Pernambuco

MÚSICA

Do maracatu à cumbia, Maciel Salú resgata e mistura ritmos da cultura popular

Com o sexto disco lançado, o cantor e rabequeiro chama atenção para a preservação do patrimônio cultural do estado

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Maciel Salú aprendeu a tocar rabeca usando escondido o instrumento do avô, João Salustiano
Maciel Salú aprendeu a tocar rabeca usando escondido o instrumento do avô, João Salustiano - José Carbonel

Maciel Salú aprendeu em casa o que é cultura popular. Filho do Mestre Salustiano e neto de João Salustiano, cresceu em meio a maracatus, cirandas, cavalos-marinhos, cocos e a rabeca do avô, que aprendeu a tocar e afinar desde cedo. 
O olindense tem um currículo cheio, passando pelo movimento mangue beat com a banda Chão e Chinelo, adentrando na música eletrônica com a Orchestra Santa Massa, hoje fazendo parte da Orquestra Contemporânea de Olinda. De 2003 até hoje lançou seis discos solo. O seu mais atual, “Liberdade”, foi lançado em março desse ano. O disco relaciona a cultura e temas sociais, falando sobre racismo, violência, democracia e preconceito “Tudo pelo que eu passei, o racismo, o preconceito, várias coisas que já vi meu pai passar. Tudo o que anda acontecendo no Brasil, em outros países. Nós estamos em 2018 e muitas coisas avançaram, mas outras ainda precisam melhorar, principalmente para os negros, para os pobres, por isso que esse disco se chama Liberdade”, afirma em entrevista recente para o Programa Revista Brasil de Fato, veiculado na Rádio Frei Caneca FM.
Com 10 músicas autorais, Maciel também faz homenagens para a neta, na música “Luiza”, e para a esposa e produtora Rute Pajeú na faixa “Flor de Gardênia”. Do ponto de vista dos ritmos e batidas “O disco tem de tudo, tem música pop; uma levada de maracatu com bateria, baixo e rabeca; tem batidas de afrobeat, você vê um pouco de cumbia. O disco é a minha identidade”. O álbum é dirigido por Hugo Lins e a capa tem um formato de livro, com músicas, textos e poesias com o projeto gráfico desenvolvido por Mazinho Constantino.
Salú concilia o tempo de trabalho solo com a valorização da cultura popular que vive e conhece desde que se entende como ser humano. O maracatu rural, ritmo já conhecido pelos pernambucanos, e que é uma das maiores características do carnaval ultrapassa os dias de folia. O ritmo está nas sambadas em terreiros, na disputa de mestres, e está muito relacionado à entrega durante todo o ano dos seus mestre e caboclos para manter a tradição viva. 
Em 2014, um inquérito foi instaurado para apurar violações e abusos da Polícia Militar, que impedia que as sambadas acontecessem. Falando do caso, Salú evidenciou a distância entre os grupos culturais e o poder público, especialmente as secretarias municipais e estadual, que deveriam conhecer e proteger as manifestações culturais. “Uma vez um promotor disse que não sabia o que era uma sambada de maracatu, que só conhece o maracatu quando está desfilando no carnaval. As pessoas têm que entender nossa cultura e saber que ela é passada de geração em geração durante essas sambadas, tudo que eu sei foi vendo os mestres antigos a noite toda”.
Para Salú, um dos desafios para a valorização popular é a “perda” da memória, que é sistemática, quando se apaga ou apenas deixa de registrar manifestações culturais locais, que são cultivadas pela história oral, mas que precisa de outros suportes para se manter viva. “Eu fico feliz em falar disso, porque não é em todo lugar que tem espaço.”.

Edição: Monyse Ravenna