Rio de Janeiro

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Guarda Portuária tranca, sem mandado judicial, anexo do Armazém da Utopia, no Rio

Companhia Ensaio Aberto e Docas terão vinte dias para negociar uso do espaço arrendado pela Pier Mauá

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O Armazém da Utopia é o local em que a Companhia Ensaio Aberto desenvolve atividades socioculturais, com eventos e espetáculos, desde 2010
O Armazém da Utopia é o local em que a Companhia Ensaio Aberto desenvolve atividades socioculturais, com eventos e espetáculos, desde 2010 - Reprodução

A Companhia Ensaio Aberto denunciou na manhã desta sexta-feira (15) a ação da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) e da Guarda Portuária trancaram o Armazém da Utopia, local de trabalho do grupo. A equipe da companhia de cultura foi surpreendida logo cedo pelos agentes, que colocaram um cadeado nos portões do local.

“Em ato de força, sem apresentar mandado, ordem judicial, ou qualquer documento, Docas do Rio coloca um cadeado no Armazém da Utopia, impedindo a Companhia Ensaio Aberto de trabalhar. Todo o material do grupo está no espaço”, denunciou Tuca Morais, atriz e uma das fundadoras do grupo ao lado do diretor Luiz Lobo. 

Ao longo do dia, artistas da Ensaio Aberto convocaram pelas redes sociais que apoiadores do grupo fossem à área portuária em solidariedade. A companhia de teatro é famosa por seus espetáculos e posicionamentos progressistas e foi criada em 1992, funcionando no Armazém da Utopia a partir de 2010. Eles tinham estreia do espetáculo "Luz nas Trevas" marcado para o dia 22 deste mês, mas adiaram por tempo indeterminado devido à situação. 

ENTENDA O CASO

O espaço que é conhecido por Armazém da Utopia consiste em dois imóveis, o Armazém 6, cedido pela Prefeitura em acordo definitivo com o grupo de teatro, e os Anexos 5 e 6, garantido por um documento provisório em um acordo que estava sendo firmado entre a Companhia Docas e a Secretaria de Esporte, antigo Ministério dos Esportes que atualmente está dentro do Ministério de Infraestrutura. Segundo Luiz Lobo, o governo, em 2018, negociou ao mesmo tempo o imóvel com a Pier Mauá, empresa que administra o Terminal Internacional de Cruzeiros do Porto do Rio de Janeiro. 

"O correto seria eles terem vindo com um mandado, um pedido de reintegração de posse, algo assim. Essa ação foi uma tentativa de nos desocupar de forma truculenta, sem diálogo. E queremos entender o que aconteceu, as Docas tem que ser responsabilizadas legalmente, criminalmente por isso", declarou Lobo. 

Em nota a CDRJ explicou que a Companhia Ensaio Aberto teria direito de uso apenas do Armazém 6 do Porto do Rio de Janeiro e que a ação da Guarda Portuária teve como objetivo desocupar os anexos 5 e 6 para que eles sejam entregues à Píer Mauá que teria o direito de uso da área desde 2018 quando fez um acordo com o então Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (atual Ministério da Infraestrutura). Por isso, segundo a nota, é a Píer Mauá quem teria o direito de uso da área que abrange o Armazém 5 e os anexos 5 e 6. Não foi mencionado na nota se a Guarda Portuária e a CDRJ teriam mandado para a ação.

A CDRJ e a Companhia Espaço Aberto estão em processo de acordo para que as partes tentem resolver a questão junto à empresa arrendatária Pier Mauá nos próximos dias 20 dias. Até lá, segundo Lobo, a Companhia poderá utilizar o Armazém normalmente. 

 

Edição: Vivian Virissimo