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Ana Primavesi nos ensina a lutar por um solo vivo sobre uma terra livre

"Há muita vida no solo e muita dependência dele”. Afirmação de Ana Primavesi reforça que vivemos em solo vivo.

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Livros de Ana Primavesi estão no currículo da Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto
Livros de Ana Primavesi estão no currículo da Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto - Fotos: Cadu Souza
"Há muita vida no solo e muita dependência dele”. Afirmação de Ana Primavesi reforça que vivemos em solo vivo.

Quando trabalhadoras e trabalhadores do Movimento dos Sem Terra, o MST, ocupa um lugar, costumam encontrar o espaço totalmente degradado, com muitos problemas ambientais. Por isso, começam a recuperar principalmente o solo. E os livros de Ana Primavesi, uma das pioneiras do manejo agroecológico, são a base para o trabalho da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, que fica em Prado, no Sul da Bahia.

Para Felipe Peixoto, agrônomo e coordenador da unidade produtiva da Escola Popular, “o solo é o que de mais importante nós temos, começando pela nossa luta, lutamos pela conquista da terra, dignidade na terra e que consiga produzir e sobreviver da terra, mais especificamente do solo. Os solos são herdados altamente degradados, inertes, inférteis.”

De acordo com o agrônomo, os ensinamentos de Ana Primavesi contribuem para a recuperação do solo. “A base que Ana Primavesi traz é entender que o solo é um organismo vivo, não só apenas um substrato, um suporte que colocamos na planta. Sabemos que o solo tem elementos químicos, estrutura física e meio biológico, e se não existir o meio biológico não tem vida no solo, sem ele condições físicas e químicas também não existem”. E é “possível recuperar e conservar independente dos pacotes tecnológicos que existem e são impostos” completa.

Ao longo da vida, Ana Primavesi publicou 12 livros e mais de 90 textos e artigos científicos. Na Escola Popular as publicações são usadas como referência nas formações com as agricultoras e agricultores, no curso técnico regular de agroecologia e nas práticas e experiências que acontecem diariamente. 

Para a agrônoma, professora e coordenadora dos cursos técnicos de agroecologia da Escola, Valdete Oliveira Santos, Ana Primavesi é uma das mais importantes pesquisadoras da área da agroecologia e agricultura orgânica: “os livros trazem discussões muito aprofundadas e dialoga diretamente com o que estamos vivendo. É necessário começar a estudar principalmente o solo e Ana Primavesi traz isso muito claro, de ver o solo enquanto meio para manter os organismos vivos. O que tem presente no solo além de macros e micros nutrientes, são também os organismos vivos”.

Já no primeiro módulo do curso técnico de agroecologia, as educandas e educandos são introduzidos à pesquisa e teoria agroecológica a partir da leitura do livro “Convenção dos ventos”,  publicado pela editora Expressão Popular. Outros textos e livros estão presentes na bibliografia de outras cinco disciplinas do curso. 

O educando Anderson Santos Rego, da primeira turma do curso técnico de agroecologia, reforça o significado da leitura das publicações de Ana Primavesi: “o leitor lê e entende o que os impactos do uso de agroquímicos, venenos, utilização de máquinas deixam na natureza. Nos contos ficou muito claro, não é aquela linguagem técnica. E com toda essa prática e realidade escrita em contos, ficou mais fácil o entendimento”. 

A Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egidio Brunetto foi construída pelas trabalhadoras e trabalhadores camponeses do MST. Um de seus objetivos é contribuir na formação técnica, organizativa e política com base agroecológica dos povos do bioma mata atlântica no desenvolvimento de tecnologias e pesquisas apropriadas à agricultura familiar.

Edição: Camila Salmazio e Daniela Stefano