PRIMEIRO DECRETO

México: Presidente cria decreto para investigar desaparições em Ayotzinapa

Ataque realizado por policiais contra 43 estudantes em 2014 nunca foi investigado a fundo, segundo familiares

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Lopez Obrador e  familiares de estudantes ressaltam, em seus discursos, necessidade de investigar crime contra os jovens de Guerrero
Lopez Obrador e familiares de estudantes ressaltam, em seus discursos, necessidade de investigar crime contra os jovens de Guerrero - Presidência do México

Novo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, empossado no cargo no último sábado (1), anunciou nessa segunda-feira (3) seu primeiro decreto presidencial, em que cria uma comissão especial para investigar a fundo o ataque e desaparecimento dos 43 estudantes rurais, da região de Ayotzinapa, no estado mexicano de Guerrero.

"Conheceremos toda a verdade sobre Ayotzinapa", disse Obrador, durante a assinatura do decreto, na presença de familiares dos estudantes desaparecidos. O presidente também garantiu que não haverá impunidade. "Todo o governo vai ajudar em esse propósito e garanto que não haverá impunidade, nem desse caso doloroso, nem de nenhum outro", foram as palavras de López Obrador.

A representante dos familiares María Martínez, mãe de Miguel Ángel Hernández Martínez, um dos estudantes desaparecidos, pediu que o caso seja esclarecido e que o Estado mexicano possa dar respostas às famílias que até hoje buscam pistas do que teria acontecido com os estudantes da escola Normal Rural Isidro Burgos, de Ayotzinapa. "Nos ajude a sair dessa sujeira em que nos deixou Enrique Peña Nieto [ex-presidente]", pediu a mãe. E completou: "pedimos que seja mais humano, estamos depositando nossa confiança no senhor".

Ato de assinatura do decreto presidencial de Andrés Manuel López Obrador que cria comissão para investigar massacre de Ayotzinapa. Foto: Presidência do México

A comissão de investigação será coordenada pela secretária de Governação, Olga Sánchez Cordero e o subsecretário de Direitos Humanos, Alejandro Encinas. "Esse é o primeiro passo para a construção do processo de pacificação e reconciliação do país", disse Encinas durante a cerimônia.

Segundo a secretária Olga Sánchez Cordero a comissão será integrada pelos pais dos estudantes e representante das secretarias (ministérios) da Fazenda e Relações Exteriores, assim como criminalistas e especialistas mexicanos e estrangeiros. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas também farão parte da equipe de investigação.

Outras decisões do primeiro dia de governo

O novo presidente mexicano anunciou ainda uma série de medidas em matéria de segurança pública. Conforme havia dito em campanha eleitoral, Obrador se reuniu hoje às 6h da manhã com o Conselho de Segurança, e o prometido é que o fará todos os dias, a essa hora, para dar respostas e soluções ao problema da criminalidade no país. Na primeira hora do dia fará um balanço da segurança no país.

Na segunda-feira, o presidente anunciou que foram enviados cerca de 35 mil policiais militares e federais, e militares da Marinha, a várias regiões do país com o propósito de deter a violência. A primeira tarefa, segundo Obrador, é ter um diagnóstico dos tipos de crimes mais comuns no México. Isso será feito por essa força-tarefa iniciada no setor de segurança pública.

Depois da reunião com o Conselho de Segurança, o presidente participou de uma entrevista coletiva, onde foi questionado se tentaria alguns acordos com os cartéis de drogas do país e o crime organizado. "Nós não vamos estabelecer nenhum tipo de acordo ilegal. Temos muito claro que tem que haver um linha divisória, em uma fronteira entre a autoridade e a delinquência. Quando essa fronteira deixa de existir é porque não existe mais autoridade", respondeu Obrador.

Edição: Mauro Ramos