Minas Gerais

DENÚNCIA

“Todos dormem no chão, onde os alimentos também são colocados”, denunciam boias-frias

Trabalhadores rurais relatam maus tratos em canaviais de Minas Gerais

Especial para o Brasil de Fato |
Rogério Paiva
Rogério Paiva - Ascom MPT

Trabalhadores rurais, contratados para trabalhar em canaviais para uma empresa de Serra dos Aimorés, no Sudeste de Minas Gerais, próximo a Nanuque, denunciam que foram enganados por um “gato” e por empreiteiros e estão em situação precária na cidade. Sem recursos, com alimentação escassa, e às vezes estragada, estão devendo o aluguel de uma casa que, pelo
prometido, teria que ser pago pelos contratantes; não receberam o reembolso do transporte até a cidade e devem também as compras de alimentos que fizeram no comércio local.
Segundo um deles, que preferiu não se identificar, alguns já sofreram cortes, principalmente nas pernas, no trabalho na roça, e não há assistência médica. A empresa, segundo ele, é a Destilaria de Álcool Serra dos Aimorés, Dasa. O trabalhador rural também citou a Agro Onione, da Bahia.
“A maioria de nós veio de Berilo, próximo a Araçuaí. Eles mandam o ´laranja’ buscar a gente lá. Chegamos há 12 dias, mas estamos registrados há oito. Somos cinco morando na rua Iguaçu, 129, em Serra dos Aimorés. Fomos contratados por um ‘gato’, que se chama Dário, e estamos registrados com o empreiteiro conhecido como Carlos Henrique. Vivemos em uma situação
constrangedora. Todos dormem no chão, onde os alimentos também são colocados. Amolamos facão sem caixilho. Eles prometeram nos reembolsar a passagem, pagar o aluguel e mobiliar a casa. Nada disso foi cumprido. Devemos o comércio, onde compramos mantimentos, e o aluguel. Quando chegamos, tivemos que comprar tudo lá. Há outras casas cheias de trabalhadores aqui perto”, disse.
Além das precárias condições de trabalho, a alimentação é insuficiente e a assistência médica não existe. “A situação é feia. Vamos para roça de ônibus e a água que nos servem está sempre quente. Estamos comendo marmitex, que é pequeno e, na maioria das vezes, chega muito tarde à roça, com a comida já estragada. Tem pessoas com problema de saúde e sem qualquer assistência médica por parte da empresa. Tem gente que ficou de cama, com a perna cortada e coluna travada. Não temos horários de almoço na roça. Eles não aceitam que a gente reclame. Já procuramos o sindicato da cidade e não fomos atendidos. Precisamos de apoio urgente”, complementa o trabalhador.
Respostas das empresas
O gerente geral da Dasa, Ângelo Márcio, admitiu que existe um empreiteiro chamado Carlos Henrique que fornece corte de cana para várias usinas. No entanto, segundo ele, a destilaria não tem qualquer responsabilidade com a contratação de trabalhadores rurais. “A companhia compra a cana na esteira. Antes disso, a demanda é dos produtores, que têm a responsabilidade de coordenar a colheita e o transporte. Eles são credenciados. Não conheço nenhum Dário, mas trabalhamos com um Carlos Henrique, que corta em condomínios para várias usinas. Nossa responsabilidade começa quando o produto entra na usina e temos trabalhadores nossos”, diz.
Em contato por telefone, um representante da Agro Unione disse que a empresa não tem mais contrato com a Dasa. O grupo baiano arrenda a terra, planta, colhe e entrega o produto às destilarias. Ângelo Márcio, da Dasa, confirmou que o contrato entre as empresas acabou.

Edição: Joana Tavares