Ataque à saúde

Rede de Médicos Populares lamenta a saída de Cuba das periferias do Brasil

Saída de Cuba significa a perda de milhares de profissionais médicos e comunidades do País sem acompanhamento clínico

|
Eficácia do Mais Médicos ficou reconhecida pela diminuição da mortalidade infantil e aumento de municípios que aderiram ao programa em 2018
Eficácia do Mais Médicos ficou reconhecida pela diminuição da mortalidade infantil e aumento de municípios que aderiram ao programa em 2018 - Arquivo Saúde Popular

A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares divulgou nota, nesta quarta-feira (14), de agradecimento a Cuba e aos profissionais cubanos pela participação no Programa Mais Médicos.

Para os profissionais que compõem a Rede, Cuba demonstra em seu exemplo cotidiano que a medicina pode ser para todos. “Exemplo de que as favelas, o sertão e a Amazônia podem ter médicos. Exemplo de que o pobre pode ser médico. Exemplo que o negro pode ser médico. Exemplo de que o Estado deve garantir Saúde como um Direito. Exemplo de amor latino-americano”, declara o coletivo.

Confira a íntegra documento:

Nota de Agradecimento a Cuba e aos médicos cubanos pela participação no Programa Mais Médicos

O Programa Mais Médicos, aprovado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff, inclui medidas para ampliar o acesso à saúde pública da população brasileira. As medidas consistem em recursos para a construção de unidades da Estratégia Saúde da Família, aumento de vagas de medicina nas universidades, abertura de cursos de medicina e contratação de médicos para trabalhar em áreas de histórico desprovimento ou alta rotatividade, como as periferias de grandes cidades, distritos sanitários indígenas (DSEI), quilombos e interiores.

Nestes cinco anos de Programa Mais Médicos, Cuba participou com cerca de 20 mil médicos, assistindo a milhares de brasileiros na Atenção Primária a Saúde (APS). A eficácia do Programa Mais Médicos ficou reconhecida pela diminuição da mortalidade infantil nos municípios e pelo aumento de municípios candidatos a receberem médicos, que em 2018 chegou a 900.

Hoje, dia 14 de novembro, o Ministério da Saúde de Cuba informou que não continuará participando do Programa Mais Médicos devido às recentes declarações de Jair Bolsonaro quanto às mudanças de contratação dos médicos cubanos, em que se questiona a qualidade da formação e os termos de contrato com a OPAS.

A Rede de Médicas e Médicos Populares recebe a notícia com tristeza por saber que a retirada de Cuba do Programa Mais Médicos provocará a perda de cerca de 8.500 profissionais localizados em áreas de difícil provimento, deixando milhares de pessoas vulneráveis à falta de consultas e acompanhamento clínico. Compreendemos que o momento político em que o Brasil se encontra, de avanço do fascismo e das ameaças às políticas públicas, coloca em risco a presença dos médicos cubanos e o respeito aos termos de contrato com a OPAS.

A RNMMP agradece ao trabalho realizado pelos médicos cubanos nestes 5 anos. O PMM mudou a realidade de milhares de pessoas em periferias de grandes cidades, sertões, quilombos, DSEIs e contribuiu para que o povo que estava antes no esquecimento pudesse começar a ter acesso a um médico. Cuba, notória por ações de brigadas de solidariedade em regiões de desastres e epidemias desde os anos 1960, nos deixa o legado do que é a solidariedade com outras nações e a importância da saúde enquanto direito.

Recebam nosso sorriso mais sincero desse povo brasileiro que se sentiu acolhido pelo exército de batas brancas, e que seguirá na luta de ideias e na realização do sonho de construir nossa Pátria Grande.

 

Brasil, 14 de novembro de 2018.

Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares

Edição: Cecília Figueiredo