garantir o direito do cidadão à legítima defesa” e o fim “da progressão de penas e das saídas temporárias”.

13. Nepotismo e corrupção 

“Não vem me rotular de corrupto aqui, não”.

Em entrevista ao comentarista da Jovem Pan, Marco Antonio Villa, em maio de 2017, Bolsonaro tenta negar o recebimento de R$ 200 mil em propina do grupo JBS, afirmando que devolveu o dinheiro para o partido. No entanto, esse mesmo valor foi depositado novamente em sua conta, vindo do fundo partidário. Pressionado sobre a origem do dinheiro, Bolsonaro afirma: “o partido recebeu propina, sim! Qual não recebe?”.

Bolsonaro aparece também na “Lista de Furnas”, acusado de receber R$ 50 mil em propina. O candidato negou o envolvimento no esquema de caixa-dois, mas a Polícia Federal comprovou a autenticidade do documento, afirmando “que a lista não foi montada e que é autêntica”.

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Além disso, Bolsonaro é acusado de nepotismo, por ter empregado em seu gabinete e no de seus filhos, a ex-esposa, Ana Cristina Valle, a ex-cunhada e o ex-sogro. Perguntado sobre a ilegalidade do vínculo empregatício, por repórter do Jornal do Piauí, Bolsonaro alega que “na época não era nepotismo”.

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Carlos, Flávio e Eduardo, filhos do ex-capitão, entraram na política, ganharam prestígio e enriqueceram (Eduardo aumentou 432% seu patrimônio em quatro anos) puxados pela popularidade do pai.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira