Coluna

O Nordeste prova que, sim, há esperança na virada

Imagem de perfil do Colunistaesd
Haddad participa de ato no Recife, em Pernambuco
Haddad participa de ato no Recife, em Pernambuco - Foto: Ricardo Stuckert
Há uma espontânea mobilização contra o discurso de extrema direita de Bolsonaro

A vitória mora nos detalhes, parafraseando o velho ditado alemão. Serão os detalhes que darão a vitória para Fernando Haddad ou Bolsonaro neste domingo, 28 de outubro. Alguns deles apresento aqui para defender que, sim, há esperança na virada contra a extrema direita.

Continua após publicidade

As 70 mil pessoas que nesta quinta-feira vieram ao histórico Pátio da Igreja do Carmo, no Recife, para assistir ao comício do presidenciável do PT, é um exemplo do que está ocorrendo a olhos vistos nas capitais nordestinas: uma espontânea mobilização contra o discurso de extrema direita de Bolsonaro e, logicamente, o voto em Haddad, comprovado na pesquisa do Datafolha, que apontou crescimento do petista.

No mesmo pátio onde há 320 anos foram expostas as cabeças do Zumbi dos Palmares e seus guerreiros, o candidato do PT recrudesceu o discurso contra Bolsonaro, chamando-o para o embate e pedindo a sua militância para conversar com os indecisos. Ali, também, a multidão cantou parabéns para o ex-presidente Lula, que completa 73 anos hoje. Um dos muitos amigos jornalistas que cobrem a campanha registrou-me: "o discurso era para ser esse desde o início!". O Programa Eleitoral acompanhou a tônica.

Mas vamos aos números, já que para muitos eles importam mais que os sinais subjetivos. No Datafolha, Haddad ampliou votação no Norte e o quadro manteve-se igual para os dois candidatos no Centro-Oeste. No Sul e Sudeste Bolsonaro tem ampla vantagem, com crescimentos pontuais de Haddad, inclusive na capital paulista, que governou. A soma desse pequeno crescimento nas capitais sulistas e a ampla vantagem que terá no Nordeste pode ser o fator da vitória no próximo domingo.

No Nordeste, Fernando Haddad ampliará muito. Se compararmos alguns estados do Nordeste com os estados do Sul em número de votos, veremos que aqui o petista cresce, enquanto lá o Bolsonaro manterá votação.

No Ceará, com 6,3 milhões de eleitores, Haddad avançará fortemente sob os 1,9 milhões de votos de Ciro Gomes. Apesar do bate-boca com militantes do PT, o senador eleito Cid Gomes (PDT) está em campanha. Se o ex-presidenciável, que volta de férias nesta sexta, der sinais mais claros, o petista pode colocar 2 milhões de votos na frente de Bolsonaro.

Em Pernambuco o governador Paulo Câmara (PSB), reeleito no primeiro turno, reuniu sua bancada estadual e federal, além dos 149 dos 184 prefeitos pernambucanos que lhe apoiam para orientar fortemente o voto em Haddad. Dentre os campeões, está João Campos, filho de ex-governador Eduardo Campos, que teve quase meio milhão de votos para deputado federal. Como Bolsonaro ganhou na capital, é visível o empenho do prefeito Geraldo Júlio (PSB) para virar o resultado. De lá, o presidenciável petista poderá sair com outros 1,5 milhões de votos à frente.

Na Bahia, onde já teve plena vantagem no primeiro turno, Haddad ganhou a adesão do deputado, capitão da PM, pastor da Igreja Universal, campeão de votos Pastor Isoro e seu filho, ambos ex-eleitores de Bolsonaro, o que vai diminuir a votação do extremista na capital e no segmento evangélico. A vantagem de 2,7 milhões de votos do primeiro tuno deve crescer, acrescentando-se a maioria eleitora de Ciro Gomes.

Os demais estados todos os fatores analisando acima acrescentam pontos positivos para Fernando Haddad. A ampla mobilização de setores da classe artística e a campanha mais dura do PT na televisão e nas redes sociais colocou uma dúvida crucial nos indecisos que tendiam por Bolsonaro.

Como até domingo nenhuma das duas campanhas vai querer errar, Bolsonaro, seus "garotos" e vice falastrões deverão ser trancados para não converter votos para Haddad. Este, deve ir para as ruas, para a internet e para as entrevistas de rádio e TV, buscando a mídia espontânea e chamando o capitão para a rinha. "Soldado que foge da luta? Soldado de araque", aponta o petista, sob a negativa de Bolsonaro ir aos debates. No jargão policial, "araque" é adjetivo forte, que significa falso. Quem ouve, não fica incólume.

Como disse o repórter, no discurso de Haddad, "era para ser esse desde o início!"

Edição: Diego Sartorato