DESCASO

Moradores do bairro Santa Cruz, em Santa Rita (PB), denunciam falta de infraestrutura

Ruas esburacadas, falta de saneamento básico, escola e iluminação são alguns dos problemas enfrentados pela população

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Esgoto passa na porta dos moradores de Santa Cruz.
Esgoto passa na porta dos moradores de Santa Cruz. - Claudionor

O bairro Santa Cruz, localizado em Santa Rita, município da Região Metropolitana de João Pessoa, convive, há décadas, com problemas sociais e estruturais que se agravam com o passar dos anos. O bairro é um eixo de ligação entre o Centro, parte nobre e mais bem estruturada da cidade, e o Alto das Populares, parte mais populosa. Localizado na periferia do município, numa região de superfície irregular, com terrenos acidentados e ruas íngremes, o bairro Santa Cruz recebeu esse nome batizado por Frei Damião, em razão de um monumento em cruz localizado numa parte alta da comunidade.

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Predominantemente residencial e de camada popular, o bairro apresenta uma infraestrutura deficiente: ruas esburacadas, falta de saneamento básico, cursos de rio poluídos, falta de planejamento ambiental e do arranjo espacial. Além disso, apresenta também ineficiência no tocante à iluminação pública, apresentando ruas muito escuras, prejudicando a vida social noturna, provocando a reclusão das pessoas em suas casas, em detrimento de uma melhor interação e um convívio em comunidade.

Transtorno marca quem vive em Santa Cruz. Foto: Claudionor.

Ainda no campo social, o bairro não dispõe de escola local, não há bibliotecas, praças para interação, centro comercial, nem espaço poliesportivo e o único Posto de Saúde da Família disponível no bairro, não consegue suprir a demanda, devido a constante falta de médicos e medicamentos. Verifica-se a total ausência de algum equipamento urbano público que vise à qualidade de vida da comunidade, que sobrevive com a ausência de investimentos do poder local em educação, cultura, emprego e lazer. Diante dessa realidade, a população do bairro convive com o alto índice de violência que assola o lugar, diante da negligência e inércia dos poderes públicos.

Moradores vivem sem saneamento sanitário. / Foto: Claudionor.

No final da década de 1990 e na primeira década do ano 2000, em razão de muitos dos crimes de violência terem se concentrado numa área próxima a um clube de futebol (o 11 Futebol Clube, que já não existe mais) o bairro Santa Cruz passou a ser chamado, pejorativamente, de “Onze”, uma referência discriminatória da parte pelo todo. "É como dizem: onde não há educação de qualidade e de lazer, a violência vira espetáculo”, diz um morador local. E, com um olhar ainda de esperança por uma efetiva mudança, emenda: “Talvez o bairro Santa Cruz esteja apenas cumprindo o seu papel de periferia”.

O bairro já foi conhecido pejorativamente como "Onze". / Foto: Danielson Lima.

Santa Rita: entre a violência de hoje e o coronelismo do passado

De acordo com o Atlas da Violência 2018, que apresenta os dados sobra a violência no Brasil, baseado no estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Santa Rita registrou uma taxa de 75 homicídios por grupo de 100 mil habitantes e foi apontada como a 26ª cidade do Brasil com maior taxa de homicídio da lista entre 309 cidades com mais de 100 mil habitantes. Na Paraíba, Santa Rita apareceu como a cidade mais violenta, ficando à frente de João Pessoa (44,9/100 mil), Campina Grande (36,8/100mil) e Patos (25,2/100mil). No bairro de Santa Cruz, rotineiramente, jovens se matam, e a população convive com a violência. A cada dia, morre também a esperança de que o bairro se torne um lugar melhor para viver.

O município de Santa Rita-PB é um reflexo, de todas as mazelas e suas implicações no campo social pelo qual vive o país. A cidade reúne as condições necessárias para melhorar as condições de vida de quem mora nela: grande território, vastos bens e recursos naturais, forte agricultura, um significativo parque industrial, parte do aeroporto, riqueza histórico-cultural e é umas das maiores economias do estado. Entretanto, quando o assunto é política, os resultados são desastrosos: denúncias de práticas de nepotismo, gestões com fortes indícios de desvio de dinheiro público e, nos últimos anos, uma verdadeira situação de calamidade pública se instalou no local. Com uma história ligada ao coronelismo rural e às velhas práticas políticas, dos votos em troca de favores individuais, a corrupção parece ter sido institucionalizada e profundamente enraizada. Com tudo isso, a população é quem sofre.

Edição: Heloisa de Sousa