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Privatizar Cemig e Copasa geraria contas mais caras e queda na qualidade do serviço

Candidaturas de Zema e Anastasia sinalizam para venda de empresas

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Pesquisa do instituto Ipsos, divulgada no final de agosto, mostrou que 83% dos entrevistados não aprovam as privatizações
Pesquisa do instituto Ipsos, divulgada no final de agosto, mostrou que 83% dos entrevistados não aprovam as privatizações - Foto: Gil Leonardi/Imprensa-MG

A chegada de Romeu Zema (Novo) e Anastasia (PSDB) ao segundo turno causou euforia em investidores que querem a privatização da Copasa e Cemig. Um dia após a votação, as ações das duas empresas tiveram alta no mercado financeiro. É que os dois candidatos são identificados como representantes da pauta privatista. Seus governos poderiam entregar empresas estratégicas.

A campanha de Anastasia não defendeu privatizações, mas o histórico de governos tucanos gerou essa expectativa no mercado. Já Zema foi explícito: “Estaremos preparando a privatização assim que o valor de mercado delas [Cemig e Copasa] subir”, declarou o empresário ao jornal Infomoney. Uma semana depois, recuou da proposta. “Privatizar empresa, nessa altura do campeonato, pouco resolve”, retificou, durante encontro com prefeitos, na terça (17).

Trabalhadores criticam

A entrega para o setor privado pode fazer com que os serviços percam a qualidade e fiquem mais caros. É o que prevê o eletricitário Jefferson Silva, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG). “O interesse da iniciativa privada nos ativos públicos é maximizar lucros para acumular mais riqueza. Isso se faz aumentando o valor das tarifas e reduzindo os custos de pessoal, o que torna mais precário o fornecimento”, adverte.

Ele lembra o que aconteceu com a Usina de São Simão, no Triângulo Mineiro, privatizada há um ano. Na época, cada megawatt gerado por hora na usina tinha uma tarifa de R$ 66, sendo que o custo de operação mais a margem de lucro era de cerca de R$ 22. “O edital de venda de São Simão foi a R$ 142 por cada megawatt/hora de energia gerada. Então, o consumidor vai pagar um preço muito alto para os chineses, que agora são os controladores”, afirma Jefferson Silva.

Por fim, ele explica que, ao comprar uma usina hidrelétrica, a iniciativa privada não adquire apenas a barragem, mas também o direito de uso das águas, o que afeta a vida da região onde a usina está instalada. “Existem outras atividades econômicas municipais que se utilizam das águas, na irrigação, esporte, lazer, turismo. O controle dessas águas pode impedir a utilização ou cobrar pelo uso das águas”, explica.

O sindicato que representa os trabalhadores da Copasa, o Sindágua-MG, elaborou uma carta aos dois candidatos, exigindo compromisso com a companhia. “Uma das nossas bandeiras é o empenho para que o saneamento alcance a universalização e cumpra a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, ou seja, que todo cidadão tenha acesso à água potável e ao tratamento de esgotos sanitários e industriais, preservando os recursos hídricos de qualquer contaminação”, afirma o documento.

Constituição estadual protege empresas públicas

Em 2001, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou uma emenda constitucional que protege as estatais mineiras. A PEC 50 previu que as elas só poderão ser vendidas com o voto de três quintos dos deputados e maioria da população em referendo. Desta forma, o povo mineiro tem o direito de decidir se uma empresa pode ou não ser privatizada.

População é contra privatizações

Pesquisa do instituto Ipsos, divulgada no final de agosto, mostrou que 83% dos entrevistados não aprovam as privatizações. Há uma grande rejeição está entre jovens de 16 a 24 anos (63% são contra) e adultos na faixa etária de 60 a 65 (62%) ou com mais de 66 anos (64%).

Edição: Joana Tavares