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Exposição mostra cotidiano de famílias do acampamento Quilombo Campo Grande

Segundo Julio Cesar Rolim, um dos fotógrafos em exposição, objetivo é contrapor visão preconceituosa sobre o MST

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Quilombo Campo Grande existe há 20 anos, em Campo do Meio (MG)
Quilombo Campo Grande existe há 20 anos, em Campo do Meio (MG) - Joyce Fonseca

Sob um barracão, camponeses mostram mandiocas e abóbora, alimentos frutos de seu trabalho. Ao fundo, um estandarte com as palavras “força quilombola”. Essa é a descrição de uma das fotos que compõem a exposição “Retrato falado do Quilombo Campo Grande - resistência e luta”, que esteve em exposição na Vigília Lula Livre, em Curitiba, nesta segunda (10).

A exposição retrata o cotidiano do acampamento Quilombo Campo Grande, localizado em Campo do Meio, no estado de Minas Gerais. Julio Cesar Rolim, autor da foto descrita acima, explica que o objetivo da exposição é mostrar a realidade do cotidiano de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Identificando-se como “amigo do MST desde o nascimento do movimento”, em 1984, Rolim afirma que a grande mídia confunde a população, disseminando a ideia de que o movimento é composto por “terroristas e baderneiros”.

(Foto: Julio Rolim)

“Nós estamos querendo carregar o MST para as praças, para as ruas, porque nós não podemos ficar somente dentro do movimento e as pessoas não conhecerem realmente o que é o MST. Essa visão preconceituosa que as pessoas muitas vezes têm do MST tem que começar a ser mostrada de uma maneira diferente. A sociedade tem que começar a ver como funciona o MST”, diz.

O acampamento Quilombo Campo Grande, onde as fotos foram tiradas, existe desde 1998. Naquele ano, o MST ocupou as terras da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool, que foi à falência em 1996 e deixou uma dívida de R$ 300 milhões com o Estado e seus antigos trabalhadores. Em novembro de 2018, o acampamento foi alvo de uma ação de reintegração de posse, movida pela massa falida da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo, antiga administradora da Usina, que foi suspensa em 30 de novembro.

As fotos expostas na Vigília Lula Livre mostram o cotidiano das mais de 2 mil pessoas que vivem no acampamento. Entre muitos retratos, são expostas também a produção agroecológica das famílias sem-terra. No Quilombo Campo Grande, apenas entre 2017 e 2018, foram produzidas mais de oito mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão, além de uma variada produção de hortaliças, verduras, legumes, galinhas, gado e leite.

(Foto: Joyce Fonseca)

Segundo Rolim, sua visita ao acampamento foi para conhecer a realidade do movimento. Chegando lá, viu “faces de trabalhadores e trabalhadoras que precisavam ser retratados”. Ele entende que a fotografia é um meio de comunicação de fácil entendimento e que tem ganhado cada vez mais relevância e capacidade de viralização nesse momento de comunicação em redes.

A exposição é composta por fotos de Rolim e dos fotógrafos Joyce Fonseca, Isabelle Medeiros e Dowglas Silva. Depois de Curitiba, a “Expofoto Retrato falado do Quilombo Campo Grande - resistência e luta” deve ir para Florianópolis, Santa Catarina. O objetivo, de acordo com Rolim, é ocupar o máximo de “praças, colégios e universidades do país”, não só com as fotos do Quilombo Campo Grande, mas também de outros acampamentos e assentamentos do MST.

Rolim diz desejar que, assim como ele e seus companheiros de fotografia que tiveram a iniciativa de fazer essa exposição, cada vez mais pessoas se sintam também responsáveis por conhecer a realidade do movimento e disseminar uma visão desmistificada sobre o que é ser sem-terra.

“Para tirar fotografia e mostrar a realidade de um povo, você não precisa ser fotógrafo, basta ter vontade, basta ter anseio no coração de fazer o melhor. Nós não podemos mais admitir que esse pessoal continue sendo massacrado e nós fiquemos sem mostrar a verdadeira realidade daquilo que o MST desenvolve em suas lavouras”, afirma.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira