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Viva São Sepé!

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Fragmento do Memorial da Epopeia Riograndense em Porto Alegre (RS), obra de Danúbio Gonçalves
Fragmento do Memorial da Epopeia Riograndense em Porto Alegre (RS), obra de Danúbio Gonçalves - Eugenio Hansen | OFS
Sepé Tiaraju empresta o nome para muitos assentamentos do MST e locais públicos

Dia 7 de fevereiro de 1756, caiu em combate o líder guarani Sepé Tiaraju, que nos inspira e protege até hoje. Ele enfrentou apenas com arco, flecha, e seu direito os exércitos da Espanha e Portugal juntos, com seus canhões e a benção do Vaticano. Perderam seu território milhares de guaranis mortos e a maioria da população teve então que fugir para o outro lado do rio Uruguai, o que é agora a província de Misiones na Argentina e o Paraguai, cuja população até hoje é majoritariamente guarani e seu idioma, nacional. 

Poderiam ter construído uma bela República dos Guaranis, se não fosse a sanha perversa do capital mercantil europeu, naquele imenso território sob seu domínio em que controlavam as três principais bacias hidrográficas do Cono Sur: Rio Paraguai, Rio Paraná e Rio Uruguai, as três denominações dadas por eles. E que ia de Montevideo até o que é hoje a cidade de Valle Grande, no nordeste da Bolívia, onde por sinal caiu o Che. E ainda habitada por descendentes de guaranis.

Eles já praticavam voto secreto, direto, de todas mulheres e homens acima de 16 anos. Sepé Tiaraju foi eleito cacique e líder assim. As mulheres brasileiras só foram conquistar o direito ao voto na constituinte imposta por Getúlio em 1934.

Com a derrota guarani nasce o latifúndio gaúcho, distribuído primeiramente entre os oficiais invasores vencedores, que demarcaram para si imensas fazendas de gado. Contra o qual estamos lutando até hoje.

Os guaranis nos deixaram um legado cultural imenso. Do seu idioma recolhemos palavras. Da sua culinária, aprendemos a fazer churrasco. Eles eram muito carnívoros, em função do habitat pampeano, com poucas frutas e verduras.

Foram eles que trouxeram a batata e o milho dos povos andinos e fizeram ampla distribuição por aqui, utilizando inclusive na forma de um mingau cozido, que os nossos avós italianos chamam de polenta e acham que foram eles que inventaram (risos). Nosso mate amargo, que era frio, como até hoje se sorve o tererê no Paraguai.

Nosso lendário Sepé Tiaraju falava três idiomas: guarani, espanhol e português. Cristão, se imortalizou como São Sepé. Agora, nome de um município e uma lenda popular. Com o Papado de Francisco iniciou-se o processo de sua canonização através da Diocese de Bagé, a quem pertence a paróquia de São Gabriel, local de sua morte.

Aprendi sua história ainda no ensino fundamental, quando o governo Brizola (1958-62) universalizou a escola primária, com a construção das “brizoletas” em todas as comunidades rurais, como eram apelidadas pelo povo, pois tinham a mesma arquitetura de material. E ele colocou a história de Sepé e sua figura em todos os cadernos distribuídos para a piazada.

No MST ele é nosso protetor, e nos empresta o nome para muitos assentamentos e locais públicos. Mas temos ainda uma grande dívida histórica do povo gaúcho, seus herdeiros, com os remanescentes Guaranis, que vagueiam por nossos estradas, sem terra e sem destino. Haverá algum dia um governo popular, que lhes garanta de novo uma vida com terra e dignidade!

Viva São Sepé!

Aos nossos jovens, recomendo que busquem ler e comprar o livro "República dos Guaranis", de Clovis Lugon, da editora Expressão Popular.

Edição: Mauro Ramos