Mobilização

LGBTs Sem Terra articulam ações unificadas contra o fascismo

Movimento ressalta importância de combater o discurso violento do candidato Jair Bolsonaro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Plenária aconteceu no último sábado (20) na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema
Plenária aconteceu no último sábado (20) na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema - Foto: Comunicação MST

O candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) frequentemente ataca a população LGBT e movimentos populares em sua campanha. Concomitantemente, são registrados casos de agressões e até assassinatos de transexuais por apoiadores de Bolsonaro.

Neste contexto, o Coletivo LGBT do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se reuniu com outras entidades e realizou a plenária LGBTI+ contra o fascismo, junto do Curso para Militantes LGBT Sem Terra, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), entre os dias 17 e 20 deste mês. 

“Esse discurso de ódio, afirmado pelo Bolsonaro, coloca em risco a vida de nós LGBTs do campo, que estamos na luta pela terra, sofremos esse duplo risco, porque tanto é condenado nossa existência como LGBT, quanto a legitimidade da luta pela terra”, avalia Alessandro Mariano, assentado da reforma agrária no município paranaense de Manoel Ribas e integrante da coordenação do coletivo LGBT Sem Terra.

Mariano aponta que a violência contra população LGBT e a violência contra os trabalhadores do campo estão integradas em uma perspectiva fascista que tem ganhado espaço na sociedade.

Simmy Larrat, presidenta da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), participou da plenária e apresentou uma mesa com análise de conjuntura durante o curso, apontando o avanço do fascismo na sociedade brasileira.

“O fascismo já mostrou que avançou neste país, o que nos preocupa muito e nos deixa duas tarefas: tentar derrotar esse projeto fascista nas urnas e também nos organizar enquanto LGBT, e no campo popular e de esquerda, para enfrentar esse cenário e intensificar o diálogo com a população” , diz Larrat.

Ela ressalta que o diálogo com o campo e a periferia é fundamental para barrar a ascensão do fascismo. 

Relatos de violências

Larrat conta que a ABGLT já recebeu mais de cem denúncias de agressões físicas a população LGBT apenas no segundo turno das eleições. “Isso é muita coisa! Então aproveitamos o espaço da plenária para iniciar debates com algumas redes para nos encontrar periodicamente para ações unificadas com amplo diálogo com a sociedade”, diz.

As entidades que participaram da plenária assinaram uma carta intitulada LGBTI+ pela Democracia e contra o Fascismo, na qual afirmam:  “Ao lado da LGBTIfobia, ele [Bolsonaro] e sua campanha, também tem exalado seu ódio contra indígenas, quilombolas, bem como às lutas das mulheres e dos movimentos populares do campo e da cidade pela igualdade. Não podemos esquecer suas posições favoráveis à ditadura militar, à tortura, e aos ataques sistemáticos à construção da educação pública, gratuita e de qualidade bem como à soberania nacional e aos direito. É hora da mais ampla unidade dos setores que compreendem o risco iminente de uma tragédia caso o fascismo consiga eleger seu candidato à Presidência, também devemos trabalhar pela articulação de todas as pessoas LGBTI+ para garantir os espaços democráticos tão duramente conquistados”.

LGBTs no campo

Alessandro Mariano aponta que o MST tem reafirmado o direito de ser LGBT no campo e produzir alimentos agroecológicos. “Dado o conservadorismo na sociedade, muitas vezes as LGBTs são expulsas do campo, tanto por suas famílias que não aceitam, mas também pelo próprio processo de não ter projeto de agricultura que possa de fato desenvolver o campo, o que também expulsa as LGBTs”, afirma. 

Simmy Larrat ressalta a importância de movimentos populares debaterem a questão LGBT em seus territórios de atuação. “Em geral, as LGBTs saem do campo ou do interior e vão para as grandes cidades para vivenciar a sua sexualidade e sua identidade de gênero, porque não encontra na família e naquele território o apoio para ficar onde está e ser quem é”, disse.

Edição: Diego Sartorato