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América Latina

Um cinema útil para o povo

Livro de cineasta boliviano e do grupo Ukamau é aula de resistência e memória

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Os filmes são feitos em comum com as pessoas, não apenas a partir da visão do cineasta
Os filmes são feitos em comum com as pessoas, não apenas a partir da visão do cineasta - Foto: Fundacion Grupo Ukamau

O cinema de Jorge Sanjinés e a revolução indígena na Bolívia são complementares. O país, em que 60% da população se reconhece indígena, oficializou, em 2009, todos os idiomas das nações e povos indígenas originários e campesinos, como o aymara, quechua, guarani e outros. Ou seja, nada mais justo que os filmes bolivianos representassem essa diversidade do seu povo em seus filmes, certo? Errado! 
A Bolívia, assim como o Brasil e no mesmo período, passou por um governo militar. O regime censurou diversos filmes por não gostar da imagem que cineastas como Sanjinés transmitiam da Bolívia e do povo boliviano para o exterior.  O livro “Teoria e prática de um cinema junto ao povo”, escrito por Jorge Sanjinés e o grupo Ukamau, explica essa história e outras. Ele foi traduzido pela primeira vez pelos brasileiros Sávio Leite e Lourenço Veloso.
Além do histórico desse cinema de resistência, o livro conta sobre como produzir um cinema popular. Nele também há entrevistas com Sanjinés publicadas em veículos especializados em cinema e ainda roteiros e pré-roteiros de vários filmes do grupo Ukamau. Confira entrevista com um dos tradutores da obra.
Brasil de Fato MG - Como você conheceu o Sanjinés e o livro?
Sávio Leite - Em 2008, quando fui pela primeira vez à Bolívia, tinha o nome do Jorge Sanginés como o principal cineasta do país. Por uma coincidência eu caí na fundação dele. Lá eu assisti o filme “A nação clandestina” e comprei esse livro. Quando eu li, entendi porque não existia conteúdo sobre ele, pois ele foi muito censurado na época em que começou a fazer filmes, na década de 60. O governo da Bolívia era um regime militar, então o censuraram de diversas formas, e seus filmes não chegaram no exterior. Seus filmes também denunciam várias formas de invasão norte-americana e imperialista. E ele falava de algo muito interessante que era fazer filmes junto ao povo, e não como um cineasta branco indo para uma comunidade que só fala quechua, aimara e fazer um filme a partir da visão dele. Os filmes são feitos em conjunto com as pessoas, os atores são não profissionais e a partir daí ele foi ganhando notoriedade. 
Como foi o processo de tradução do livro?
Logo que eu voltei para Brasília quis traduzir o livro. Em 2006 fui à Bolívia e conversei pessoalmente com o Jorge Sanginez, ele deu seu aval. Eu e Lourenço Veloso passamos dois anos traduzindo o livro e para publicá-lo, lançamos uma campanha de financiamento colaborativo. Imprimimos 500 exemplares. 
Quais são os próximos planos?
Foi um prazer pessoal traduzir esse livro, é uma forma de transmitir esse conhecimento que nós sabemos tão pouco. Nós conhecemos pouco da realidade da América Latina. E agora nosso interesse é trazer os filmes dele para fazer uma mostra em Belo Horizonte, assim como aconteceu em São Paulo ano passado.
 

Edição: Joana Tavares