Minas Gerais

Balanço

“É um modelo que ignora questões essenciais para o povo”

Secretário Geral da CUT-MG avalia os primeiros 40 dias do governo Zema em Minas Gerais

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Jairo Nogueira: "É um pacote que não deu certo na década de 90 e que agora está sendo implantado de novo"
Jairo Nogueira: "É um pacote que não deu certo na década de 90 e que agora está sendo implantado de novo" - Mídia NINJA

Desde que assumiu o governo, Romeu Zema (Partido Novo) já foi alvo de inúmeras polêmicas que colocaram em xeque sua capacidade de administrar o estado, como por exemplo, as desonerações que geraram um sucateamento de diversos órgãos públicos, o parcelamento do 13° dos servidores, a ameaça constante de privatização das estatais do estado e mais recentemente o fim da Escola Pública de Saúde. Para avaliar os primeiros 40 dias de governo da gestão e quais os reflexos que estas medidas trazem para os trabalhadores e para a população de Minas Gerais, nós entrevistamos o Secretário Geral da Central Única dos Trabalhadores - CUT-MG, Jairo Nogueira.

Brasil de Fato - Já nos primeiros dias de governo, Zema adotou medidas que interferem diretamente na situação dos trabalhadores no estado, especialmente dos servidores. A CUT conseguiu realizar um balanço desses primeiros dias do governo estadual?

Jairo Nogueira - Nós ainda não conseguimos dialogar com esse governo, porque ele só dialoga por rede social. O que a gente sabe é o que sai na imprensa. Além de não falar com os sindicatos, ele também não dialogou com o funcionalismo, mantém o parcelamento dos salários e adotou esta medida absurda que é o parcelamento também do 13° dos servidores. Fez muita promessa de ser o novo, mas na prática, o que nós estamos vendo é que de novo não tem nada, até porque a própria composição do governo é baseada no que foi a gestão de Aécio Neves e Anastasia em Minas Gerais. O que a gente sente é que ele não tem plano de governo. Ele não está discutindo a questão da fome em Minas Gerais, que voltou a assombrar o estado. Ele não está discutindo o desemprego, que se mantém mesmo após a reforma trabalhista, que foi aprovada sob promessa de que geraria mais empregos, o que não aconteceu. É um modelo de governo que coloca uma cortina de fumaça sob o estado e ignora questões essenciais para o povo, como a questão das barragens e da mineração em Minas Gerais.

Um dos principais debates encampados por Zema é a questão orçamentária do estado, como a proposta apontada pelo governo pode afetar a população e os trabalhadores?

A forma como está proposta a renegociação da dívida do estado, colocada primeiramente por Temer e agora pelo Bolsonaro, é algo muito prejudicial para a população. O único estado que aceitou essa renegociação foi o Rio de Janeiro e a gente vê que isso não adiantou nada para a população, muito pelo contrário, o povo continua sofrendo, o Rio está um caos, não teve nenhum benefício. Porque essa solução que é colocada, de venda das concessionárias de saneamento e energia, não resolve a crise econômica dos estados além de ser um grande prejuízo. Nós mineiros, mais do que todos, sabemos muito bem o que a privatização traz para a população. Estamos vendo de novo um crime cometido no estado por uma empresa privatizada. A Cemig e a Copasa são essenciais para a população. Além da perda da renda para o estado ainda tem questões como o fim dos concursos públicos, o que é um absurdo, nesse cenário de alto índice de desemprego. É um pacote que não deu certo na década de 90 e que agora está sendo implantado de novo. Então, isso vai trazer um grande prejuízo para a população, porque quem presta serviço para o povo são os servidores públicos e as estatais.

No próximo dia 27, o Supremo Tribunal Federal deve avaliar a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIN que autoriza os governadores a rebaixar o salário dos servidores, o que hoje é proibido por lei. Zema foi um dos governadores que foi diretamente ao STF para pressionar a aprovação da ação no Supremo. Como a CUT avalia esse posicionamento do governador?

É uma continuidade ao ataque contra os servidores; contra o bombeiro que está lá em Brumadinho, contra a professora que dá aula para o seu filho, contra a enfermeira que nos atende no hospital, contra esses trabalhadores. Quando o Zema fala em reduzir o salário dos servidores ele está falando é dessas pessoas. São trabalhadores que já estão recebendo pouco, com salários parcelados e que mesmo assim continuam atendendo à população de Minas Gerais. Ele deveria estar discutindo era outro processo, como listar as empresas que devem o estado e que não pagam suas dívidas - questões do ramo que ele veio. Ou discutir o imposto sobre a mineração e a Lei Kandir, que é um dos grandes problemas de arrecadação do estado. O Zema tenta colocar uma cortina de fumaça em que o servidor é o culpado da crise aqui no estado, e nós sabemos que isso não é verdade.

O governador tem declarado repetidas vezes sua intenção de vender as estatais do estado e privatizar também os serviços ofertados para a população. Como essa proposta afetará os mineiros?

O Zema vem construindo, desde a sua campanha eleitoral, essa demonização do setor público e dos servidores. Nós precisamos é de mais serviços públicos e não menos. Precisamos de mais postos de saúde, mais bombeiros, mais escolas, etc. E quem faz isso não são as empresas, é o Estado. A privatização é um risco muito grande para nós mais pobres, porque quando o setor privado entra nessas instituições ele quer saber é onde vai dar lucro. Ele não vai colocar um posto de saúde em Ribeirão das Neves, que é onde precisa, ele vai colocar é onde dá lucro. O Zema coloca a privatização como se fosse a solução para tudo, mas se acontecer a venda da Cemig e da Copasa, vai ser um crime do Zema contra Minas Gerais. São patrimônios do povo, construídos com dinheiro dos mineiros e que agora estão ameaçadas de ser entregues para o setor privado. Além disso, a privatização coloca a população em risco.  Nós estamos vendo a situação da Vale, que é uma empresa privada, o que está fazendo com o nosso estado. O setor privado é isso, eles entram onde está dando lucro - em setores estratégicos como a energia, mineração, petróleo - não tem a menor responsabilidade com a sociedade, depois vão embora e deixam para a população só o prejuízo. As pessoas não têm ideia do que é uma barragem que gera energia elétrica, é um volume enorme de água, se alguma delas se romper destrói estados inteiros. E o setor privado não está preocupado com isso, como já vimos, está preocupado é em ter lucro.

Quais ações a Central Única dos Trabalhadores tem adotado para resistir a essas medidas?

Nós estamos fazendo conversas nas regiões do estado, além de debates com os trabalhadores, para que a população entenda o que está acontecendo e os riscos que estão correndo.  Agora no dia 20 vamos realizar um ato contra a reforma da previdência, que um grande ataque contra o povo. A proposta em debate é ainda pior do que a que foi feita por Temer e está sendo apoiada pelo Zema. Estamos participando da construção do 8 de março, que é o Dia Internacional de Luta das Mulheres e também estamos fazendo debates com os blocos de carnaval sobre o cenário atual. A gente precisa reagir agora porque senão, depois vai ser difícil reverter as perdas.

Edição: Elis Almeida