Pernambuco

DEMOCRACIA

No Recife, Boulos defende que momento atual exige união das forças democráticas

Na UFPE, dirigente do MTST fez críticas a medidas anunciadas por Bolsonaro e apontou desafios para os próximos períodos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Atividade aconteceu no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco
Atividade aconteceu no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco - Marcos Barbosa

Na noite desta segunda-feira, Guilherme Boulos, candidato à presidência pelo PSOL nas últimas eleições e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), esteve na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) dialogando com estudantes, técnicos e professores, em evento organizado pela Frente Povo Sem Medo. A ação reuniu cerca de 900 pessoas e assumiu um tom crítico em relação às recentes ameaças sofridas por alunos e professores da universidade, apontando o evento como uma resposta a essas tentativas de intimidação.

Antes da fala de Guilherme Boulos, outros nomes da cena política pernambucana realizaram breves discursos, dentre eles Dani Portela (PSOL), Amanda Palha (PCB) e Eugênia Lima (PSOL). Também Jô Cavalcanti (PSOL) fez um breve discurso enquanto representante das Juntas, grupo de cinco mulheres que inauguram uma experiência de mandato legislativo coletivo, grande novidade das últimas eleições aqui no estado. Nos pronunciamentos, foram mencionados temas como a necessidade de defesa da democracia e o papel da universidade como espaço de livre pensamento. Todas as falas trouxeram também severas críticas ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e ao projeto Escola Sem Partido, apoiado pelo futuro governante do país.

Guilherme Boulos iniciou seu discurso “parabenizando” Pernambuco e relembrando que, aqui no estado, Jair Bolsonaro foi derrotado nas urnas, apresentando o nordeste como importante polo de resistência ao conservadorismo. O dirigente do MTST também afirmou que Bolsonaro foi “eleito presidente, não imperador ou ditador”, completando que o futuro presidente, que já fez declarações autoritárias e de fechamento para o diálogo com a oposição política, terá que se submeter à Constituição e respeitar as garantias constitucionais e liberdades democráticas, dentre elas a de expressão e opinião.

 Em seguida, Boulos fez críticas ao projeto de governo de Bolsonaro, definido por ele como “liberal na economia, autoritário na política e moral nos costumes”. Dentre as principais medidas já anunciadas por Bolsonaro, Boulos destacou a Reforma da Previdência, o fim do Ministério do Trabalho, a “Lei Antiterrorismo” e o projeto Escola Sem Partido como exemplos de retrocessos para a democracia brasileira. Também foi lembrado, em sua fala, o ex-presidente Lula da Silva, atualmente preso de maneira injusta, segundo o dirigente do movimento sem teto, que aproveitou o momento para fazer uma fala em defesa de sua liberdade.

Em relação à extinção do Ministério do Trabalho, Guilherme Boulos alertou que é nesse ministério onde está sediada a fiscalização de trabalho escravo, infantil e todas as outras violações de direitos no mundo do trabalho. Sobre a Lei Antiterrorismo, ele disse que os movimentos sociais seguirão resistindo e fazendo oposição ao governo conservador e que a única forma de acabar com movimentos como o Sem Teto e o Sem Terra é fazendo reforma urbana e agrária. A respeito do projeto Escola Sem Partido, Boulos declarou que Bolsonaro e seus apoiadores “querem impor um projeto de escola com censura”, enquanto que as forças progressistas defenderiam “escolas e universidades democráticas, espaços de resistência à intolerância e ao pensamento único”.

Desafios para as forças democráticas

Antes de concluir seu discurso, Guilherme Boulos afirmou que a conjuntura política atual exige que as forças democráticas estejam atentas a três importantes desafios. O primeiro deles seria a construção de uma Frente Ampla Pela Democracia, para defender as liberdades democráticas e os direitos, frisando que o momento exige que “diferenças sejam minimizadas em prol daquilo que é comum e une a todos os setores preocupados com a democracia”.  

A segunda tarefa apontada seria focar no “trabalho de base, retomar a conexão com o povo e parar de falar apenas para nós mesmos”, reforçando que muitos setores da sociedade que votaram em Bolsonaro são formados por setores das classes médias e baixas desiludidos com o sistema político mas que, em breve, perceberão as contradições do governo do presidente eleito, de forma que é importante estar aberto para dialogar com esses grupos. O terceiro e último desafio apontado é “não abrir mão dos nossos sonhos”, afirmando que é preciso continuar lutando pela construção de um país sem machismo, racismo e LBGTfobia.

Edição: Vanessa Gonzaga