AMEAÇA À DEMOCRACIA

Movimentos organizados dizem não à violência pregada por Jair Bolsonaro

Marcas da ditadura militar no Brasil mostram o erro incalculável de um governo autoritário para a nossa história

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Movimentos sociais do campo frontalmente ameaçados pelo candidato da extrema-direita
Movimentos sociais do campo frontalmente ameaçados pelo candidato da extrema-direita - Divulgação MST

Bolsonaro (PSL) afirmou no último dia 21 de outubro, na avenida paulista em São Paulo, que iria mandar prender seus opositores, criminalizar os movimentos sociais e considerar terrorismo quem fosse às ruas protestar contra o seu governo, caso fosse eleito. Por causa dessas declarações, movimentos sociais legítimos e organizados como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento de Luta por Moradia, sindicalistas e movimentos organizados de mulheres e juventudes seriam considerados terroristas, “marginais vermelhos”, como denominou o candidato do PSL.
Lourdes Meira, 78 anos, militante histórica da União Brasileira de Mulheres (UBM), viveu os horrores da ditadura militar no Brasil e desabafa: “Na realidade essa declaração de Bolsonaro demonstra abertamente que ele é um ditador, por todas as falas dele comprovamos isso. A ameaça de colocar todo mundo, que discordar dele, para fora do país, não devemos permitir isso. Na ditadura não existe liberdade de expressão, não temos liberdade de ir e vir, não podemos discordar de nada. Eu passei por isso e vi companheiros apanhando da polícia apenas pelo fato de pensar diferente, de querer liberdade.”
Ela conta que sofreu tortura: “Eu mesmo apanhei muito, foram muitas torturas. Muitos morreram nesse período, outros desapareceram até hoje. João Roberto, estudante de medicina aqui de João Pessoa, foi assassinado. Muitos outros foram assassinados. Os principais ataques da ditadura são no que se refere à educação, à liberdade, à cultura e à ciência. Estudantes, professores e cientistas foram cassados durante o regime autoritário da ditadura militar brasileira. O que havia de melhor na ciência brasileira foi destruída, muitos assassinatos e muitos cientistas foram embora do país. Quem pensar e tiver consciência do que foi a ditadura militar, não pode votar em Bolsonaro”.

Movimentos organizados de vários setores dizem não à ditadura

Os movimentos que lutam por moradia na cidade de João Pessoa encaram essa declaração como um grito de exclusão àqueles que lutam por direitos que estão assegurados na constituição. Segundo Gleyson Melo, integrante do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) esta é uma declaração extremamente preocupante: “só vem confirmar aquilo que os movimentos que lutam por moradia e os movimentos que lutam por direitos em geral já haviam alertando, que ele é o candidato do ódio e dos poderosos. Essa declaração chegou nas ocupações sem-teto e o pessoal tem muito consciência disso. Essa tentativa de criminalizar os movimentos e transformar os direitos sociais e quem defende isso, em criminosos, é uma fala preocupante, mas ao mesmo tempo é uma fala que alerta à população para o que estava por trás dele, e até pessoas que votavam com ele no primeiro, mudaram de posição”
 A juventude que inicia sua jornada democrática no país também se preocupa com a ameaça real às liberdades e ao direito à livre expressão, Camilla Ramalho, 21 anos, integrante do movimento Levante Popular da Juventude e estudante de psicologia, comenta que Bolsonaro não está preparado para governar um país como o Brasil: “um país de múltiplas ideias, de múltiplas pessoas, um país tão diferente. Bolsonaro vai totalmente contra qualquer princípio da Democracia, que é a liberdade de expressão. A questão de ele não aceitar a oposição às suas ideias, demonstra que ele não aceita manifestações. A história mostra que os movimentos sociais organizados foram aqueles que conseguiram conquistar os direitos. As mulheres organizadas conquistaram o voto, os trabalhadores organizados conquistaram à CLT, e muitas outras políticas públicas e leis para a população foi conquistada através das lutas dos professores, da juventude e das mulheres. E Bolsonaro quer atingir diretamente essas pessoas que querem lutar por melhorias para o país e que são contra ele. Isso me remete à Ditadura. Recentemente ele também fez uma ameaça à UNE. Podemos estar voltando à época da ditadura e isso me dá medo. As declarações dele são um crime de cunho fascista e ditatorial”.

Para a professor e cientista político, Jaldes Meneses, “Há duas coisas, primeiro que o discurso de Bolsonaro na paulista é muito representativo de quem é o verdadeiro Jair Bolsonaro. O discurso foi dirigido para o público dele [de Bolsonaro]. Do ponto de vista da tática eleitoral foi um erro, pois o resultado foi o crescimento de Haddad. No entanto, é preciso entender que Jair Bolsonaro tem a tática de avançar e recuar. Ele faz testes com o que fala, quando dá errado, ele recua formalmente no discurso, mas verdadeiramente ele é aquilo que fala, ele é aquilo que falou na Paulista”, explica.

Para Dilei Schiochet, dirigente do MST na Paraíba, Bolsonaro ameaça a vida em sua raiz social diante da declaração de que pretende fechar as escolas dos movimentos do campo: “isso é dizer que vai exterminar a vida das pessoas, matar nossas crianças, porque a escola que não educa os seus filhos a amar a terra, com certeza não é uma escola que educa para a vida. Existem várias formas de assassinar as pessoas, por exemplo, tirar da escola, do lugar de onde vivem e sonham. Ele não tem noção, não ama nem a sua própria vida, nem da sua família, e não ama a sua pátria. Ele propõe resolver os problemas do país com armas, ele incita a juventude a organizar exércitos para destruir países vizinhos. E nós precisamos do amor à terra, preservar a natureza e produzir alimentos saudáveis. É só isso que o MST propõe para esse país”.

Edição: Cida Alves