PREVIDÊNCIA

Bolsonaro quer privatizar o direito fundamental da aposentadoria, afirma economista

Para Paulo Kliass, a proposta de criar um sistema de capitalização é "loucura" e atende aos interesses do mercado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Argentina e Chile não conseguiram implantar o sistema que o guru do Bolsonaro quer para o Brasil riscos são enormes
Argentina e Chile não conseguiram implantar o sistema que o guru do Bolsonaro quer para o Brasil riscos são enormes - Outras Palavras


Continua após publicidade

O candidato Jair Bolsonaro, do PSL, deu diversas declarações afirmando que não entende nada de economia e que vai deixar as decisões importantes na mão do seu guru Paulo Guedes. Mas quem é ele e o que o propõe? Para tentar entender a proposta do candidato de extrema direita para a Previdência Social no Brasil e os reais interesses do guru "posto Ipiranga" pelo tema, a Rádio Brasil de Fato entrevistou o economista Paulo Kliass, doutor pela Universidade de Paris e especialista em Gestão Pública. 

Segundo Kliass, o atual sistema de regime geral de Previdência do Brasil, que também é adotado em diversos países da Europa, é sustentável e seguro, pois une as contribuições do Estado, dos trabalhadores e das empresas para garantir os pagamentos integrais dos benefícios em vigor. "É um regime de solidariedade", disse Kliass.

Já a proposta de Jair Bolsonaro para a aposentadoria, é o oposto disso. A criação de uma sistema de capitalização, onde as contribuições mensais dos trabalhadores são "administradas individualmente" para gerar um benefício no futuro é "uma verdadeira loucura" do neoliberalismo e teve experiências fracassadas no Chile e na Argentina.

Por sinal, Kliass destaca que Paulo Guedes tem responsabilidade pela mudança que levou as aposentadorias chilenas para o fundo do poço. "Se repetir isso, Bolsonaro vai privatizar o direito fundamental da aposentadoria dos trabalhadores", disse.

No começo dos anos 1970, o Chile tinha um governo eleito democraticamente que foi derrubado por um golpe militar, liderado pelo general Augusto Pinochet.

"Então os militares resolveram transformar o país num laboratório do que viria a ser o neoliberalismo. E para isso foram buscar técnicos da Escola de Chicago, que era o berço das ideias neoliberais. O Paulo Guedes tinha acabado um doutorado lá e foi chamado pelos colegas do Chile. A previdência então passou para o sistema de capitalização", disse.

O resultado foi um fracasso porque os trabalhadores completavam o tempo necessário para se aposentar, porém, o dinheiro no fundo de capitalização era insuficiente para uma vida digna.  "Esse modelo deles é um loucura e atende apenas o interesse do sistema financeiro. É uma roubada, literalmente", disse Kliass. 

O economista também comentou as propostas do candidato Fernando Haddad, do PT, de reforçar o atual sistema de Previdência e revogar as medidas do governo golpista Michel Temer em relação à Previdência Social e à legislação trabalhista. 

Kliass avaliou que um eventual governo Bolsonaro seria a "versão 2.0 do golpe de 2016" pois a campanha do Bolsonaro já ventilou que deverá manter boa parte dos técnicos e economistas de Michel Temer. "Em dois anos, o governo que está aí gerou um retrocesso de 20 anos na economia e nos direitos trabalhistas", disse Kliass. 

Edição: Pedro Ribeiro