Coluna

Rede Globo facilitou o trabalho sujo no WhatsApp de Bolsonaro

Imagem de perfil do Colunistaesd
A Rede Globo de Televisão  é a mesma que fornece farto material de distribuição nos grupos do bolsonarismo
A Rede Globo de Televisão é a mesma que fornece farto material de distribuição nos grupos do bolsonarismo - Reprodução/RedeGlobo
A imprensa comercial brasileira é fiadora desse cenário de crise

O trabalho criminoso de distribuição de mentiras e teorias alucinadas no WhatsApp pelos apoiadores de Bolsonaro está na pauta nacional. O Brasil de Fato já havia discutido esse tema no início do mês. Inimigos irreais - comunismo, bandeira vermelha, kit gay - foram personificados em um inimigo comum, o PT, alçando o candidato da extrema-direita ao posto de favorito para resolver "tudo que está aí".

Continua após publicidade

A distribuição de conteúdo por essas contas pagas por empresários amigos do candidato extremista, segundo a Folha de São Paulo, pode chegar R$ 12 milhões em apenas um dos contratos. Mas além de memes estapafúrdios e vídeos com apoios de religiosos neopentecostais, o trabalho sujo do "time de Bolsonaro" em manipular as sensações do eleitor contou com outro trabalho inestimável da imprensa brasileira, que há pelo menos 13 anos credita somente ao PT a culpa da corrupção nacional.

A Rede Globo de Televisão, que hoje é tratada com desdém e recebe ameaças do líder das pesquisas, é a mesma que fornece farto material de distribuição nos grupos do bolsonarismo. São trechos de reportagem com forte conteúdo editorial, sempre repetindo as acusações dos procuradores e das delações premiadas da Lava Jato, todas, colocando o PT como responsável pelo "maior escândalo de corrupção da história", sem explicar quais dados reforçam essa premissa. As vinhetas das reportagens, que misturam manchas de petróleo com o vermelho da bandeira do PT, economizam tempo e dinheiro dos amigos empresários de Bolsonaro. 

O desequilíbrio no tratamento da imprensa contra o PT, os estardalhaços e coberturas ao vivo dos depoimentos de petistas à Lava Jato, os incessantes vazamentos de delações premiadas contra membros do governo em detrimento ao completo ocultamento de escândalos de corrupção de outros partidos dão verossimilhança à manipulação que corre solta no WhatsApp.

Acrescente-se a isso o desdém da imprensa em desmentir (ou dar espaço para o desmentido de) histórias como a do kit gay, dos dólares de Cuba, do avião do filho de Lula e outros absurdos; novamente facilita o serviço sujo que ameaça a democracia.

A colunista Miriam Leitão, que em um esforço crítico discordou da tese de que Fernando Haddad seria o radical de esquerda em oposição a Bolsonaro, tem suas colunas antipetistas colocadas à disposição para dizerem que, agora, está vendida ao PT ou a serviço da Globo Comunista. Para o jogo sujo da equipe de apoio a Bolsonaro foi fácil afirmar que Arnaldo Jabor apoia o "mito", tamanho era o ódio de seus editoriais, sucessivos, contra o PT.

A política externa brasileira, elogiada por especialista e tratada de forma desonesta por nossos meios de comunicação de massa, também é alvo fácil da manipulação. Como o fascismo precisa de um inimigo externo para ameaçar e impor medo, nada melhor do que comparar o Brasil com a Venezuela ou Cuba. Claro que a campanha de Bolsonaro não diz nada sobre o Programa Mais Médicos, que ainda mantém mais de 10 mil excelentes profissionais cubanos no país, pois sabem que nas pesquisas de opinião esses médicos são muitíssimo bem avaliados pelo povo. Nada nos vídeos mambembes do bolsonarismo é por acaso.

Mas a esperança da democracia prevalecer sempre existe. O crime de Caixa 2 de Bolsonaro, tipificado no Código Eleitoral pelo artigo 350 da Lei 4.737/1965, deve ser investigado pelas autoridades competentes ou julgado pelo povo nas urnas.

A manipulação das sensações do eleitor pode chancelar o poder aos autoritários de ontem, ao que parece, os militares que detêm o comando político da campanha de Bolsonaro. Dos alvoroçados generais que ameaçam a democracia pelo Twitter à violência urbana do bolsonarismo, todo um esforço civilizatório no Brasil, empreendido desde a Constituição de 1988, está sob ameaça. E a imprensa comercial brasileira é fiadora desse cenário de crise.

*Jonatas Campos é jornalista. Ex-repórter de jornais locais, da Revista Caros Amigos e ex-correspondente na Venezuela pelo Opera Mundi e Brasil de Fato.

Edição: Daniela Stefano