Na câmara

Bancada BBB se reconfigura e pode ampliar influência nos próximos quatro anos

Conservadores da "bala, boi e Bíblia" convergem em pautas entre si e com o Poder Executivo Federal

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) assinou na terça-feira (5), documento de adesão à bancada ruralista
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) assinou na terça-feira (5), documento de adesão à bancada ruralista - Valter Campanato / Agência Brasil

A nova legislatura na Câmara dos Deputados iniciada em 2019 teve 52,24% dos nomes renovados. Por trás do número geral, houve mudanças na configuração das bancadas temáticas, conforme aponta a “Radiografia do Novo Congresso”, elaborada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Apesar da quantidade de deputados novos, a Casa deve manter uma postura qualitativamente similar à passada ou ainda mais conservadora.

A chamada bancada BBB – “boi, bala e Bíblia”, coalizão de representantes do agronegócio, da linha dura na segurança pública e do fundamentalismo cristão – passou por uma reconfiguração numérica em seu interior. Entre 2014 e 2018, os ruralistas eram 109 deputados. A partir de 2019, serão 77. Em movimento inverso, cresceram os evangélicos e os defensores da indústria armamentista. Os primeiros passaram de 75 para 85, ao passo que a bancada da bala passou de 35 para 61 deputados. Computados juntos, foram de 219 para 223.

Marcos Verlaine, analista político do Diap, interpreta tais mudanças a partir da tônica das eleições de 2018. Para ele, discursos pautados em um suposto endurecimento no combate à criminalidade tiveram grande apelo na disputa, por conta da projeção do tema da segurança pública inclusive na eleição presidencial. 

“Na eleição de 2018, predominou um debate mais conservador sobre os problemas estruturais brasileiros. Por exemplo, o problema da violência, que tem interface com outras questões. Prevaleceu a ótica da bancada da bala, na lógica de que a solução desses problemas passa pela opção de o brasileiro ter acesso ao porte de armas”, afirma. 

A propalada renovação da Câmara, nesse sentido, é relativizada por Verlainer, que vê “uma troca nos nomes, mas não nas ideias” representadas na Casa. 

Influência

Por outro lado, a queda do número de ruralistas no Congresso não significará uma perda de influência política. Por dois motivos. O primeiro é a própria aliança com os outros dois “B’s”. Uma maior repressão a movimentos populares rurais, lembra Verlainer, é pauta comum, e como essa há outras, entre os ruralistas e a bancada bala. 

O segundo elemento é a própria convergência inédita entre o Planalto e a plataforma ruralista. Paulo César Moreira, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), lembra que os últimos anos no Brasil foram marcados por um incremento da violência no campo, e considera que ela pode aumentar ainda mais, na contramão da diminuição numérica da bancada. 

“De certa forma, [a influência] aumenta até por conta do papel que tiveram na eleição [de Bolsonaro]. Isso é um agravante. A grande preocupação nossa, das entidades e movimentos sociais, é que esse cenário [de violência] se legitime de forma ainda mais cruel”, diz. 

Verlainer concorda e aponta que a pauta relativa à reforma agrária, assim, pode retroceder ainda mais. A influência dos ruralistas na política, bem como a aliança entre as bancadas, é verificável na composição ministerial de Bolsonaro. Tereza Cristina, deputada ruralista, manteve a tradição da bancada de indicar o nome para o Ministério da Agricultura. Onyx Lorenzoni, da mesma bancada, ocupa a Casa Civil, tendo um histórico marcado justamente por votar a favor tanto do agronegócio como pela adesão às propostas do grupo da bala. 

Edição: Mauro Ramos