Crise

Cerca de 10 mil jovens indianos marcham para exigir criação de empregos

Jovens protestam contra descumprimento de promessa do primeiro-ministro Narendra Modi de criar 20 mi de empregos por ano

|
Jovens indianos marcham para exigir ações do governo para criação de empregos
Jovens indianos marcham para exigir ações do governo para criação de empregos - Vasudevan Narayanan

Menos de dois meses depois dos protestos históricos realizados por mulheres, camponeses e trabalhadores na capital indiana, cerca de 10 mil jovens mobilizados pela organização de esquerda Federação da Juventude Democrática da Índia (DYFI) marcharam na Rua do Parlamento em Nova Délhi no sábado (3).

Os jovens protestaram contra a indisposição do governo do partido de extrema-direita Bharatiya Janata (BJP) de tratar do problema dos altos índices de desemprego no país. Os milhares de manifestantes marcharam para fazer uma pergunta: “Cadê meu emprego?”

A mobilização reuniu jovens de 20 estados, indignados com o primeiro-ministro Narendra Modi por não criar sequer mais de 10% do número de postos de trabalho prometidos durante a campanha eleitoral de 2014.

Os milhares de jovens marcharam três quilômetros, exigindo mudanças de um governo que não conseguiu atender às demandas de educação e emprego para todos e todas.

Em 2014, o alto índice de desemprego e o aumento do custo de vida, combinados a uma grave crise agrária, levaram à queda do governo comandado pelo Congresso Nacional Indiano (INC). Nas eleições daquele ano, Narendra Modi, liderando a campanha do BJP, prometeu criar 20 milhões de novos postos de trabalho por ano caso fosse eleito.

A promessa foi central para a vitória de Modi e seu partido, mas, ao chegar ao poder, em vez de reverter as políticas neoliberais da gestão anterior, que produziu o fenômeno de “crescimento sem emprego”, o novo governo continuou a implantação dessas medias com ainda mais rigor.

Declínio

Estudos com base em dados oficiais mostraram que, nos primeiros dois anos do governo do BJP, o país fechou 0,4% de seus postos de trabalho ao ano, impactando mais de 3,7 milhões de pessoas.

A construção, que absorvia muitos dos camponeses que deixavam a zona rural, foi um dos setores mais afetados no período, com uma estimativa de meio milhão de postos de trabalho fechados. A contratação na indústria manufatureira indiana atingiu seu pior índice em 12 anos.

Além desses problemas, no fim de 2016 o governo decidiu retirar de circulação as cédulas de 500 e 1.000 rúpias (cerca de R$ 25 e R$ 50, respectivamente), alegando que a medida serviria para combater o mercado negro e o financiamento de organizações terroristas, alçando a Índia à era dos meios eletrônicos de pagamento. Além de não conseguir os resultados esperados, muitos setores que recebiam pagamentos principalmente em espécie acabaram indo à falência.

Em 2017, o setor de tecnologia da informação da Índia, importante fonte de postos de emprego para jovens com formação e falantes de inglês, demitiu 56 mil trabalhadores e trabalhadoras – uma queda ainda pior que a do auge da crise financeira de 2008. Neste ano, essa indústria teve um declínio de 32% no índice de emprego, maior taxa entre todos os setores do país. Uma análise com base no relatório da consultoria McKinsey and Company indica que 600 mil engenheiros empregados no setor serão demitidos até 2020.

Outros 40 mil trabalhadores e trabalhadoras foram dispensados do setor de telecomunicações no ano passado e, segundo relatório da CIEL HR de abril de 2018, outros 80 a 90 mil postos podem ser fechados nos primeiros três trimestres deste ano. A perspectiva da empresa é que o desemprego na Índia se aprofunde ainda mais até 2019.

No ato de sábado, o presidente da DYFI, Mohammed Riyaz, apontou que dados oficiais do governo indicam que 58,3% dos trabalhadores e trabalhadoras com formação superior estão desempregados. No caso de pós-graduados, o índice é ainda maior – 62,4%.

Esse cenário leva ainda ao crescimento de outro problema: cerca de 37% da mão de obra indiana está no subemprego. No estado de Haryana, muitos jovens com diploma de pós-graduação acabam trabalhando como policiais, com remuneração mensal básica entre 2 e 6 mil rúpias (cerca de R$ 100 a R$ 300 reais).

Para piorar, quando perguntado sobre o aumento do desemprego, o primeiro-ministro Narendra Modi ignorou o problema, afirmando que aqueles que conseguem garantir um ou dois dólares por dia vendendo comida na rua também trabalham, mas não figuram nas estatísticas.

“Onde ele espera que a gente venda? Na rua, claro – onde a polícia apreende nossos carrinhos, alegando que são ilegais, e joga fora a comida. Todo nosso investimento se perde”, afirmou à Newsclick Dinesh Singh, que participou do ato de sábado.

Edição: Peoples Dispatch | Tradução: Aline Scátola