Economia

Pesquisa mostra que a vida dos trabalhadores informais piorou desde o golpe de 2016

Fundação Perseu Abramo traçou perfil dos brasileiros sem carteira assinada nas periferias do país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Ambulante na região do Terminal Santo Amaro, em São Paulo (SP)
Ambulante na região do Terminal Santo Amaro, em São Paulo (SP) - Bruna Caetano

Trabalhadores informais reconhecem piora nas condições de vida a partir do governo Temer (MDB) e a maioria não almeja emprego com CLT, aponta pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo (FPA) em oito estados do Brasil.

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O estudo foi realizado no segundo semestre de 2018 para traçar um “perfil socioeconômico atual do trabalhador informal da periferia e sua evolução nos últimos 16 anos”. Ao todo, foram 31 entrevistas com manicures, motoboys, costureiras, vendedores ambulantes, trabalhadoras domésticas e da construção civil.

Manicures e domésticas, especialmente, lembraram que durante os governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) foi possível colocar os filhos na universidade e financiar a casa própria, através de programas como o ProUni e o Minha Casa, Minha Vida. Ao mesmo tempo, ambulantes e mototáxis viram a concorrência aumentar e a renda cair com o prolongamento da crise econômica e o aumento do desemprego pós-governo Temer.

Organização dos trabalhadores

A pesquisa trabalhou com a hipótese de que os trabalhadores informais tinham formas de organização “pouco reconhecidas”. O resultado mostra que algumas categorias, como a das manicures e trabalhadoras domésticas, realmente tem maior dificuldade de se organizar por conta da dispersão espacial de seu trabalho, o que não se aplica a motoboys e ambulantes, por exemplo.

Supervisora da pesquisa, Ludmilla Costhek explica como funciona a luta coletiva dos trabalhadores, nesse caso. “Existe consciência e busca por organização, mas, na condição de informal, se organizar é muito mais complexo. Um motoboy informal, quando faz greve, não faz greve pelo dia de trabalho. Mas quando não faz greve, ele ganha mais, porque tem menos motoboys trabalhando”, analisa. 

Costhek cursa pós-doutorado no Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e acrescenta que estes trabalhadores e trabalhadoras transitam entre a formalidade e a informalidade -- muitas vezes mantendo atividades simultâneas com e sem carteira assinada. 

Ao mesmo tempo, a maioria deles não manifesta desejo de buscar emprego fixo com carteira assinada. A razão apontada é simples e está relacionada à troca de governo: embora direitos como FGTS e 13º salário serem vistos com bons olhos, na opinião dos entrevistados os empregos CLT já não garantem condições tão boas quanto antes. Assim, segundo eles próprios, restam apenas a pressão excessiva e a necessidade de acatar ordens.

Costhek ressalta que a opção pelo emprego informal não é resultado do desprezo pelos direitos da CLT: “Não é que os trabalhadores não gostariam de ter acesso a férias, descanso remunerado e aposentadoria”, esclarece. “Com a qualificação que têm e com as oportunidades que são oferecidas no mercado, eles sabem que provavelmente empregos formais ofereceriam menor remuneração, então optam por correr mais riscos [no mercado informal]”.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque