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DNA

Coluna Ciências | Lulu e Nana: as primeiras humanas geneticamente modificadas?

Técnica pode avançar a ciência, mas também retroceder a ideias nazistas

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
A notícia, apesar de ainda não confirmada, atraiu a atenção do mundo e foi alvo de muitas críticas
A notícia, apesar de ainda não confirmada, atraiu a atenção do mundo e foi alvo de muitas críticas - Foto: Reprodução

O final de novembro reservou uma grande surpresa para a comunidade científica. Foi anunciado pelo pesquisador He Jiankui, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Shenzen, na China, o nascimento dos primeiros humanos com o DNA editado artificialmente.
A notícia, apesar de ainda não confirmada uma vez que o cientista não publicou oficialmente seu trabalho, atraiu a atenção do mundo e foi alvo de muitas críticas. Isso porque a técnica aplicada é muito recente e necessita de um longo caminho de testes antes de ser usada com segurança para gerar novos indivíduos, o que foi ignorado pelo pesquisador, que fez tudo de forma muito escondida e sem levar em consideração os aspectos éticos e de biossegurança. 
Contudo, se for verdade, o feito é histórico. Jiankui utilizou um método que começou a se desenvolver há 30 anos, chamado CRISPR. Tal técnica se baseia em um mecanismo de defesa que bactérias possuem contra os vírus que as invadem. Quando um vírus infecta uma bactéria, ele liga seu material genético ao DNA bacteriano e força a célula a produzir novos vírus. A bactéria possui um sistema de defesa que consegue localizar o material genético viral e eliminá-lo de forma bem específica, sem danificar o seu próprio DNA. 
Desde meados de 2010, esse mecanismo é usado para cortar e editar trechos de DNA de outras espécies. Assim, é possível eliminar ou modificar características de acordo com o nosso interesse. O uso terapêutico de tal tecnologia parece promissor.
O que He Jiankui fez foi eliminar um trecho do genoma humano que permite a infecção pelo vírus HIV. Com isso, as gêmeas Lulu e Nana nasceram imunes à AIDS. 
Porém, ainda não sabemos o quanto a eliminação de um gene pode afetar outras características inesperadamente. Ou o quanto a CRISPR pode acidentalmente afetar outros genes. Por isso as críticas feitas ao pesquisador, que pode ter colocado em risco as crianças.
Tudo isso recoloca um velho debate ético. Com a técnica, teoricamente em breve será possível criar bebês com características físicas de nosso interesse, ou até modificar pessoas já adultas. Daí para um gigantesco fortalecimento do racismo e para o retorno das terríveis ideias nazistas de uma raça pura é um pulo, não é mesmo?
Um abraço e até a próxima!
 

Edição: Joana Tavares