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Preço da passagem aumentou e o salário mínimo fixou abaixo do previsto. E agora?

Juliane Furno, economista e colunista do Brasil de Fato responde a pergunta do ouvinte no quadro Fala Aí

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Tarifa de ônibus passou para $4,30 nesta segunda-feira, (7), enquanto o salário mínimo fixou em R$ 998 para 2019.
Tarifa de ônibus passou para $4,30 nesta segunda-feira, (7), enquanto o salário mínimo fixou em R$ 998 para 2019. - Dênio Simões/Agência Brasília
Juliane Furno, economista e colunista do Brasil de Fato responde a pergunta do ouvinte no quadro Fala Aí

O aumento da passagem de ônibus em SP foi reajustada nesta segunda-feira (7), acima da inflação, e subiu de R$ 4,00 para R$ 4,30. Já o aumento da tarifa para o Metrô e CPTM será aplicado no domingo (13), com o mesmo valor.

Em paralelo ao reajuste da passagem do transporte público, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fixou o salário mínimo em R$ 998. O valor ficou menor do que o pressuposto constatado no orçamento da União, que seria RS$ 1.006.

As medidas aplicadas de forma mútua geraram dúvida no estudante Victor Lima, de 23 anos, que pergunta como vai ficar a situação do povo com o aumento para R$ 4,30 no transporte público e o reajuste do salário mínimo abaixo do previsto?

Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico, formadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT), militante do Levante Popular da Juventude e colunista no Brasil de Fato, responde:

“O salário mínimo foi reajustado com o que a gente chama de ganho real zero. Ele repõe o crescimento econômico do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos atrás, que foi o crescimento nulo, então não tem impacto nenhum, mais a inflação de 2017 e 2018”, afirma.

“O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que mede o índice de preço ao consumidor de 2018, não foi fechado ainda. O Bolsonaro assinou o aumento do salário mínimo com base numa projeção do que vai ser o INPC de 2018, diferentemente da projeção que o Congresso Nacional tinha feito, de 4,5%. Essa estratégia lembra muito o que aconteceu durante a ditadura militar brasileira, com a "Fórmula de Delfim". Os salários eram reajustados levando em consideração 50% da inflação passada, que as pessoas já conheciam, mais 50% da inflação futura definida pelo governo. Por exemplo: se a inflação do ano anterior havia sido de 80%, o trabalhador ganhava o aumento de 40%, mais a inflação futura que o governo dizia ser de 10%, por exemplo. Assim, o trabalhador ganhava 45% de aumento, enquanto a inflação futura era muito maior. Isso fazia os salários dos trabalhadores crescerem menos do que a inflação e serem arrochados todos os anos”, explica.

“O transporte público em São Paulo teve um aumento de $4,00 para $4,30, que é de 7,5%, com uma inflação de 3% ou 4%. É praticamente o dobro. O que isso significa: enquanto o salário é reajustado com ganho zero, só repondo a inflação, um dos principais custos do brasileiro, que é o gasto com transporte, cresce muito acima da inflação e isso caracteriza uma perda do poder de compra".

Edição: Guilherme Henrique