Minas Gerais

Folia e meio ambiente

Carnaval ativo: blocos ensaiam e revitalizam áreas verdes de BH

Mutirões de limpeza e plantio já passaram por cinco terrenos da região Oeste

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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"As pessoas que vieram no bloco saíram transformadas, mas os lugares onde teve ensaio também foram transformados”, relata participante
"As pessoas que vieram no bloco saíram transformadas, mas os lugares onde teve ensaio também foram transformados”, relata participante - Reprodução

Blocos de carnaval de Belo Horizonte decidiram usar a alegria para um objetivo ambiental. Há um ano, o Grande Bloco do Encontro faz seus ensaios em terrenos abandonados, reservas, parques e praças com o objetivo de chamar a atenção para preservá-los. Respeito e revitalização são os mantras desses foliões.

O Grande Bloco age nos bairros da Região Oeste, que é uma das regiões de BH com menor número de área verde por habitante. Por exemplo, há uma semana eles foram até o bairro Betânia e escolheram ensaiar no terreno abandonado da Associação Cristã de Moços (ACM), onde há 16 anos funcionava um clube e hoje tem entulho e focos de dengue.

O coordenador do Bloco Arrasta Bloco de Favela, Thiago Tàs̩ẹ (lê-se Taxé), conta que eles já revigoraram espaços que antes eram lixões e biqueiras – local de venda de drogas. “Esse grupo chama atenção da comunidade para valorizar a área e difundir outros trabalhos. Cultura, música, gastronomia, até mesmo a revitalização para a morada de animais”, descreve. O Grande Bloco desenvolve atualmente um plantio de bambus e outras mudas, que recebe através de doações.

Thiago, que é morador da Vila Antena no Morro das Pedras, lembra que as áreas verdes têm uma importância ativa para os aglomerados. “Para ter uma área que a gente possa respirar. Parece simplório, mas não é. Nos aglomerados os barracos são praticamente um em cima dos outros e a sensação de sufocamento é muito grande. É preciso uma área onde a gente possa respirar, se sentir um pouco mais livres”, reflete.

Envolvimento é riqueza

O trabalho de mutirão é um dos tesouros do Grande Bloco, afirma Rômulo Dinn, articulador do Movimento Agroecológico de Transformação Urbana (MATU). Esse é o método de trabalho para as faxinas, as pinturas e a construção das hortas onde o bloco ensaia, e é usado como forma de transformação.

“É aquela coisa: quando você entra em um rio você muda e o rio também muda. As pessoas que vieram no bloco saíram transformadas, mas os lugares onde teve ensaio também foram transformados”, diz Rômulo. Os foliões estimulam o bairro a cuidar dos espaços, mas também reivindicam que o poder público aja para dar proteção social e ambiental aos terrenos.

O Grande Bloco já ensaiou na Reserva do MATU, no Nova Granada; no Largo Ecológico da Vila Antena, no Morro das Pedras; no terreno da antiga ACM, no Betânia; no Parque Jardim América e no Salgado Filho.

Por que “Bloco do Encontro”?

Em 2018, seis blocos de carnaval se uniram para anunciar o Encontro Nacional de Agroecologia (ENA). Um encontro de pessoas de todo o Brasil para debater uma agricultura sem veneno e que respeite os trabalhadores. Desde então, o Grande Bloco do Encontro continuou existindo. É formado pelo Arrasta Bloco de Favela, da comunidade Morro das Pedras, Bloco Betânia Custosa, do bairro Betânia, Bloco Parque Jardim América, Bloco Unidos do Oeste e Bloco Paixão Junina, do bairro Salgado Filho, e MATU (Movimento Agroecológico de Transformação Urbana), do bairro Nova Granada.

Edição: Elis Almeida