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Opinião

O preconceito é um direito ou só uma ignorância mesmo?

Não é o direito constitucional da liberdade de expressão, mas o desejo de reafirmar a suposta superioridade de seu corpo

14.jan.2019 às 18h46
Updated On 01.fev.2020 às 18h46
Curitiba (PR)
Daniel Medeiros
Cena do filme "Terra em Transe" em que Glauber Rocha faz alegoria política sobre o Brasil pós o golpe de Estado que derrubou João Goulart

Cena do filme "Terra em Transe" em que Glauber Rocha faz alegoria política sobre o Brasil pós o golpe de Estado que derrubou João Goulart - Luís Carlos Barreto

A luta histórica por liberdade e democracia criou na sociedade contemporânea alguns impasses que exigem reflexão. Por exemplo: a vontade da maioria é sempre democrática? Ou: as opiniões são ou não sempre equivalentes? Ou ainda: expressar aquilo que eu penso é ou não um direito meu?

Há mais perguntas, mas quero me fixar particularmente na questão da expressão de minha opinião sobre os outros e nas atitudes que tomo em decorrência disso. Se, por exemplo, eu não gosto de pessoas carecas e evito contratar na minha empresa pessoas com essa característica, estou errado ao agir assim? E se eu acho que as pessoas gordas são gordas porque não se esforçam o suficiente, não posso manifestar essa opinião? E se acho que as evidências científicas não são suficientes para me convencer, preciso aceitar que na escola o meu filho tenha de estudar essas coisas e não outras? E se eu acho que os nordestinos têm uma tendência natural para a preguiça, onde está o erro de eu expressar esse pensamento? Não deveria ser direito de cada um dizer o que pensa, afinal, não aprendemos desde pequenos que “mentir é feio”? Por que dizer a verdade seria algo politicamente inadequado? Se eu penso assim e se eu sou um cidadão que pago meus impostos, não é certo que eu exerça meus direitos? E a liberdade de expressão não é um desses direitos? Não está escrito na Constituição?

É muito provável que você conheça alguém que pense assim. A questão é: como convencer essa pessoa que liberdade de expressão não implica poder expressar-se contra a dignidade dos outros? Como convencer essa pessoa que, ser sincero, não implica expressar ideias sem qualquer base ou mesmo racionalidade? E que humilhar, ameaçar ou ferir os outros não é uma possibilidade em uma sociedade justa e democrática?

Há raízes profundas nesses equívocos. A principal é a confusão entre pensamento privado e espaço público. Nada impede que uma pessoa pense o que quiser, por mais preconceituoso que isso seja.

Mas a existência do espaço público depende de um processo de contenção coletivo. Essa contenção pode ser expressa pelo adágio popular: “seu direito acaba quando começa o do outro”. Ou seja: o meu direito de esticar o braço termina onde começa o nariz das outras pessoas.

A ideia de uma liberdade como ausência de obstáculos, embora teoricamente justificável, encontra seus limites na própria e inevitável convivência com os outros. E o espaço público é necessariamente o espaço dessa convivência. Daí historicamente termos presenciado a criação e o aperfeiçoamento das regras de civilidade. Chama-se de “civilizada” uma sociedade que segue de maneira cotidiana essas regras, como uma cultura, um modo de vida.

A fila, por exemplo. A fila reproduz, em miniatura, todos os elementos do sistema democrático: a paciência, o mérito, a frustração. Democracia é um jogo de paciência, em que você espera a sua vez e respeita quem está na sua frente e quem está atrás de você. O primeiro da fila é o primeiro a ser atendido. Erico Verissimo , em “A volta do gato preto”, falando de sua experiência nos Estados Unidos lá pelos anos de 1950, afirma: “Essas filas são exemplos vivos da democracia norte-americana. Se o soldado chega antes do cabo, o cabo antes do sargento e o sargento antes do capitão, não há nenhuma lei capaz de alterar essa ordem”.

O antropólogo Roberto da Matta diz, refletindo sobre o comportamento do brasileiro diante da fila que "nosso problema não é propriamente com a desigualdade, mas com a igualdade. Temos alergia à igualdade. Não temos paciência para fila. Esperar numa fila é sintoma de inferioridade”.

Não parece se tratar, portanto, de exercer o direito constitucional da liberdade de expressão, mas o desejo de se livrar das amarras da civilidade e reafirmar a suposta superioridade de seu corpo, sua cor, sua origem, sua atitude, suas ideias, diante dos outros que, diferentes, atrapalham seu modo de ver o mundo, sua noção de execução das coisas, seu modelo de sociedade e de como ela deveria estar organizada. Com ele sempre no início da fila, obviamente. Assim, vivemos o dilema brasileiro de termos estruturado uma democracia de leis, mas sem civilidade.

Muito já foi feito, é necessário destacar. Há 30 anos, por exemplo, o presidente Sarney sancionou a lei que torna o racismo crime. Em 2010, o então presidente Lula sancionou o Estatuto da Igualdade Racial, cujo objetivo, entre outras medidas, é combater a discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Tudo isso, no entanto, não é suficiente para sensibilizar o cidadão preconceituoso, que acha que se não gostar de negro, de gordo, de careca, de nordestino, de baixinho, de pobre, de LGBTs, do que for, é direito dele não só expressar o que pensa, mas de agir como achar mais conveniente porque o mundo dele seria melhor se fosse como seu espelho e não como uma paisagem plural e colorida.

Não será apenas a lei e a ação dos agentes públicos que poderão garantir a manutenção e expansão da civitas. É preciso preparar as futuras gerações para um mundo mais democrático e, portanto, mais tolerante e respeitoso. Essa é a tarefa mais urgente e isso que torna claro o teor dos ataques que os profissionais de ensino, os pesquisadores, os artistas, as mídias, sofrem atualmente. O cidadão preconceituoso percebe a fonte do risco e age contra ela. Se os filhos aprendem na escola como devem agir em um espaço público, poderão corrigir os pais e isso o cidadão preconceituoso acha inadmissível. E o respeito pelos mais velhos? E a obediência aos pais, como é que fica? Por isso é preciso incentivar o ensino em casa e proibir os professores de falar sobre pluraridade, respeito pela igualdade e liberdade individual.

A luta histórica por liberdade e democracia criou na sociedade contemporânea alguns impasses que exigem reflexão. O desafio maior aqui se encontra: é preciso cuidar dos mais jovens contra a ignorância dos mais velhos, contra o preconceito dos mais velhos, contra a tradição de hierarquia, submissão e violência dos mais velhos. Só assim poderemos ter, no futuro, uma sociedade na qual o empenho da lei e a vontade das pessoas possam caminhar lado a lado, no esforço comum da construção de um espaço público democrático e mais fraterno.

Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR, consultor de Conteúdos de Humanidades e parceiro do Instituto Aurora.

Editado por: Laís Melo
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