Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • TV BdF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • I
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Opinião
  • DOC BDF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

Ensino

Artigo | Desafios das universidades públicas brasileiras: gestão ou política?

Universidades públicas representam um espaço vital de resistência ao obscurantismo político-cultural e ao neoliberalismo

24.jan.2019 às 18h50
São Paulo (SP)
Murilo Gaspardo
Solução para a crise financeira da UNESP e outras universidades públicas encontra-se na ampliação do aporte de recursos públicos

Solução para a crise financeira da UNESP e outras universidades públicas encontra-se na ampliação do aporte de recursos públicos - Divulgação

A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) atravessa uma profunda crise financeira, a qual se manifesta na ausência de reposição dos quadros de docentes e servidores técnico-administrativos que se aposentaram nos últimos anos, na defasagem salarial, na escassez de recursos para permanência estudantil e custeio das atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como para investimentos. Acrescenta-se, neste momento, o não pagamento do 13º salário dos servidores estatutários ativos e aposentados.

Além dos efeitos da crise econômica sobre a arrecadação de ICMS – principal fonte de recursos da universidade, há 3 causas específicas reconhecidas por todos: (1) as despesas do orçamento da UNESP com a “insuficiência financeira”, ou seja, “o valor resultante da diferença entre o valor total da folha de pagamento dos benefícios previdenciários e o valor total das contribuições previdenciárias dos servidores…” (Lei Estadual 1010/2007, Art. 27); (2) a expansão da universidade com a abertura de novos cursos e unidades – por decisão própria, mas cedendo a pressões políticas externas e sem considerar adequadamente os impactos futuros; e (3) os custos da permanência estudantil, que deveriam ter sido assumidos pela administração direta do Estado de São Paulo, mas não foram.

Apesar de todas essas dificuldades, a UNESP e as demais universidades públicas são as principais responsáveis pela formação de profissionais altamente qualificados e por quase toda a produção científica brasileira. Isso não significa que a universidade não precise de reformas de gestão para empregar de forma mais eficiente seus recursos, as quais, inclusive, encontram-se em debate. Todavia, esta crise e as alternativas para enfrentá-las têm natureza fundamentalmente política, de maneira que só pode ser compreendida considerando-se a dinâmica da mundialização financeira e os contextos políticos nacional e global. 

Após um tempo de significativos progressos políticos e socioeconômicos, tendo como marco inicial a criação da Organização das Nações Unidas e a Declaração Universal de Direitos Humanos, o mundo vive um momento de grandes incertezas e retrocessos nas últimas duas décadas, com aprofundamento a partir da crise econômico-financeira de 2008. Na esfera política, avançam o autoritarismo, o nacionalismo, a xenofobia, em um processo de implicações recíprocas com impasses na governança global (Held, 2017). No campo econômico-social, somos desafiados pelas transformações tecnológicas, pelo desemprego estrutural e pelo crescimento da desigualdade. Economistas como Stiglitz (2015) e Piketty (2014) demonstram que está em curso um processo de aprofundamento da desigualdade entre os indivíduos ricos e pobres, seja no interior de cada país, ou entre diferentes países. Com a mundialização financeira, fase atual do processo de dominação capitalista, nos deparamos com a formação de uma elite transnacional de rentistas que submete a democracia a seus interesses – o que repercute no âmbito das universidades públicas.

A desigualdade é uma função da disputa de forças e de sentidos travada entre os diferentes atores e classes sociais ao longo da história. Diante da estagnação econômica, do crescimento da inflação e da crise fiscal global dos anos 1970, assim como no Brasil contemporâneo, a opção política foi o neoliberalismo: privatizações, reduções de serviços públicos prestados diretamente pelo Estado, liberalização econômica e desregulamentação do mercado de trabalho, dos mercados financeiros e dos fluxos de capitais. Uma escolha especialmente importante é a forma de financiar as despesas do Estado e seus déficits fiscais: a tributação ou o endividamento público. A primeira, feita adequadamente, constitui o meio mais justo e eficaz. Já a segunda opção promove a transferência de renda do trabalho e da produção para o rentismo – sendo esta a dominante no Brasil.

Embora a gestão seja relevante, a crise financeira da UNESP não pode ser reduzida a ela. Ocorreram erros no processo de expansão de cursos e unidades, mas havia e há uma demanda por mais vagas no ensino superior público. A permanência estudantil tem um custo, mas é uma questão de justiça social. Pesquisa e ensino superior de qualidade necessariamente custam caro e demandam grandes investimentos. Portanto, o montante do investimento público nas universidades e sua origem são questões políticas, e hoje a importância disponibilizada é incompatível com suas dimensões e funções.

Parte significativa da mídia e do campo político hegemônico no Brasil e no estado de São Paulo construíram um discurso falacioso que apresenta as universidades públicas como elitistas e muito onerosas, o qual não considera seriamente seus resultados em termos de ensino e pesquisa (inclusive quando comparados com supostamente melhor geridas instituições privadas) e o perfil social de seus alunos – particularmente após a adoção da política de ações afirmativas nos vestibulares. Fomenta-se a divisão entre uma suposta elite de servidores e estudantes das universidades públicas e as camadas mais pobres da população, afastando do debate a verdadeira e escandalosa desigualdade existente na sociedade brasileira: para usar a expressão de Stiglitz e do movimento Occupy Wall Street, aquela entre os “99%” (dos quais ambos fazem parte) e o 1% (ou mais precisamente 0,1%) – que constitui a verdadeira elite econômica que drena o resultado do trabalho do restante da sociedade. Da mesma forma, a contraposição entre investimento em educação básica ou superior é uma falsa questão: se o Brasil investe pouco em educação básica não é porque investe muito em educação superior, mas porque apresenta uma estrutura tributária injusta e transfere renda do trabalho e da produção para o rentismo por meio dos altíssimos juros da dívida pública.

Das referidas análises derivam projetos de privatização das universidades, fim ou restrição da gratuidade no ensino superior, radicalização do arrocho salarial e piora das condições de trabalho de seus docentes e servidores técnico-administrativos, precarização do ensino, da pesquisa e da extensão – com a concentração de investimentos apenas naquilo que interessa ao “mercado”. Tais propostas são incompatíveis com os direitos humanos, a justiça social e o desenvolvimento nacional, valores fundantes do Estado brasileiro nos termos da Constituição de 1988. 

Assim, mais do que as necessárias reformas de gestão, a solução para a crise financeira da UNESP e outras universidades públicas encontra-se na ampliação do aporte de recursos públicos (oriundos de uma tributação e de um orçamento mais justos) correspondente às exigências da expansão do ensino superior, da inclusão social, da formação de profissionais qualificados e da produção de ciência de ponta – sem os quais o Brasil tenderá a ser um país cada vez mais dependente da produção de commodities, subalterno na economia global, desigual e submetido aos interesses das elites financeiras nacional e global.

Mas os desafios contemporâneos das universidades públicas brasileiras não se limitam à questão financeira, atingem a essência de sua função. As escolhas metodológicas e de programas de ensino para responder às transformações tecnológicas, econômicas e culturais, bem como às demandas dos estudantes, assim como as estratégias de fomento à pesquisa e à extensão, os critérios de avaliação da qualidade da produção científica etc. também não apresentam natureza estritamente técnica – abrangem questões radicalmente políticas: em sua raiz estão os conflitos pela distribuição das riquezas da sociedade e pela hegemonia ideológica – podem apresentar tanto um caráter emancipatório como de produção e reprodução da lógica de dominação posta pela mundialização financeira. O próprio conhecimento não é neutro. Como ressalta Boaventura de Sousa Santos (2011), depende da posição (geográfica, social, política) em que o sujeito se encontra. Além disso, há um ataque do campo político dominante à própria liberdade de produção e partilha de conhecimento crítico e plural, pois as universidades públicas representam um espaço vital de resistência ao obscurantismo político-cultural e ao neoliberalismo econômico.

Em suma, mais do que de gestão, os desafios das universidades públicas são essencialmente políticos, em um quadro de forças extremamente adverso. Além de enfrentá-los, cabe à comunidade acadêmica cumprir um relevante papel na produção do conhecimento e no fomento do debate racional, em diálogo com outras formas de saber e outros espaços de produção do conhecimento além dos estritamente universitários.

*Diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP, Campus de Franca – SP, e Doutor em Direito do Estado pela USP. 
Contato: [email protected]. 

Editado por: Mauro Ramos
Tags: universidade pública
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja assinar*
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

Despejo zero

Milhares vão às ruas em ato unificado pela suspensão do despejo de meio milhão de pessoas em SP

RITO PROCESSUAL

Bolsonaro será preso? Jurista ajuda a entender os próximos passos da ação penal do golpe no STF

Articulação

Em Caracas, Partidos Comunista da China e Socialista da Venezuela reforçam compromisso com integração

Segurança Pública

Tarifa na segurança pública do Paraná é privatização de direitos fundamentais

DIÁLOGO

Lula visita Mariana (MG) para celebrar avanços da repactuação do Rio Doce, nesta quinta (12) 

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.