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"Árida": conheça a história do jogo que narra a saga de uma menina no sertão da Bahia

Plataforma conta a trajetória de Cícera, que aos 15 anos luta contra a fome e a seca para chegar a Canudos

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Jogo é ambientado no século XIX e capítulos narram busca por Canudos, no sertão brasileiro
Jogo é ambientado no século XIX e capítulos narram busca por Canudos, no sertão brasileiro - Reprodução | Youtube
Plataforma conta a trajetória de Cícera, que aos 15 anos luta contra a fome e a seca para chegar a Canudos

O ato de jogar videogame está costumeiramente associado a diversão e ao entretenimento, sem grandes responsabilidades sociais.

Mas o que dizer de um jogo que mistura história do Brasil, diversidade racial e discussão de gênero? Essa é a proposta do jogo Árida, feito pela Aoca Game Lab, formada por jovens nascidos na Bahia e que vivem em Salvador.

A proposta da plataforma está situada na experiência de Cícera, uma adolescente de 15 anos que vive com o avô, um ex-vaqueiro, no sertão nordestino.

Dividido em 4 capítulos, o jogo mostra a saga da personagem durante o século XIX, pré Canudos, movimento histórico de resistência social liderado por Antônio Conselheiro, entre 1896 e 1897, no interior da Bahia.

As aventuras de Cícera, explica Filipe Pereira, desenvolvedor do jogo, acontecem em um ambiente de seca e fome, semelhantes ao mundo real. “A gente tem esse parâmetro da fome e da sede no jogo, que está ligado a realidade do sertão. À medida que você vai evoluindo na plataforma, conhecendo os personagens, fortalece-se a imagem de um lugar onde a seca não ousa bater, e esse lugar é Canudos. A narrativa do jogo se desenvolve a partir desse contexto da seca e a criação da utopia da cidade de Canudos”, explica.

Para além do jogo, Filipe Pereira afirma que a diversidade encontrada em Árida também é vista na equipe de trabalho.

O time, aliás, está situado no projeto Comunidades Virtuais, localizado na Universidade Federal da Bahia e com foco no desenvolvimento de jogos envolvendo educação. “Para fazer jogos diversos, eu preciso de uma equipe diversa. Para nós é importante ter um time com mulheres participando e uma maioria de negros”, explica.

Nascido em Salvador, assim como a maioria dos integrantes da equipe, Filipe afirma que foi ao sertão para conversar com a população da região para entender como é viver naquele ambiente.

Auxiliado por pesquisadores e estudiosos da história nacional, ele ressalta que estar no local onde o jogo seria retratado foi fundamental para dar mais veracidade aos cenários descritos em Árida.

“Ir lá foi uma experiência significativa e indispensável para poder desenhar melhor a experiência do jogo. Não só na perspectiva gráfica ou visual. Quando fomos lá, validamos e excluímos muitas coisas que estávamos fazendo. O principal de estar lá foi o contato humano com os moradores da região”, enaltece Filipe.

Previsto para ser lançado até março e exclusivamente para computador,  Árida tem o papel de quebrar paradigmais na indústria que desenvolve jogos de vídeogame, na avaliação de Filipe Pereira.

Além de sair do eixo Rio-São paulo, ele ressalta que a temática nordestina e sertaneja, com uma mulher no papel de protagonista, contrapõe personagens quase sempre brancos e homens. “Ao mesmo tempo que nós temos interesse de trabalhar com essa temática, nós olhamos para o nosso mercado e vemos que há essa carência. São vícios que a nossa indústria tem: personagens sempre brancos, masculinos. Essa carência temática pode se tornar, inclusive, uma oportunidade de mercado”, completa Filipe

A expectativa da Aoca Game Lab é disponibilizar o jogo Árida para consoles famosos, como Playstation e Xbox, em um futuro próximo.

Edição: Júlia Rohden