Desigualdade

Em quatro anos, taxa de desemprego entre negros cresceu 73,3% na Grande São Paulo

Dados comparativos demonstram que a questão racial influencia nas oportunidades de trabalho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Entre 2016 e 2017, a taxa de desemprego entre os negros, nas cidades que compõem a região metropolitana de São Paulo, cresceu 7,21%
Entre 2016 e 2017, a taxa de desemprego entre os negros, nas cidades que compõem a região metropolitana de São Paulo, cresceu 7,21% - Nelson Almeida / AFP

O desemprego entre os negros saltou 73,3% em quatro anos, segundo o levantamento da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), referente ao ano de 2017. A taxa cresceu de 12 para 20,8 pontos percentuais. Para os não-negros, o aumento foi de 57,4% -- saltou de 10,1 para 15,9 pontos percentuais.

"Para superar as desigualdades, é necessário crescimento com emprego para todos e políticas públicas e privadas de combate às desigualdades e afirmativas em termos de igualdade de oportunidades e condições", avalia Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.

Cerca de 20,8% dos habitantes da região que se autodeclaram negros estão desempregados -- 4,9 pontos percentuais a mais que os não-negros. No levantamento feito quatro anos antes, a diferença era de 1,9 ponto percentual.

De acordo com o estudo, a evolução do desemprego entre os negros não foi amenizada pela leve melhoria da economia em 2017, que apresentou um crescimento de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Pelo contrário, a situação se agravou.

Entre 2016 e 2017, a taxa de desemprego nas cidades que compõem a Região Metropolitana de São Paulo cresceu 7,21% para negros e 4,6% para não-negros. Neste mesmo período, o emprego com carteira assinada teve queda entre os trabalhadores negros. O percentual, que era de 55,3% em 2016, caiu para 53,5% no ano seguinte. O trabalho com carteira assinada caiu também para os não-negros, de 53,7% em 2016 para 52,9% em 2017.

Sobre os tipos de cargos ocupados, o levantamento revela uma maior participação de negros na construção civil -- uma ocupação equivalente a 8,3% dos postos, enquanto os não-negros ocupam 5,5%. O setor com maior igualdade é o comércio, com 18% das vagas para negros e 17,9% para não-negros.

O perfil do desemprego na região metropolitana de São Paulo, uma das regiões mais influentes da economia nacional, reflete a situação de desigualdade de todo o país, que é agravada pela falta de políticas públicas, principalmente para as mulheres negras e os jovens

Edição: Daniel Giovanaz