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Autor da canção "Lula Libre", Molinari deixa Curitiba com a esperança renovada

Cantor e escritor fez soar seu violão na Vigília Lula Livre nesta segunda-feira (5), antes de voltar à terra natal

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Molinari visitou a Vigília pela primeira vez logo após a prisão de Lula
Molinari visitou a Vigília pela primeira vez logo após a prisão de Lula - Lia Bianchini

Todas as manhãs, dezenas de militantes se reúnem em fileiras no Centro de Formação e Cultura Marielle Vive para caminhar até a Vigília Lula Livre, onde gritam o tradicional “bom dia, presidente Lula” voltados para a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Na manhã desta segunda (5), o argentino Roberto Molinari era um dos manifestantes enfileirados, com o violão a tiracolo.

A Vigília é, para ele, uma fonte de renovação da esperança. “Estávamos em formação, parecíamos um batalhão militar. Com a diferença que eu, à minha direita, carregava meu violão, enquanto os militares carregam um fuzil. Eu prefiro combater com um elemento de conhecimento e não tentar matar outra pessoa”, compara. 

Além do violão, as armas da Molinari são papel, caneta e bom humor. O escritor, poeta e músico argentino conta que, desde criança, foi incentivado pelos pais a escrever e compartilhar poesias. Na juventude, começou a trabalhar escrevendo peças humorísticas, que “contavam maneiras de ver o mundo, do ponto de vista pessoal”. A escrita dele começou a ganhar contornos políticos quando teve de explicar ao filho, no ensino básico, como e por quê os colonizadores da América Latina dizimaram os povos originários.  

“Quando fui à escola, disseram que o que eu tinha dito não era verdade. Eu falei: diga o que quiser, mas você não pode dizer uma mentira para uma criança. Os livros de História são livros oficiais, escritos pela ‘gente que ganhou’, não a que perdeu. A história não é assim”, afirma. 

A partir disso, Molinari dedicou-se a desconstruir “dados falsos da história”, concentrando seu trabalho em uma pesquisa sobre a "história não-oficial" da Argentina. O resultado da pesquisa é o livro “Disparates de la Historia Argentina” [não traduzido para o português], em que narra sua versão em tom humorístico.

O escritor acredita que a cultura e a arte são “armas poderosas” para enfrentar os resquícios da colonização que ainda são perceptíveis na América Latina.

"Queremos Lula Libre"

A primeira vez que Roberto Molinari visitou a Vigília Lula Livre foi em abril, dias depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O contato com o “fervor das manifestações contra a injustiça”, que aconteciam na Vigília, inspirou a letra de “Lula Libre”, canção que resgata os avanços sociais conquistados pelas classes populares durante os governos Lula.

“Temem você mais que a morte e abominam seu legado. Tanto humilde redimido, tanto negro doutorado”, canta Molinari, que diz ter uma admiração pela “luta e pela qualidade humana de Lula”. 

O cantor entende que, desde a primeira eleição de Lula, em 2002, houve um esforço para que os governos progressistas da América Latina trabalhassem em conjunto, potencializando as riquezas do continente e a população que nele vive. Após a eleição de governos neoliberais, tanto na Argentina como no Brasil, Molinari fala com preocupação sobre a possibilidade de os Estados Unidos retomarem alto grau de influência sobre os países latinos, promovendo retrocessos à soberania do continente.  

“Nós temos petróleo, temos água -- que vai ser mais importante que petróleo, porque a água no mundo está acabando e este continente tem uma grande reserva. Ademais, estrategicamente, a nível geográfico, [os Estados Unidos] não podem deixar à mercê, sem seu controle, o hemisfério sul”, explica.

As visitas de Molinari ao Brasil são motivadas por sua companheira, Jade Alcântara, que atualmente mora em Curitiba. O argentino volta à sua cidade natal, Buenos Aires, dentro de alguns dias, e diz que carregará em sua mala a “força e a energia” que recebeu das pessoas da Vigília Lula Livre. “[O Brasil] é um grande país, com muita boa gente, é um motor cultural de grandes artistas. É uma pena que tenha acontecido o que aconteceu. Ter eleito alguém como Bolsonaro é um espanto”, declara. 

A canção "Lula Libre", que ele promete entoar do outro lado da fronteira, é um retrato da esperança de dias melhores. 

Edição: Daniel Giovanaz