SOBERANIA

Os legados da integração latino-americana há sete anos da criação da Celac

Diplomatas venezuelanos analisam o organismo que teve participação ativa de Hugo Chávez e desafiou o poder dos EUA

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
A criação desse organismo multilateral facilitou o diálogo e a relação entre os países do bloco
A criação desse organismo multilateral facilitou o diálogo e a relação entre os países do bloco - Governo da Venezuela

Há sete anos a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) realizava sua primeira reunião, em Caracas, capital venezuelana. Foi a primeira vez que representantes dos 33 países das Américas do Sul, Central, do Norte e do Caribe se reuniram sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá. Um marco na integração dos países do continente, a cúpula inaugural aconteceu no início de dezembro de 2011, e o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, que na ocasião já passava pelo tratamento do câncer, foi o anfitrião do encontro.

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Como importante líder latino-americano, Chávez, falecido em 2013, teve um papel central na articulação e na criação desse organismo regional. Em entrevista ao Brasil de Fato, diplomatas venezuelanos analisam a criação desse organismo à luz da política externa dirigida por Chávez, que além da Celac, impulsionou articulações como a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) e a União de Nações Sul-americanas (Unasul).

Para a ex-Cônsul da Venezuela e diplomata Carmen Navas Reyes, a participação protagonista da Venezuela na Celac, em 2011, e a entrada do país no Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 2012, fazem parte de uma estratégia para criar um contrapeso econômico diante dos Estados Unidos. “Não é um desrespeito aos EUA, é simplesmente uma visão de mundo onde não há um polo de poder, onde os países podem ter direito a ser livres segundo os seus próprios sistemas. Esta era a visão de Chávez, de que os países, independentemente de seu tamanho territorial, de sua população e das condições econômicas fossem países soberanos. Para nós, a soberania é vital”, afirma Navas, que dirigiu o consulado na cidade de Recife, em Pernambuco.

“Chávez rompeu a tradição da política exterior da Venezuela, que antes só seguia o que diziam os Estados Unidos, e estabeleceu relações importantes com países como Índia, Brasil, Cuba, Argentina, África do Sul. Também inseriu a Venezuela nos organismos multilaterais de ações políticas e econômicas e no Movimento dos Países Não Alinhados (MNA) como protagonista. Porque sempre fizemos parte, mas não tinha sido feita nenhuma ação realmente estratégica enquanto movimento até então”, indicou.

O vice-ministro de Comunicação Internacional do Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores, William Castillo, ressalta que essa integração que Chávez ajudou a impulsionar foi além dos governos e também chegou  à população. “Além de estruturas formais como a Petrocaribe [aliança em matéria petroleira entre alguns países do Caribe com a Venezuela] e a Unasul, foram criados mecanismos de integração com os povos e seus governos, com movimentos progressistas desses países. Essa arquitetura internacional foi o que permitiu que a Revolução Bolivariana resistisse aos embates na Organização dos Estados Americanos (OEA)”.

Na mesma linha, Navas Reyes aponta: “O respeito pelos povos é outro legado importante. A soberania popular era tão importante quanto manter a unidade latino-americana, porque os povos são soberanos e isso é o que hoje em dia mais temos que defender. Porque Chávez foi, antes de tudo, um líder popular que entendia os povos como soberanos”.

Contexto progressista

O líder venezuelano Hugo Chávez Frías fez parte de uma geração de presidentes latino-americanos que mudaram a forma de fazer diplomacia. Novos cenários na política exterior e ensaios de diversas formas de articulação regional foram construídos por Chávez e também Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, no Brasil; Evo Morales, na Bolívia; Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina; Rafael Correa, no Equador; José Pepe Mujica, no Uruguai; entre outros, com o objetivo de construir a autonomia e a soberania dos povos da América Latina.

Foi uma década de presidentes que além de convergirem politicamente, estabeleceram fortes vínculos de amizade. Como resultado das boas relações entre os mandatários, além da afinidade ideológica que compartilhavam, surgiram múltiplos organismos e outros já existentes se fortaleceram, criando uma situação dinâmica para o cenário político internacional.

A Celac, nesse contexto, representou a importância de instrumentos que reforçam a unidade soberana latino-americana. Contexto esse bem distinto ao que se vive atualmente.

Edição: Vivian Fernandes | Tradução: Luiza Mançano