ELEIÇÃO

ENTREVISTA | Governador da Paraíba diz que eleger Haddad é optar pela Democracia

Ricardo Coutinho analisa a disputa para presidência da República e se contrapõe ao projeto fascista de Bolsonaro

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Durante entrevista, Coutinho disse que Haddad representa emprego, educação e democracia.
Durante entrevista, Coutinho disse que Haddad representa emprego, educação e democracia. - Assessoria

A disputa eleitoral para Presidência da República entre dois projetos distintos de governo coloca para os estados brasileiros a difícil tarefa de se posicionar frente à conjuntura. Analistas referendam o que o atual governador da Paraíba já declarou sobre os presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), que seria o projeto da democracia em contraposição ao da barbárie. Para conversar sobre esta e outras questões, fomos entrevistar Ricardo Coutinho (RC), governador da Paraíba pelo PSB por duas vezes e ex-prefeito de João Pessoa por igual período de tempo. Confira agora suas análises sobre o período que enfrentamos e os desafios para a região Nordeste.

BdF- Quais são os projetos que estão em disputa no segundo turno das eleições para presidente?

RC - Na essência, um projeto democrático, pela tradição, pela história, não só do candidato, mas das forças políticas que compõem, que é o de Fernando Haddad. Fernando Haddad não é uma candidatura de esquerda, é uma candidatura do campo democrático. A outra candidatura é uma candidatura que flerta com o fascismo, que representa os piores sentimentos que a humanidade já viu, de racismo, de homofobia, de preconceito, e, misturado a isso tudo, um profundo desconhecimento da administração pública e uma ausência total de um projeto nacional. E essa disputa tem outros ingredientes que estão no jogo, dentre eles uma manipulação criminosa do grau de informação, particularmente através das mídias sociais; uma manipulação que vem de fora, aquilo que foi feito com Trump. A nação pode pagar com uma escolha mal feita no próximo dia 28 de outubro.

BdF - Por que Haddad é um aliado do governo e o que representaria a sua vitória para o Nordeste?

RC - Haddad é um aliado porque é uma pessoa que defende a democracia. Bolsonaro já disse que o governo que fosse contra ele, ele trataria de forma secundária. Então, para a Paraíba e para a normalidade democrática é essencial que Haddad seja eleito, é a garantia da Democracia. Além disso, é muito grave o conceito que Bolsonaro tem do povo nordestino; ele cultiva o preconceito e o ódio, e isso está sendo feito abertamente contra negros, contra mulheres, contra homossexuais, enfim, contra a sociedade. O Nordeste, naturalmente, não pode querer alguém que discrimine. Haddad é o melhor que existe nessa disputa para o Nordeste, para Paraíba, mas também para o Brasil. A vitória de Haddad representa propostas que dialogam com o governo da Paraíba, como a de retomar as obras paradas, que tem uma capacidade enorme de gerar empregos e de diminuir a taxa de mais de 14 milhões de desempregados. A outra questão diz respeito à educação. O Brasil jamais sairá desse surto de violência se não fizer uma aposta na educação, jamais! Pode até chegar riqueza, mas não sai do surto da violência. E o terceiro aspecto que eu acho mais importante é que o Brasil está com sua democracia doente. É preciso costurar essas bordas, essas feridas; Haddad tem um perfil adequado para tudo isso, e eu acho que essas três questões são essenciais: emprego, educação e democracia.

BdF- Como convencer o eleitor de que Haddad é a única via democrática possível na atual conjuntura?

RC - Eu estou convencido de que o eleitor sabe disso. Pode até não estar fazendo a escolha pela democracia, mas é impossível que alguém não saiba o que é que move Bolsonaro. Porque ele mesmo fala que o negro pesava sete arrobas e não servia nem para procriar; foi ele que disse agressões contra os indígenas, destratou o povo nordestino; foi praticando claramente a misoginia, rebaixando as mulheres. Ele representa os interesses da indústria bélica [armas], isto não é à toa, existe um interesse econômico por trás que é o da indústria bélica, que trabalha para que as armas sejam liberadas e eles possam vender muito e lucrar muito, mesmo que às custas do sangue do povo brasileiro, de mais sangue ainda!

A eleição se transformou numa disputa religiosa. Ninguém quer saber o que Bolsonaro entende de juros. Aliás, as pistas estão aí, ele quer acabar com o SUS e com as universidades públicas, quer apenas o ensino fundamental à distância, o que é uma bobagem e uma demonstração de quem não entende absolutamente nada, porque o ensino fundamental jamais poderá ser à distância. Bolsonaro não tem capacidade de governar um município, um estado e muito menos um país! Esse pessoal aí está vivendo mais na raiva emanada por essa campanha. A história do Brasil demonstra que o período onde a corrupção foi mais combatida foi no governo do PT.

BdF- O que o governador diria para o eleitor que acredita que Bolsonaro é uma mudança “a tudo isso que está aí”?

RC - Eu diria que ouvisse o próprio Bolsonaro. Bolsonaro é alguém que tem 30 anos de mandato. Como é que essa pessoa pode se dizer antissistema? Ele teve 61 milhões de reais das suas emendas ao logo dos 30 anos como deputado. Colocou apenas 200 mil reais para a segurança, ou seja, ele nunca, nunca quis dialogar com a segurança. Ele não tem nenhum histórico que o leve a ser a pessoa confiável para conduzir esse país. Ele diz que não entende de economia, ele mesmo diz. Um cara que não mede as consequências ao dizer que vai privatizar Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobras! Então, o que eu diria é: escutem sem paixão tudo aquilo que Bolsonaro disse e você vai chegar à conclusão de que essa pessoa não merece e nem pode ser presidente de um país das dimensões que o Brasil tem, oitava ou nona economia do mundo.

Edição: Heloisa de Sousa